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FUTEBOL
Víctor Púa, técnico adversário, aprova igualdade, mas quer um "clique"
Uruguai considera bom
empatar em Montevidéu
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DO PAINEL FC
Assim como acontece com o
Brasil, o Uruguai encara a partida
de domingo, em Montevidéu, como a chance de o time começar a
deslanchar nas eliminatórias sul-americanas. Como diz o técnico
Víctor Púa, repetindo palavras do
ex-jogador Enzo Francescoli,
grande ídolo do futebol uruguaio,
""é a hora de dar um clique".
Com 18 pontos, os uruguaios
precisam vencer para dividir a
quarta colocação com o Brasil,
que está com 21, e ultrapassar a
Colômbia, que soma 19. Os três
primeiros são Argentina, Paraguai e Equador. Os quatro primeiros vão à Copa. O quinto jogará a
repescagem contra a Austrália.
Tendo assumido o Uruguai em
fevereiro, ocupando o lugar deixado pelo argentino Daniel Passarella, Púa já enfrentou a seleção
principal do Brasil, na final da Copa América de 1999. Na ocasião,
perdeu por 3 a 0 para o time de
Wanderley Luxemburgo, que
acabou com o título. Mas, como
gosta de lembrar, os uruguaios
não tinham sua força principal.
Agora, espera, a história será diferente. Mesmo com os brasileiros revigorados com a chegada de
Luiz Felipe Scolari, Púa acha que
os adversários, para vencer, terão
que fazer muito mais do que simplesmente suar a camisa.
Em entrevista à Folha, por telefone, de Punta del Este, Púa, 45,
técnico que levou o Uruguai ao vice-campeonato mundial júnior
em 1997, analisou sua equipe, o
momento do Brasil e disse o que
espera do jogo de domingo.
Folha - A seleção brasileira estréia um novo treinador justamente contra o Uruguai. Normalmente,
o simples fato de contar com uma
nova pessoa no banco dá um ânimo
extra aos jogadores. A situação fica
mais difícil para o Uruguai?
Víctor Púa - Não necessariamente. Seja com Emerson Leão, Luiz
Felipe Scolari ou Víctor Púa no
comando, o Brasil é sempre o Brasil, e jamais achamos que seria um
adversário fácil. Neste momento
o que posso dizer é que estamos
mais preocupados com o Uruguai
do que com o Brasil. Estamos nos
preparando independentemente
de os brasileiros contarem com
este ou aquele técnico no banco.
Folha - Em conversa com Pelé,
Scolari dizia que pretendia ver a seleção dando susto nos uruguaios,
atacando muito nos 15 minutos iniciais para impor respeito e, quem
sabe, marcar o primeiro gol. Vocês
esperam ver o Brasil na defesa?
Púa - Não, de jeito nenhum.
Acho que vou encontrar uma
equipe com uma marcação muito
forte, preocupada em não sofrer
gol, é claro, mas com atacantes
muito talentosos... Acredito numa partida muito igual, porque
nós também temos uma marcação forte. Vai ser um jogo duro.
Folha - Parecido com o das eliminatórias de 1993, quando o Brasil
saiu na frente em Montevidéu e depois cedeu o empate?
Púa - É possível. Aquele foi um
jogo muito igual, embora houvesse uma grande diferença. O empate, aquela vez, foi muito ruim
para o Uruguai.
Folha - Agora não será?
Púa - Eu vi pela televisão uma
afirmação de Luiz Felipe. Ele dizia
que podia vencer, empatar ou
perder. Se fosse ficar com um dos
três, ficaria com a vitória. Eu, também. Só que, se houver empate,
não será exatamente um mau resultado. Iríamos para 19 pontos e
ficaríamos em quinto lugar com a
Colômbia. Ainda faltam cinco jogos, então você vê que seguiríamos na luta. Mas indiscutivelmente a vitória seria melhor, porque poderia dar o clique de que
precisamos para deslanchar nas
eliminatórias.
Folha - O Uruguai não participou
das últimas Copas. A pressão sobre
vocês será maior?
Púa - De 33 jogadores que convoquei, 17 jogam no exterior. Experiência não falta. Se há pressão,
há experiência de sobra para suportá-la. A torcida, certamente, é
um apoio importante para o nosso lado. Aqui no Uruguai, ela grita
do começo ao fim. O Brasil vai ter
que jogar com muita inteligência,
cabeça no lugar e força de vontade
para vencer, porque, mesmo tendo dois desfalques [Montero e
Darío Silva, contundidos", estamos nos preparando muito bem.
Folha - O futebol brasileiro, após
a final da Copa, quando Ronaldo
teve a crise nervosa e o time nada
jogou, tem colecionado vexames. O
Brasil está em decadência?
Púa - Não se trata de decadência,
mas de problemas... Eu não diria
conjunturais, porque estão virando de estrutura mesmo. Como no
Uruguai, no Brasil os jogadores
são revelados e saem muito cedo,
com 18, 19 anos vão para a Europa. Isso é bom, porque lhes dá experiência, nova visão de jogo, mas
por outro lado é ruim. A pressão
sobre eles é muito grande e, de repente, um jogador não tão bem
preparado pode sucumbir, desaparecer muito cedo.
Também tem outro ponto: o
êxodo das revelações esfria os
campeonatos nacionais na América do Sul. No Brasil nem tanto,
porque são muitos os times, o país
é muito grande, mas no Uruguai,
não. A situação é mais séria.
Folha - Em crise ou não, Scolari
prometeu aos brasileiros que o
Brasil vai para a Copa. O senhor faz
o mesmo com o Uruguai?
Púa - Não se trata de prometer,
pois as atuais eliminatórias estão
mais difíceis do que as de 1998. Os
primeiros colocados dispararam,
o fosso em relação aos últimos é
grande e é necessário conseguir
mais pontos do que da última vez.
Folha - Em outras palavras...
Púa - Creio que vamos nos classificar, sim. Dá para chegar entre
os quatro ou, na pior das hipóteses, ficar em quinto e garantir a
vaga na repescagem.
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