São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 2006

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COPA 2006

Como Teixeira, dirigentes colecionam problemas rumo à Alemanha

Apego ao poder e escândalo regem cartolas do Mundial

DA REPORTAGEM LOCAL

Trânsito frenético por tribunais e escritórios de advocacia, apego ao poder, oposição frágil e décadas de cartola. Não é só o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que cabe como uma luva no figurino padrão de dono da bola.
O grosso das seleções que irão disputar a Copa do Mundo da Alemanha é comandado por dirigentes com perfil parecido, e engana-se quem imagina que isso é coisa de Terceiro Mundo. A Europa está repleta de eternos presidentes, muitos acusados de envolvimento em escândalos.
Angel Villar, por exemplo, comanda a Real Federação Espanhola desde 1988. Sua gestão está sendo investigada pela Justiça do país. No ano passado, foi intimado para explicar o suposto "uso incorreto de fundos da instituição", que deve dirigir até 2008.
Duas décadas, barreira que já foi quebrada, e faz tempo, pelo argentino Julio Grondona, no cargo desde 1979, quando seu país ainda não havia tentado retomar as Malvinas e Diego Maradona dava apenas os primeiros passos na carreira de jogador profissional.
Eterno aliado de Teixeira, Grondona continua na presidência apesar de ter dito, em sua última reeleição, que estava "cansado depois de tantos anos trabalhando pelo futebol". Reeleição, aliás, que parece regra no futebol. Cartolas de todo o planeta chegam ou permanecem no poder com pleitos de maioria absoluta, dignos do Iraque de Saddam Hussein.
Os atuais mandatários do futebol francês e italiano foram conduzidos ao cargo recebendo mais de 90% dos votos. Na Inglaterra, Geoff Thompson, à frente da tradicional Football Association desde 1999, foi candidato único na última eleição e, como Villar, ficará até 2008 -o espanhol teve rivais, mas só entrou no páreo após polêmica renúncia relâmpago, um drible no estatuto da federação.
Coisa pior aconteceu na africana Angola. A última reeleição de Justino Fernandes, que também é assessor do presidente José Eduardo dos Santos, foi acusado pelos oposicionistas de ter recebido US$ 500 mil das ricas empresas petrolíferas do país para comprar votos entre os eleitores locais.
Em qualquer continente, a lista de problemas com a Justiça é farta e variada. O presidente da federação da Costa Rica, Hermes Navarro, foi condenado nos EUA por difamação e o não-pagamento de dívidas. No México, Alberto de la Torre chegou a ser preso por sonegação fiscal de US$ 1 milhão.
Mas ninguém, entre os cartolas que comandam as federações que estarão na Alemanha, tem currículo tão enrolado como Grigoriy Surkis. Sem nunca ter jogado bola profissionalmente, é tratado como o "pai do futebol" da Ucrânia.
Antes de tomar conta da federação local, foi presidente do Dínamo de Kiev, clube mais popular do país, de sua propriedade -na verdade, apenas uma fração de seu vasto império pessoal, que vai de comunicações a energia.
Por meio do Dínamo, Surkis se envolveu na última eleição presidencial ucraniana, que teve até tentativa de envenenamento.
O cartola apoiava o grupo do ex-presidente Leonid Kuchma, ligado à Rússia. Por "caridade", segundo Surkis, o clube doou US$ 1,1 milhão para o político, em negócio que não teria seguido as normas fiscais da Ucrânia.
Mesmo com um novo governo e a uma série de investigações, Surkis segue forte na presidência da sua federação. (PAULO COBOS)


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