São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 2008

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Em festa, Guga exalta atuação

Jogo tem "bate-papo" com a torcida, risadas, troca de gentilezas e até um "mata-leão" no francês

Três vezes campeão em Roland Garros, brasileiro diz que teve performance além da expectativa na despedida das partidas de simples

DO ENVIADO A PARIS

Amigos chegaram a questionar se valia a pena jogar em Roland Garros pela última vez. Questionavam se ele não corria o risco de ser "atropelado".
Uma hora e 48 minutos depois de iniciar o confronto com Paul-Henri Mathieu, 19º do mundo, Gustavo Kuerten chorou, entretanto sabia que a decisão de encerrar a carreira ali havia sido correta.
Perdeu por 3 sets a 0, mas conseguiu jogar muito bem e foi saudado pela torcida, que ocupava quase a totalidade da Phillipe Chartrier, quadra central de Roland Garros.
A partida teve "bate-papo" com a torcida, risadas, troca de gentilezas entre os rivais e até um "mata-leão" no francês.
Apesar de enfrentar um tenista da casa, Guga teve muito apoio das arquibancadas.
Isso ficou claro logo na entrada dos jogadores em quadra. O brasileiro foi o mais aplaudido.
O jogo, que só foi transmitido para o Brasil por TV fechada, começou tenso. Ao ter o saque invalidado no segundo game por, segundo o árbitro de linha, ter invadido a quadra, Guga demonstrou irritação e, ao se posicionar novamente, ficou a cerca de meio metro da linha e fez sinal ao juiz perguntando se daquele jeito estava bom.
Mathieu conseguiu uma quebra e fechou a parcial em 6/3.
Apesar do desconforto físico, o brasileiro protagonizou jogadas de efeito, que arrancavam aplausos entusiasmados.
"Hoje [ontem], joguei além das minhas expectativas. Fiz de tudo um pouco, direita paralela, cruzada, esquerda, fui à rede e saquei bem", afirmou Guga.
O serviço, uma das boas armas dele no auge, foi eficiente ontem. Em vários momentos de perigo, o brasileiro se safou com um "ace" -foram nove.
No oitavo game, Mathieu tinha 4/3 e o saque quando foi surpreendido por uma esquerda na paralela e levou a quebra.
Após o nono game, o catarinense solicitou a presença do fisioterapeuta. Recebeu massagem nas costas e voltou ao jogo.
O francês aproveitou uma bola para fora de Kuerten e fechou o segundo set em 6/4.
O terceiro set foi o mais emocionante. Descontraído, Guga conversou com torcedores antes do início da parcial. Suspirava alto quando percebia que não teria pernas para chegar em algumas bolas, e alguns bons golpes seguiam saindo.
No quarto game, já com o saque quebrado uma vez, Guga corrigiu a marcação do juiz, que havia gritado bola fora de Mathieu, que fechou o game com a atitude. A torcida aplaudiu demoradamente o gesto de Guga.
Mas o ponto alto da integração entre Guga e a torcida ainda estava por vir. No intervalo após o sétimo game, a torcida ensaiou a tradicional ola, que só engrenou após algumas tentativas e vaias para quem quebrava a seqüência. Mas, quando a brincadeira funcionou e todo o estádio participava, o telão mostrava a cara de satisfação de Guga com a atitude.
O brasileiro deixou o banco e, antes de se dirigir para seu lado da quadra, foi em direção a Mathieu, que ainda estava sentado. Com a raquete, fingiu enforcar o adversário, que aceitou a brincadeira e riu.
"Tentei dar um mata-leão nele", afirmou o brasileiro.
A empolgação tomou conta da torcida no último game da carreira de Guga. As palmas eram constantes. O ex-número um do mundo ainda conseguiu salvar um match-point, mas o fim chegou numa rebatida na rede. Guga tirou a bandana, que completava o uniforme azul e amarelo (o mesmo com que venceu em 1997), e foi à rede para cumprimentar o rival.
Após acenar para o público, o brasileiro sentou, cobriu a cabeça com uma toalha e chorou.
A federação francesa preparou uma homenagem ao tenista: um troféu com as camadas de uma quadra de saibro.
Enquanto o telão mostrava cenas como a do coração que ele desenhou no terceiro título, em francês capenga (chegou a pedir ajuda ao locutor), Guga disse que Roland Garros é seu "amor", seu "coração" e agradeceu à torcida, que terminava de ver a última partida de simples da carreira do tricampeão do torneio. (FERNANDO ITOKAZU)


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