São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 2008

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"Após lesão, tive de crescer como pessoa", diz tenista

Guga afirma não ter arrependimentos na carreira e, agora, espera encontrar algo que o faça tão feliz quanto o tênis

Brasileiro acredita que não sentirá falta do esporte, pois sente ter cumprido missão, e agradece ao carinho que os franceses deram a ele

DO ENVIADO A PARIS

Gustavo Kuerten não se cansa de dizer que encerrou a carreira sem arrependimentos. Ele já havia dito também que a contusão no quadril foi como terem tirado "o doce de sua boca", pois ele teria ainda mais alguns anos de carreira, e aqueles que perdeu em tratamento seriam seu auge como tenista. Apesar disso, Guga declarou ontem, em entrevista coletiva, que o período de provação deixou-lhe muitas lições. "Para mim, foi importante viver esses anos, para crescer como pessoa e entender como lidar com essas coisas."0 (FI)

 

PERGUNTA - O que você pode dizer de seus sentimentos agora?
GUSTAVO KUERTEN -
Estou muito satisfeito, especialmente pelas memórias que virão comigo desse jogo. Acho que joguei muito melhor do que esperava. Não foi apenas um golpe. Joguei forehand, backhand, saquei, dropshot e voleios. Fiz tudo que sabia que era capaz de fazer no passado. Não na mesma freqüência, mas ao menos tive o sentimento de fazer isso uma vez mais. Me senti competitivo, às vezes. Se eu pudesse esperar uma reação melhor do meu corpo, estou certo de que poderia jogar em alto nível.

PERGUNTA - E quando terminou o jogo e você cobriu a cabeça com uma toalha?
GUGA -
Só estava agradecendo por tudo que me aconteceu na carreira. Eu sempre procuro fazer isso quando acaba um torneio. Pego um minuto para mim mesmo e penso profundamente em tudo que aconteceu na minha vida.

PERGUNTA - Você vai jogar duplas com Sebastien Grosjean?
GUGA -
Acho que sim. Nós combinamos em Miami. Nós somos bons amigos. Nós convidamos um ao outro e dissemos: "Vamos nessa. Vamos jogar". É legal um francês jogando aqui. Acho que será diversão extra. Não será a mesma expectativa nem a mesma intensidade do jogo de simples, mas ao menos haverá uma diversão extra.

PERGUNTA - O que o tênis representa para sua vida? O que te deu?
GUGA -
Acho que um grande conhecimento. Em todos esses anos estive aprendendo muito, especialmente nesses três ou quatro anos em que eu tive que lidar com situações difíceis. Então, tive que crescer como pessoa também. Acredito que meu mundo passou a ficar maior por causa do tênis, do sucesso que eu tive. Minha vida se tornou muito maior do que a de uma pessoa normal. E por isso acho que fui capaz de me adaptar muito bem. Tênis foi basicamente entrando na minha veia, com meu sangue.

PERGUNTA - Você tem algum arrependimento na carreira?
GUGA -
Não. Acho que tive momentos duros, mas acho que isso é parte da vida também. E o tênis iria, cedo ou tarde, acabar para mim. Como vai acabar para o Nadal, o Federer, o Djokovic. Na minha carreira as coisas aconteceram de duas maneiras. Um estágio foi de muito sucesso, e eu pude alcançar todos os objetivos a que me propus. Já a segunda parte foi realmente dura. Para mim, foi importante viver esses anos, para crescer como pessoa e entender como lidar com essas coisas. Não há arrependimento, só conhecimento, como já disse, nesses dez, 15 anos.

PERGUNTA - Quais suas melhores lembranças aqui em Roland Garros?
GUGA -
Tenho muitas. É claro que o coração que eu desenhei. É a mais intensa. E provavelmente hoje [ontem] será a segunda. Será algo que ficará comigo com mais freqüência.

PERGUNTA - Você é provavelmente o primeiro atleta da história a perder um jogo e ganhar um troféu. O que achou disso?
GUGA -
Não, quando você perde a final, você ganha um troféu também [risos]. Foi muito emocionante. Eu não esperava. Eu ganhei não apenas o troféu, mas palavras gentis do presidente [da federação francesa].

PERGUNTA - De que você acha que mais vai sentir falta no tênis?
GUGA -
Acho que dos dias antes dos torneios. O jogo em si, a parte em que pode apreciar a disputa de breakpoints, de set points. Enfim, ter esses sentimentos que só o esporte pode trazer. Mas tive a minha época. E foi muito intenso. Não vou ter mais isso, mas acho que não vou sentir tanta falta. Sinto realmente ter cumprido a missão. Talvez encontre algo que me faça tão feliz como o tênis.

PERGUNTA - Então agora é o momento de festa?
GUGA -
Não, eu sou um cara sério. No Brasil, não gostamos de festa [risos]. É momento de dar mais prioridade à minha vida pessoal. Ter tempo para descansar, pensar no que fazer. Agora terei que me adaptar. Ver o que vai me interessar fazer no futuro. Talvez com o tênis e com a minha fundação eu encontre coisas boas para fazer.

PERGUNTA - Foi difícil ouvir seu discurso na quadra. Você pode repetir as partes mais importantes?
GUGA -
Eu sei que foi difícil, porque meu francês é terrível [risos]. Eu tentei dizer que foram muito importantes os sentimentos e o sucesso que consegui com meus três títulos aqui. Mas mais importante é que hoje tive um grande exemplo. O carinho com que as pessoas me tratam aqui, a maneira com que eu consegui envolvê-las com meu jogo e comigo mesmo. Esta é, para mim, a maior vitória. E a outra coisa que eu falei foi sobre o tênis, que é parte da minha vida e é muito intenso, como meu sangue. Eu vivo isso intensamente. Este torneio me motiva a viver. É como meu amor, meu coração e tudo. Foi basicamente isso que tentei dizer em francês, mas ninguém entendeu [risos].


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