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análise
Sem "professor Guga", aula vai ficar chata
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
Quando o catarinense
Gustavo Kuerten disputou
pela primeira vez o Aberto da
França, há 12 anos, quase
ninguém soube. Àquela época, pouca gente acompanhava tênis, só um pessoalzinho
sabia do que se tratava o torneio, e pouquíssimos tinham
noção do que era disputar
um jogo em Roland Garros.
Na segunda participação,
Kuerten surpreendeu os
poucos que acompanhavam
o torneio e levou Roland
Garros e o tênis à vida de milhões de brasileiros que adoram esporte -qualquer um,
mesmo, desde que tenhamos
um atleta campeão.
Ele virou "Guga", íntimo
de todos, até de quem nunca
havia visto uma quadra de tênis (nem pela TV), e fez a mídia rebolar para explicar como funcionava esse esporte,
até então apenas uma coisa
boba de rico esnobe nos tênis
clubes pelo país afora.
Por causa de Guga, o país
inteiro aprendeu que o Aberto da França, disputado em
Roland Garros, Paris, é um
dos quatro torneios mais importantes do tênis mundial.
Por causa das façanhas de
Guga, milhões de brasileiros
aprenderam também que o
americano Pete Sampras e o
suíço Roger Federer são os
melhores de todos os tempos, e que nem eles conseguiram ganhar Roland Garros. E
qualquer brasileiro sabe dizer, com orgulho, o número
de vezes que Guga foi campeão em Roland Garros.
O alto nível de conhecimento do tênis, por causa de
Guga, chegou ao requinte de
muita gente saber que pode-se chamar Roland Garros de
"Rolanga" -e se não podia,
agora pode, porque, afinal,
quem entende mais desse
torneio do que o "nosso Guga" e nós, os brasileiros?
Com o "professor Guga",
aprendemos que aquele chão
com cara de areia se chama
"saibro" -e que, óbvio, todos
estamos cansados de saber,
vai ser difícil, mas muito difícil, encontrar na história tantos tenistas que jogavam tão
bem como Guga no saibro.
Com o "professor Guga", o
torcedor brasileiro descobriu o complexo ranking
mundial de tênis e, metido
que é, aprendeu a acompanhar o sobe-desce dos tenistas -no caso de Guga, só subida, até o número um.
Com o "mestre Guga", o fanático torcedor brasileiro
descobriu o que é uma tal de
Copa Davis. Quando teve até
o gostinho de ver o Brasil disputar as finais contra os países que são as maiores potencias do tênis mundial, já sabia o que isso valia.
Sem Guga, ainda podemos
aprender mais sobre tênis
(sempre podemos). Agora,
porém, as aulas ficarão mais
chatas -e as lições serão
apenas na teoria, sem nosso
ídolo para ensinar e mostrar
na prática como é que se faz.
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