São Paulo, domingo, 26 de abril de 2009

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PAULO VINICIUS COELHO

O título que conta


Quem não é pró unificação das taças nacionais, como eu, não reduz a importância de cada página da história

DESDE O tricampeonato paulista de 1969, o Santos não coloca três taças em sua galeria num período de quatro anos.
Campeão em 2006 e 2007, o título deste ano terá valor histórico, mas a presidência se ocupou de outros troféus nesta semana. Marcelo Teixeira carregou nas homenagens ao ex- -presidente da Fifa João Havelange, que visitou as empresas de sua família -o Santos e a universidade.
As homenagens representam a parte política do plano traçado para unificar os títulos nacionais, desde a Taça Brasil. "É possível que Ricardo Teixeira leve em consideração o apoio de Havelange, mas ele ainda não me disse nada a esse respeito", diz o diretor do departamento técnico da CBF, Virgílio Elísio.
Nos últimos 40 dias, os debates se acaloraram com esse assunto. Os favoráveis à unificação, que faria do Santos o maior vencedor dos Campeonatos Brasileiros, argumentam que não é possível dizer que o futebol começou em 1971.
Ninguém nunca disse isso, e as listas de campeões começam em 1902, com os Estaduais. Segue com os torneios interestaduais, o Brasileiro de seleções, e cada etapa histórica está nos livros. Importante desfazer a confusão. Quem não é a favor da unificação, como eu, não reduz a importância de cada página da história.
Sou contra a unificação, principalmente da forma como se dá, em que prevalece a política. Troca-se uma homenagem por uma assinatura.
Mas sou a favor do debate e até de a CBF criar uma comissão de notáveis para tratar o assunto. Sempre com a lembrança de que qualquer debate terá três correntes, todas respeitáveis: 1) unificar os títulos desde 1959, incluindo Taça Brasil e Robertão; 2) unificar a Taça Brasil com a Copa do Brasil e unir o Robertão -entre 1967 e 1970- com o Brasileirão; 3) seguir publicando as listas de campeões separadamente, como se faz há 38 anos. Ao adotar a terceira posição, não se menospreza os títulos obtidos no passado. Só se dá a eles o nome que tinham. Para quem conhece a história, não faz diferença dizer que o Santos tem cinco Taças Brasil, um Robertão e dois Brasileiros. Para quem não a conhece, dizer que tem oito Brasileiros só carrega o valor da provocação ao rival.
O dossiê formulado pelo jornalista Odir Cunha traz um capítulo com o título "Taça Brasil x Copa do Brasil, uma comparação sem sentido". O mesmo capítulo detalha o nascimento do torneio, em 1959, e conta que a ideia era "a criação da Taça Brasil, nos mesmos moldes que a Taça da Inglaterra". Os campeões da Taça da Inglaterra, a Copa da Inglaterra, não compõem a mesma lista dos campeões ingleses.
A única pergunta a que Havelange não respondeu, na visita ao Santos, foi: "Por que, quando o senhor era presidente da CBD, criou o Campeonato Nacional, em 1971, e não fez dele só uma reforma da Taça Brasil e do Robertão?". Os jornais de 4 de fevereiro de 1971 anunciam "a criação do Campeonato Nacional", não "a mudança". A revista "Placar" dá o título "ATÉ QUE ENFIM O CAMPEONATO NACIONAL - MAS TEM QUE MELHORAR". Torcedor do Bahia, clube interessado, Virgílio Elísio não revela sua posição, mas faz um sábio pronunciamento: "A unificação, se houver, não pode se dar por interesses clubísticos".

pvc@uol.com.br


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