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"Após lesão, tive de crescer como pessoa", diz tenista
Guga afirma não ter arrependimentos na carreira e, agora, espera encontrar algo que o faça tão feliz quanto o tênis
Brasileiro acredita que não sentirá falta do esporte, pois sente ter cumprido missão, e agradece ao carinho que os franceses deram a ele
DO ENVIADO A PARIS
Gustavo Kuerten não se cansa de dizer que encerrou a carreira sem arrependimentos.
Ele já havia dito também que
a contusão no quadril foi como
terem tirado "o doce de sua boca", pois ele teria ainda mais alguns anos de carreira, e aqueles
que perdeu em tratamento seriam seu auge como tenista.
Apesar disso, Guga declarou
ontem, em entrevista coletiva,
que o período de provação deixou-lhe muitas lições.
"Para mim, foi importante viver esses anos, para crescer como pessoa e entender como lidar com essas coisas."0
(FI)
PERGUNTA - O que você pode dizer
de seus sentimentos agora?
GUSTAVO KUERTEN - Estou muito
satisfeito, especialmente pelas
memórias que virão comigo
desse jogo. Acho que joguei
muito melhor do que esperava.
Não foi apenas um golpe. Joguei forehand, backhand, saquei, dropshot e voleios. Fiz tudo que sabia que era capaz de
fazer no passado. Não na mesma freqüência, mas ao menos
tive o sentimento de fazer isso
uma vez mais. Me senti competitivo, às vezes. Se eu pudesse
esperar uma reação melhor do
meu corpo, estou certo de que
poderia jogar em alto nível.
PERGUNTA - E quando terminou o
jogo e você cobriu a cabeça com
uma toalha?
GUGA - Só estava agradecendo
por tudo que me aconteceu na
carreira. Eu sempre procuro fazer isso quando acaba um torneio. Pego um minuto para
mim mesmo e penso profundamente em tudo que aconteceu
na minha vida.
PERGUNTA - Você vai jogar duplas
com Sebastien Grosjean?
GUGA - Acho que sim. Nós
combinamos em Miami. Nós
somos bons amigos. Nós convidamos um ao outro e dissemos:
"Vamos nessa. Vamos jogar". É
legal um francês jogando aqui.
Acho que será diversão extra.
Não será a mesma expectativa
nem a mesma intensidade do
jogo de simples, mas ao menos
haverá uma diversão extra.
PERGUNTA - O que o tênis representa para sua vida? O que te deu?
GUGA - Acho que um grande
conhecimento. Em todos esses
anos estive aprendendo muito,
especialmente nesses três ou
quatro anos em que eu tive que
lidar com situações difíceis.
Então, tive que crescer como
pessoa também. Acredito que
meu mundo passou a ficar
maior por causa do tênis, do sucesso que eu tive. Minha vida se
tornou muito maior do que a de
uma pessoa normal. E por isso
acho que fui capaz de me adaptar muito bem. Tênis foi basicamente entrando na minha veia,
com meu sangue.
PERGUNTA - Você tem algum arrependimento na carreira?
GUGA - Não. Acho que tive momentos duros, mas acho que isso é parte da vida também. E o
tênis iria, cedo ou tarde, acabar
para mim. Como vai acabar para o Nadal, o Federer, o Djokovic. Na minha carreira as coisas
aconteceram de duas maneiras.
Um estágio foi de muito sucesso, e eu pude alcançar todos os
objetivos a que me propus. Já a
segunda parte foi realmente
dura. Para mim, foi importante
viver esses anos, para crescer
como pessoa e entender como
lidar com essas coisas. Não há
arrependimento, só conhecimento, como já disse, nesses
dez, 15 anos.
PERGUNTA - Quais suas melhores
lembranças aqui em Roland Garros?
GUGA - Tenho muitas. É claro
que o coração que eu desenhei.
É a mais intensa. E provavelmente hoje [ontem] será a segunda. Será algo que ficará comigo com mais freqüência.
PERGUNTA - Você é provavelmente
o primeiro atleta da história a perder
um jogo e ganhar um troféu. O que
achou disso?
GUGA - Não, quando você perde a final, você ganha um troféu
também [risos]. Foi muito
emocionante. Eu não esperava.
Eu ganhei não apenas o troféu,
mas palavras gentis do presidente [da federação francesa].
PERGUNTA - De que você acha que
mais vai sentir falta no tênis?
GUGA - Acho que dos dias antes dos torneios. O jogo em si, a
parte em que pode apreciar a
disputa de breakpoints, de set
points. Enfim, ter esses sentimentos que só o esporte pode
trazer. Mas tive a minha época.
E foi muito intenso. Não vou
ter mais isso, mas acho que não
vou sentir tanta falta. Sinto
realmente ter cumprido a missão. Talvez encontre algo que
me faça tão feliz como o tênis.
PERGUNTA - Então agora é o momento de festa?
GUGA - Não, eu sou um cara sério. No Brasil, não gostamos de
festa [risos]. É momento de dar
mais prioridade à minha vida
pessoal. Ter tempo para descansar, pensar no que fazer.
Agora terei que me adaptar. Ver
o que vai me interessar fazer no
futuro. Talvez com o tênis e
com a minha fundação eu encontre coisas boas para fazer.
PERGUNTA - Foi difícil ouvir seu discurso na quadra. Você pode repetir
as partes mais importantes?
GUGA - Eu sei que foi difícil,
porque meu francês é terrível
[risos]. Eu tentei dizer que foram muito importantes os sentimentos e o sucesso que consegui com meus três títulos
aqui. Mas mais importante é
que hoje tive um grande exemplo. O carinho com que as pessoas me tratam aqui, a maneira
com que eu consegui envolvê-las com meu jogo e comigo
mesmo. Esta é, para mim, a
maior vitória. E a outra coisa
que eu falei foi sobre o tênis,
que é parte da minha vida e é
muito intenso, como meu sangue. Eu vivo isso intensamente.
Este torneio me motiva a viver.
É como meu amor, meu coração e tudo. Foi basicamente isso que tentei dizer em francês,
mas ninguém entendeu [risos].
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