São Paulo, quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

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JUCA KFOURI

Júlio César, o número 1


O goleiro da Inter de Milão e da seleção brasileira atinge o auge da carreira e vira uma agradável garantia

CABEÇA QUENTE jamais foi uma qualidade, principalmente para goleiros, de quem se exige frieza, o absoluto domínio de suas emoções.
Gylmar dos Santos Neves, meu modelo de goleiro, era exatamente isso. Frio e elegante, incapaz de um gesto parasita e tão seguro de si que, quando falhava, espanava o ombro como se estivesse tirando pó e dizia aos companheiros: "Vão pro jogo que aqui não entra mais nada".
Gylmar era tão bom que é o único goleiro bicampeão mundial de seleções e de clubes.
Minha desconfiança em relação aos goleiros de cabeça quente, que hoje tem em Fábio Costa o melhor exemplo, chegou a tal ponto que eu temia por Marcos, na Copa de 2002. Temi, diga-se, na mesma proporção em que, depois, passei a considerá- -lo o melhor goleiro daquela Copa. Mas temi.
Jamais neguei as qualidades técnicas de Júlio César. Mas sempre desconfiei de seu desequilíbrio emocional. Bem sei que todo goleiro deve ter alguma coisa de maluco, mas sempre preferi os malucos calmos, como Dida, por exemplo.
Pois Júlio César vem calando a boca deste crítico, só para usar uma expressão que Dunga gosta de usar e que também serve para ele, pois foi quem fez do goleiro da Inter o titular da seleção.
Fato é que Júlio César, em vias de completar 30 anos, atingiu a maturidade, não tem feito mais as lambanças que marcaram sua carreira em diversos momentos e virou um paredão. Quase intransponível.
Ou intransponível mesmo, como anteontem, em Milão, puderam comprovar os atacantes do Manchester United.
Depois de ter brilhado na seleção campeã da Copa América de 2004 e ido apenas como terceiro goleiro à Copa de 2006, Júlio César está pronto para ser o número 1 na África do Sul, entre outras coisas também porque é capaz de jogar com os pés com a mesma habilidade de Rogério Ceni, embora sem bater faltas como o goleiro tricolor. Mas o que não falta na seleção são batedores de faltas.
E se Júlio César é mesmo o cara certo para o gol brasileiro, Doni está longe de ser o seu reserva ideal, registro que deve ser feito só para que Dunga não fique muito cheio de si.

Saudosismo
Todo Carnaval é a mesma coisa: o que mais se ouve é gente dizendo que Carnaval bom era o de antigamente. Igualzinho ao que acontece com o futebol, pois não.
Pois já disse aqui que, se Pelé e Mané foram únicos, nem por isso deixo de me divertir com os Ronaldos e com Kaká, por exemplo. Porque a nostalgia é muito mais dos tempos da juventude de cada um do que propriamente disso ou daquilo daqueles tempos.
Mesmo que, no caso deste ancião, a juventude tenha se passado em plena ditadura, com direito a conhecer a terrível Oban, na rua Tutóia, experiência que ensina não haver gradação ("ditabranda"!?) quando o regime é de terror, seja de direita ou de esquerda.
A saudade dos velhos Carnavais, do inocente lança-perfume que perdeu sua inocência, do sangue de diabo, quem se lembra?, é a mesma que sinto de Rivellino e Tostão. Mas que Keirrison compensa.

blogdojuca@uol.com.br


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