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Mano usa truques e conquista torcedores
Sereno, treinador gaúcho bate recorde de permanência no Parque São Jorge
Técnico costuma tentar ludibriar adversários com treinos "fictícios" e responde às provocações de rivais sem demonstrar sua irritação
DA REPORTAGEM LOCAL
Véspera do primeiro clássico
do ano. O Corinthians ainda vive sob a desconfiança de um time recém-surgido da Série B.
Ronaldo é só uma esperança,
ainda fora do elenco. O oponente é o São Paulo, atual tricampeão nacional, e a dúvida é
se Chicão encara o arquirrival.
O zagueiro, que passou aquela semana fora dos campos com
uma contusão e ainda não tinha
condição de jogo, participa do
"rachão". Sem muita movimentação, fica no gramado e, a
quem o questiona, diz que vai
atuar. No Morumbi, no dia seguinte, o camisa 3 não está.
O truque é mais um dos tantos que Mano Menezes já usou
para ludibriar seus adversários
e mostra uma das facetas do
técnico corintiano, que chegou
para reerguer o time depois da
queda para a segunda divisão.
Com atitudes como essa, seguidas, claro, de vitórias dentro
de campo, o técnico ganhou o
respeito do torcedor e a admiração de dirigentes do clube do
Parque São Jorge.
Sem forçar situações para
mostrar identificação com o time, Mano conquistou seu espaço no Corinthians.
Ele não é o tipo de técnico
que costuma gritar com jogadores, gesticular na beira do campo ou mesmo vociferar contra
perguntas inconvenientes.
Do tratamento com a diretoria, passando pelo convívio
com seus comandados até as
entrevistas após as partidas, seja com vitória ou com derrota,
Mano tenta manter uma serenidade que não combina com a
passionalidade de um clube de
futebol, ainda mais um como o
Corinthians, no qual o peso da
torcida se faz presente nos melhores e nos piores momentos.
Poucas são as vezes em que o
treinador dá declarações polêmicas. E, quando o faz, usa de
ironia refinada, sem palavrões,
sem ataques diretos.
Foi assim que ele celebrou a
passagem para a final do Paulista. Devolveu a provocação
pré-jogo do amigo Muricy Ramalho, que previa Palmeiras e
São Paulo na decisão estadual.
"A bola de cristal do Muricy rachou ontem e quebrou hoje",
disse Mano depois dos 2 a 0 sobre os são-paulinos, citando
também o avanço do Santos.
O treinador, no entanto, não
se mostrou ardiloso apenas no
trato com seus rivais.
Em um clube sempre poroso
à opinião de torcedores, sobretudo às cúpulas das facções organizadas, Mano sempre evitou ter seu trabalho diretamente questionado por eles. Recusou inúmeros encontros com
torcedores, prática comum em
gestões de alguns de seus antecessores no cargo.
Talvez por não encarnar o estilo mais expansivo, o comandante corintiano não esteja entre os idolatrados da torcida alvinegra. Prova disso é a frustrada campanha publicitária que a
diretoria de marketing conduziu, tendo o técnico como personagem. O slogan "sou mano
do Mano" não pegou, e as camisetas com a frase encalharam.
Nos jogos do time, é difícil
encontrar alguém usando uma,
exceção feita ao diretor de marketing, Luis Paulo Rosenberg,
idealizador da iniciativa.
Mesmo assim, Mano Menezes, que nesta tarde pode começar a levar o Corinthians a seu
primeiro título de elite após o
retorno da Série B do Brasileiro, já é o técnico mais duradouro no clube nesta década.
O gaúcho já ultrapassou Carlos Alberto Parreira, que comandou o time alvinegro por
uma temporada, em 2002. Isso,
porém, com ressalvas.
No clube, quem o critica não
o faz apenas pelos seus métodos de trabalho. Em momentos
de resultados ruins em campo,
é comum o questionamento de
conselheiros sobre a relação de
seu empresário, Carlos Leite,
com o clube.
(PAULO GALDIERI)
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