São Paulo, terça-feira, 26 de junho de 2001

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Mauro Silva, virtual capitão da seleção, estranha acordo CBF-AmBev

Símbolo de Scolari não "engole" cerveja

Antônio Gaudério/Folha Imagem
O volante Mauro Silva (centro), símbolo da "era Scolari", conversa com Rivaldo e com o treinador


Volante do La Coruña diz que jogadores do time precisam ser consultados sobre contrato

SÉRGIO RANGEL
ENVIADO ESPECIAL A TERESÓPOLIS

Mauro Silva protagonizou a primeira saia justa interna da era Luiz Felipe Scolari. Símbolo dos novos tempos e favorito ao posto de capitão da seleção, o volante estranhou o teor do contrato firmado pela Confederação Brasileira de Futebol e a empresa de bebidas AmBev, revelado ontem pela Folha. E anunciou que os jogadores do time terão de ser consultados sobre o cumprimento de algumas cláusulas do patrocínio.
O recado de Mauro Silva tem endereço certo: a possibilidade de logomarcas de cerveja serem utilizadas nas camisetas da seleção.
Mas também abre brechas para o questionamento do uso da imagem dos atletas pela empresa.
"Vamos ter que sentar para definir algumas cláusulas", afirmou ontem o jogador do La Coruña, vice-campeão espanhol.
O volante recusa-se a ter sua imagem associada a bebidas alcoólicas. "Não quero ser fotografado ou filmado com um copo ou uma garrafa de cerveja na mão."
Nenhuma cláusula do acordo CBF-AmBev "obriga" os atletas a consumirem bebidas da AmBev. Mas o documento reza que a entidade "envidará" esforços para garantir a presença de craques em festas e eventos da empresa de bebidas, criada com a fusão da Brahma e da Antarctica, em 1999.
O contrato proíbe, ainda, que os jogadores sejam flagrados com produtos de concorrentes.
Desde a semana passada, a cerveja está liberada na Granja Comary. No total, a AmBev espalhou 12 placas de publicidade estática com a marca da cerveja Brahma nos dois campos utilizados pelos jogadores em Teresópolis, região serrana do Rio.
Em março, ao anunciar o contrato, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, disse que não gostaria de ver a imagem da seleção ligada às bebidas alcoólicas.
Teixeira disse que não se opõe à publicidade de cerveja na seleção, mas acha que uma vinculação direta das marcas com os uniformes ainda precisa ser discutida.
Mas a AmBev se antecipou. Deixou claro no contrato que a logomarca de qualquer um dos seu produtos pode, durante os 18 anos de duração do mesmo, ser utilizada nos uniformes.
Por enquanto, as roupas usadas em treinos ostentam a logomarca do guaraná Antarctica, que a AmBev escolheu para vincular à imagem da seleção brasileira.
A parceria CBF-AmBev é uma das maiores do futebol brasileiro. Para veicular a imagem da empresa, a confederação receberá US$ 10 milhões anualmente.
O contrato CBF-Ambev poderá obrigar o técnico Luiz Felipe Scolari a liberar alguns atletas às vésperas da Copa de 2002.
Pelo acordo, a CBF terá que se esforçar para garantir a participação de ""integrantes"" da seleção na ""Festa de Despedida para a Copa", a ser organizada pela AmBev.
Mauro Silva, que deverá ser o capitão da seleção, disse que ""participar da festa é uma questão de conversar". ""Pelo menos no meu caso, eu gostaria de definir como será a minha participação", contou o jogador, que já estrelou, com outros atletas, uma campanha institucional para a Brahma na Copa de 1994.
O volante sentiu uma fisgada na coxa direita no treino de ontem e deverá passar por um exame de ultra-sonografia.
Mauro Silva deixou o treino abalado e sem dar entrevistas. Sua escalação para o jogo contra o Uruguai, domingo, em Montevidéu, está ameaçada. Em caso de corte, Vampeta e César Sampaio são os mais cotados para a vaga.


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