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COPA 2006
Como Teixeira, dirigentes colecionam problemas rumo à Alemanha
Apego ao poder e escândalo regem cartolas do Mundial
DA REPORTAGEM LOCAL
Trânsito frenético por tribunais
e escritórios de advocacia, apego
ao poder, oposição frágil e décadas de cartola. Não é só o presidente da CBF, Ricardo Teixeira,
que cabe como uma luva no figurino padrão de dono da bola.
O grosso das seleções que irão
disputar a Copa do Mundo da
Alemanha é comandado por dirigentes com perfil parecido, e engana-se quem imagina que isso é
coisa de Terceiro Mundo. A Europa está repleta de eternos presidentes, muitos acusados de envolvimento em escândalos.
Angel Villar, por exemplo, comanda a Real Federação Espanhola desde 1988. Sua gestão está
sendo investigada pela Justiça do
país. No ano passado, foi intimado para explicar o suposto "uso
incorreto de fundos da instituição", que deve dirigir até 2008.
Duas décadas, barreira que já
foi quebrada, e faz tempo, pelo argentino Julio Grondona, no cargo
desde 1979, quando seu país ainda
não havia tentado retomar as
Malvinas e Diego Maradona dava
apenas os primeiros passos na
carreira de jogador profissional.
Eterno aliado de Teixeira, Grondona continua na presidência
apesar de ter dito, em sua última
reeleição, que estava "cansado depois de tantos anos trabalhando
pelo futebol". Reeleição, aliás, que
parece regra no futebol. Cartolas
de todo o planeta chegam ou permanecem no poder com pleitos
de maioria absoluta, dignos do
Iraque de Saddam Hussein.
Os atuais mandatários do futebol francês e italiano foram conduzidos ao cargo recebendo mais
de 90% dos votos. Na Inglaterra,
Geoff Thompson, à frente da tradicional Football Association desde 1999, foi candidato único na última eleição e, como Villar, ficará
até 2008 -o espanhol teve rivais,
mas só entrou no páreo após polêmica renúncia relâmpago, um
drible no estatuto da federação.
Coisa pior aconteceu na africana Angola. A última reeleição de
Justino Fernandes, que também é
assessor do presidente José
Eduardo dos Santos, foi acusado
pelos oposicionistas de ter recebido US$ 500 mil das ricas empresas
petrolíferas do país para comprar
votos entre os eleitores locais.
Em qualquer continente, a lista
de problemas com a Justiça é farta
e variada. O presidente da federação da Costa Rica, Hermes Navarro, foi condenado nos EUA por
difamação e o não-pagamento de
dívidas. No México, Alberto de la
Torre chegou a ser preso por sonegação fiscal de US$ 1 milhão.
Mas ninguém, entre os cartolas
que comandam as federações que
estarão na Alemanha, tem currículo tão enrolado como Grigoriy
Surkis. Sem nunca ter jogado bola
profissionalmente, é tratado como o "pai do futebol" da Ucrânia.
Antes de tomar conta da federação local, foi presidente do Dínamo de Kiev, clube mais popular
do país, de sua propriedade -na
verdade, apenas uma fração de
seu vasto império pessoal, que vai
de comunicações a energia.
Por meio do Dínamo, Surkis se
envolveu na última eleição presidencial ucraniana, que teve até
tentativa de envenenamento.
O cartola apoiava o grupo do
ex-presidente Leonid Kuchma, ligado à Rússia. Por "caridade", segundo Surkis, o clube doou US$
1,1 milhão para o político, em negócio que não teria seguido as
normas fiscais da Ucrânia.
Mesmo com um novo governo
e a uma série de investigações,
Surkis segue forte na presidência
da sua federação.
(PAULO COBOS)
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