São Paulo, domingo, 26 de abril de 1998

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Cronômetro manual sobrevive na Indy

FÁBIO SEIXAS
enviado especial a Nazareth

As 200 Milhas de Nazareth, quarta etapa da temporada 98 da Indy, hoje, pode ser decidida por um simples aperto de botão.
Distante dos milhões de dólares investidos em tecnologia de carros e salários de pilotos a cada ano, o sistema de cronometragem da categoria ainda está sujeito a um "tira-teima manual", no caso de falha dos computadores.
Um deslize ou a simples desatenção de um oficial de cronometragem pode custar a um piloto uma volta ou mesmo a corrida.
Os oficiais são figuras pouco conhecidas na Indy. Chegam às pistas apenas no dia do primeiro treino classificatório, ficam isolados em uma torre de controle, e, na maioria das vezes, seu trabalho não é usado para nada.
Sua missão se resume a acompanhar um determinado carro e, a cada passagem pela linha de chegada, pressionar um botão em um dispositivo semelhante a um joystick de videogame.
Um computador recebe esse impulso e armazena a informação, para ser usada em caso de necessidade. Mas isso raramente ocorre.
Para que a Omega -empresa que desde o ano passado é responsável pela cronometragem oficial da Indy- recorra ao método manual, é necessário que tenha havido falha em um dos seus dois sistemas eletrônicos.
O primeiro se baseia em transmissores colocados nos carros, que enviam sinais a antenas instaladas ao longo da pista. Em Nazareth, são 11 antenas. O segundo trabalha com um célula fotoelétrica, que acusa a passagem de cada carro pela linha de chegada.
"Em uma pista oval como a de Nazareth, com 1 milha (1.609 m) de extensão, a velocidade com que as informações vão chegando aos computadores é absurda", disse Guy Gibbons, coordenador do projeto da Omega na Indy. "Uma falha dos sistemas é mais provável em um lugar assim do que numa pista mista, convencional."
A cronometragem entende como falha cada vez que a informação do primeiro sistema não bate com a fornecida pelo segundo.
Isso pode acontecer quando, por exemplo, um carro quebra logo após passar por uma antena, é empurrado de ré, seu motor é acionado e, ao voltar para a pista, envia sinal para a mesma antena.
Uma possibilidade teórica, que nunca ocorreu na Indy, é o comprometimento do aparelho transmissor de um ou mais carros após um acidente forte.
"O transmissor fica no cockpit, ao lado esquerdo do piloto e é muito resistente", afirma Gibbons. "Um carro que sofre uma batida violenta, a ponto de danificar o aparelho, não tem condições de continuar na corrida."
Os transmissores usados pela Omega têm o tamanho de uma fita de vídeo e pesam cerca de 300 g.
Eles são carregados durante a semana que antecede a corrida e entregues às equipes na primeira vistoria técnica, geralmente às quintas-feiras. A bateria tem autonomia para dez dias.
Em caso de pane, o computador recorreria às informações dos oficiais e buscaria imediatamente corrigir um erro na classificação.
No entanto, esse processo normalmente leva alguns segundos, levando ao desespero donos de equipes e locutores de TV, que vêem um piloto mudar repentinamente de uma posição para outra no meio da corrida.
Outro problema é que o botão de um oficial não funciona como cronômetro, já que não há precisão suficiente para isso. Sempre que uma posição é corrigida pelo sistema manual, não há o registro do tempo do piloto naquela volta.
Bancadas
Os oficiais de cronometragem normalmente ficam sentados em bancadas e não desgrudam os olhos de seus carros.
A escalação dos profissionais varia de acordo com o número de pilotos inscritos na prova.
Na última etapa, em Long Beach, eram 29. Em Nazareth, com a desistência do italiano Mimmo Schiatarella, correrão 28 pilotos, cada um sendo observado em toda a corrida por um oficial.
O trabalho em Nazareth será árduo. O tráfego na pista é considerado pelos pilotos como o mais intenso de toda a temporada.
Em Nazareth, serão 225 voltas. Caso um oficial se confunda e esqueça de pressionar o botão uma única vez, seu piloto pode perder uma volta no caso de uma conferência de dados.
O envio quase ininterrupto de dados para a cronometragem é apontado como o motivo da existência dos oficiais. Mas há também uma defasagem tecnológica.
A F-1 abriu mão, há anos, do sistema manual. No GP de San Marino, também hoje, todo o trabalho de ordenamento dos carros e dos tempos será feito eletronicamente.
A tendência é que a Indy venha a abolir o trabalho dos oficiais.
A Omega integra o grupo suíço SMH, que engloba também a Longines, empresa que fazia a cronometragem da F-1 no passado.



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