São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 2006

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SURFE

Adriano de Souza, 19, projetado para vencer, tenta repetir passos de campeão

Brasil lapida prodígio para criar versão de Kelly Slater

Eduardo Moody/ASP
Mineirinho pega onda no WQS da Costa do Sauípe, em 2005


MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Pinga ouviu a dica de um professor de surfe. Havia um garoto muito bom no canto do Maluf, no Guarujá. O empresário foi atrás.
Sentou-se na areia e logo apareceu um mirrado menino: "Você é o Pinga? Vamos surfar?".
A coragem para encarar as ondas e a desenvoltura em cima da prancha impressionaram. Principalmente porque o garoto de apenas nove anos nem sabia nadar.
Começava ali a carreira do mais precoce surfista do país, que acaba de ganhar vaga na elite mundial. Pinga é Luiz Henrique Sabóia, empresário de surfwear.
O garoto, hoje com 19 anos, é Adriano de Souza, o Mineirinho. Da parceria entre eles foi construído projeto ambicioso: criar um "Kelly Slater brasileiro". A comparação é inevitável. O americano conquistou o primeiro de seus sete Mundiais com 20 anos e o mesmo estilo agressivo. É o campeão mais jovem da história.
Mineirinho já obteve feito semelhante, mas na segunda divisão. No ano passado, ele se sagrou o mais novo surfista a vencer o WQS e carimbar o passaporte para o circuito mundial (WCT), que começa amanhã, na Austrália.
"Esse era o meu grande objetivo, mas não imaginava que viria tão rápido", afirma o atleta.
E não era mesmo para ser tão cedo. Não pelos planos traçados.
A carreira de Mineirinho foi planejada para que ele cumprisse etapas de desenvolvimento. Mas ele queimou praticamente todas.
Aos 11 anos, conquistou o primeiro troféu em um torneio em Santos. Como prêmio, fez sua primeira viagem para o Havaí.
Em 2002, ainda amador, tornou-se o mais jovem a vencer um campeonato do Circuito Brasileiro Profissional e chegar à elite.
O título lhe deu impulso para se profissionalizar aos 15 anos e conseguir comprar casa para a família no Guarujá, perto da praia.
No ano seguinte, fez história novamente no Mundial sub-21. Ergueu a taça com apenas 16 anos.
"Isso era para acontecer uns dois anos depois. Mas com ele sempre foi assim", afirma Pinga.
Foi por causa desse "hábito" do pupilo que o empresário não pestanejou em deixá-lo longe dos estudos neste ano. Já que a vaga na elite chegou (deveria conseguir o posto só em 2007), Mineirinho irá aproveitá-la, como poucos.
Fato raríssimo entre brasileiros, ele irá se dedicar só ao WCT. Geralmente, os atletas correm o WQS para ter mais chances de não cair. Recompensa merecida para o garoto que, aos 9, ganhou a primeira missão: aprender a nadar. "Ele não ia pro fundo porque tinha medo", diz o empresário.
A segunda foi freqüentar a escola. E não sair dela por nada, a não ser por uma vaga no WCT. Mineirinho ganhou apoio e, quando precisava, estudava e fazia provas à distância. "Sou um aluno normal, não sou nenhum gênio. Tenho meus amigos, saio como qualquer um. Só sei que tenho de me controlar, ter limite", afirma ele, que precisa de mais um ano para terminar o segundo grau.
O surfista foi incluído em uma estrutura que conta com psicólogo, nutricionista, treinador, preparador físico e muitas viagens.
O Brasil tem ondas pequenas, com fundo de areia, semelhante ao cenário em que Kelly Slater cresceu. No WCT, há muitas ondas grandes, com corais.
"Toda essa estrutura me deixou pensar só em surfar. As viagens foram muito importantes. Quando você vai para Teahupoo [Tahiti], para o Havaí, é que vê como as coisas são. Se não aprender, vai ser só mais um lutando para não cair. Quero é ser campeão."


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