São Paulo, domingo, 26 de abril de 2009

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Mano usa truques e conquista torcedores

Sereno, treinador gaúcho bate recorde de permanência no Parque São Jorge

Técnico costuma tentar ludibriar adversários com treinos "fictícios" e responde às provocações de rivais sem demonstrar sua irritação


DA REPORTAGEM LOCAL

Véspera do primeiro clássico do ano. O Corinthians ainda vive sob a desconfiança de um time recém-surgido da Série B. Ronaldo é só uma esperança, ainda fora do elenco. O oponente é o São Paulo, atual tricampeão nacional, e a dúvida é se Chicão encara o arquirrival.
O zagueiro, que passou aquela semana fora dos campos com uma contusão e ainda não tinha condição de jogo, participa do "rachão". Sem muita movimentação, fica no gramado e, a quem o questiona, diz que vai atuar. No Morumbi, no dia seguinte, o camisa 3 não está.
O truque é mais um dos tantos que Mano Menezes já usou para ludibriar seus adversários e mostra uma das facetas do técnico corintiano, que chegou para reerguer o time depois da queda para a segunda divisão.
Com atitudes como essa, seguidas, claro, de vitórias dentro de campo, o técnico ganhou o respeito do torcedor e a admiração de dirigentes do clube do Parque São Jorge.
Sem forçar situações para mostrar identificação com o time, Mano conquistou seu espaço no Corinthians.
Ele não é o tipo de técnico que costuma gritar com jogadores, gesticular na beira do campo ou mesmo vociferar contra perguntas inconvenientes.
Do tratamento com a diretoria, passando pelo convívio com seus comandados até as entrevistas após as partidas, seja com vitória ou com derrota, Mano tenta manter uma serenidade que não combina com a passionalidade de um clube de futebol, ainda mais um como o Corinthians, no qual o peso da torcida se faz presente nos melhores e nos piores momentos.
Poucas são as vezes em que o treinador dá declarações polêmicas. E, quando o faz, usa de ironia refinada, sem palavrões, sem ataques diretos.
Foi assim que ele celebrou a passagem para a final do Paulista. Devolveu a provocação pré-jogo do amigo Muricy Ramalho, que previa Palmeiras e São Paulo na decisão estadual. "A bola de cristal do Muricy rachou ontem e quebrou hoje", disse Mano depois dos 2 a 0 sobre os são-paulinos, citando também o avanço do Santos.
O treinador, no entanto, não se mostrou ardiloso apenas no trato com seus rivais.
Em um clube sempre poroso à opinião de torcedores, sobretudo às cúpulas das facções organizadas, Mano sempre evitou ter seu trabalho diretamente questionado por eles. Recusou inúmeros encontros com torcedores, prática comum em gestões de alguns de seus antecessores no cargo.
Talvez por não encarnar o estilo mais expansivo, o comandante corintiano não esteja entre os idolatrados da torcida alvinegra. Prova disso é a frustrada campanha publicitária que a diretoria de marketing conduziu, tendo o técnico como personagem. O slogan "sou mano do Mano" não pegou, e as camisetas com a frase encalharam.
Nos jogos do time, é difícil encontrar alguém usando uma, exceção feita ao diretor de marketing, Luis Paulo Rosenberg, idealizador da iniciativa.
Mesmo assim, Mano Menezes, que nesta tarde pode começar a levar o Corinthians a seu primeiro título de elite após o retorno da Série B do Brasileiro, já é o técnico mais duradouro no clube nesta década.
O gaúcho já ultrapassou Carlos Alberto Parreira, que comandou o time alvinegro por uma temporada, em 2002. Isso, porém, com ressalvas.
No clube, quem o critica não o faz apenas pelos seus métodos de trabalho. Em momentos de resultados ruins em campo, é comum o questionamento de conselheiros sobre a relação de seu empresário, Carlos Leite, com o clube. (PAULO GALDIERI)


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