São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 2008

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análise

Sem "professor Guga", aula vai ficar chata

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Quando o catarinense Gustavo Kuerten disputou pela primeira vez o Aberto da França, há 12 anos, quase ninguém soube. Àquela época, pouca gente acompanhava tênis, só um pessoalzinho sabia do que se tratava o torneio, e pouquíssimos tinham noção do que era disputar um jogo em Roland Garros.
Na segunda participação, Kuerten surpreendeu os poucos que acompanhavam o torneio e levou Roland Garros e o tênis à vida de milhões de brasileiros que adoram esporte -qualquer um, mesmo, desde que tenhamos um atleta campeão.
Ele virou "Guga", íntimo de todos, até de quem nunca havia visto uma quadra de tênis (nem pela TV), e fez a mídia rebolar para explicar como funcionava esse esporte, até então apenas uma coisa boba de rico esnobe nos tênis clubes pelo país afora.
Por causa de Guga, o país inteiro aprendeu que o Aberto da França, disputado em Roland Garros, Paris, é um dos quatro torneios mais importantes do tênis mundial.
Por causa das façanhas de Guga, milhões de brasileiros aprenderam também que o americano Pete Sampras e o suíço Roger Federer são os melhores de todos os tempos, e que nem eles conseguiram ganhar Roland Garros. E qualquer brasileiro sabe dizer, com orgulho, o número de vezes que Guga foi campeão em Roland Garros.
O alto nível de conhecimento do tênis, por causa de Guga, chegou ao requinte de muita gente saber que pode-se chamar Roland Garros de "Rolanga" -e se não podia, agora pode, porque, afinal, quem entende mais desse torneio do que o "nosso Guga" e nós, os brasileiros?
Com o "professor Guga", aprendemos que aquele chão com cara de areia se chama "saibro" -e que, óbvio, todos estamos cansados de saber, vai ser difícil, mas muito difícil, encontrar na história tantos tenistas que jogavam tão bem como Guga no saibro.
Com o "professor Guga", o torcedor brasileiro descobriu o complexo ranking mundial de tênis e, metido que é, aprendeu a acompanhar o sobe-desce dos tenistas -no caso de Guga, só subida, até o número um.
Com o "mestre Guga", o fanático torcedor brasileiro descobriu o que é uma tal de Copa Davis. Quando teve até o gostinho de ver o Brasil disputar as finais contra os países que são as maiores potencias do tênis mundial, já sabia o que isso valia.
Sem Guga, ainda podemos aprender mais sobre tênis (sempre podemos). Agora, porém, as aulas ficarão mais chatas -e as lições serão apenas na teoria, sem nosso ídolo para ensinar e mostrar na prática como é que se faz.


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