São Paulo, terça-feira, 26 de junho de 2001

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FUTEBOL

Víctor Púa, técnico adversário, aprova igualdade, mas quer um "clique"


Uruguai considera bom empatar em Montevidéu

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DO PAINEL FC

Assim como acontece com o Brasil, o Uruguai encara a partida de domingo, em Montevidéu, como a chance de o time começar a deslanchar nas eliminatórias sul-americanas. Como diz o técnico Víctor Púa, repetindo palavras do ex-jogador Enzo Francescoli, grande ídolo do futebol uruguaio, ""é a hora de dar um clique".
Com 18 pontos, os uruguaios precisam vencer para dividir a quarta colocação com o Brasil, que está com 21, e ultrapassar a Colômbia, que soma 19. Os três primeiros são Argentina, Paraguai e Equador. Os quatro primeiros vão à Copa. O quinto jogará a repescagem contra a Austrália.
Tendo assumido o Uruguai em fevereiro, ocupando o lugar deixado pelo argentino Daniel Passarella, Púa já enfrentou a seleção principal do Brasil, na final da Copa América de 1999. Na ocasião, perdeu por 3 a 0 para o time de Wanderley Luxemburgo, que acabou com o título. Mas, como gosta de lembrar, os uruguaios não tinham sua força principal.
Agora, espera, a história será diferente. Mesmo com os brasileiros revigorados com a chegada de Luiz Felipe Scolari, Púa acha que os adversários, para vencer, terão que fazer muito mais do que simplesmente suar a camisa.
Em entrevista à Folha, por telefone, de Punta del Este, Púa, 45, técnico que levou o Uruguai ao vice-campeonato mundial júnior em 1997, analisou sua equipe, o momento do Brasil e disse o que espera do jogo de domingo.

Folha - A seleção brasileira estréia um novo treinador justamente contra o Uruguai. Normalmente, o simples fato de contar com uma nova pessoa no banco dá um ânimo extra aos jogadores. A situação fica mais difícil para o Uruguai?
Víctor Púa -
Não necessariamente. Seja com Emerson Leão, Luiz Felipe Scolari ou Víctor Púa no comando, o Brasil é sempre o Brasil, e jamais achamos que seria um adversário fácil. Neste momento o que posso dizer é que estamos mais preocupados com o Uruguai do que com o Brasil. Estamos nos preparando independentemente de os brasileiros contarem com este ou aquele técnico no banco.

Folha - Em conversa com Pelé, Scolari dizia que pretendia ver a seleção dando susto nos uruguaios, atacando muito nos 15 minutos iniciais para impor respeito e, quem sabe, marcar o primeiro gol. Vocês esperam ver o Brasil na defesa?
Púa -
Não, de jeito nenhum. Acho que vou encontrar uma equipe com uma marcação muito forte, preocupada em não sofrer gol, é claro, mas com atacantes muito talentosos... Acredito numa partida muito igual, porque nós também temos uma marcação forte. Vai ser um jogo duro.

Folha - Parecido com o das eliminatórias de 1993, quando o Brasil saiu na frente em Montevidéu e depois cedeu o empate?
Púa -
É possível. Aquele foi um jogo muito igual, embora houvesse uma grande diferença. O empate, aquela vez, foi muito ruim para o Uruguai.

Folha - Agora não será?
Púa -
Eu vi pela televisão uma afirmação de Luiz Felipe. Ele dizia que podia vencer, empatar ou perder. Se fosse ficar com um dos três, ficaria com a vitória. Eu, também. Só que, se houver empate, não será exatamente um mau resultado. Iríamos para 19 pontos e ficaríamos em quinto lugar com a Colômbia. Ainda faltam cinco jogos, então você vê que seguiríamos na luta. Mas indiscutivelmente a vitória seria melhor, porque poderia dar o clique de que precisamos para deslanchar nas eliminatórias.

Folha - O Uruguai não participou das últimas Copas. A pressão sobre vocês será maior?
Púa -
De 33 jogadores que convoquei, 17 jogam no exterior. Experiência não falta. Se há pressão, há experiência de sobra para suportá-la. A torcida, certamente, é um apoio importante para o nosso lado. Aqui no Uruguai, ela grita do começo ao fim. O Brasil vai ter que jogar com muita inteligência, cabeça no lugar e força de vontade para vencer, porque, mesmo tendo dois desfalques [Montero e Darío Silva, contundidos", estamos nos preparando muito bem.

Folha - O futebol brasileiro, após a final da Copa, quando Ronaldo teve a crise nervosa e o time nada jogou, tem colecionado vexames. O Brasil está em decadência?
Púa -
Não se trata de decadência, mas de problemas... Eu não diria conjunturais, porque estão virando de estrutura mesmo. Como no Uruguai, no Brasil os jogadores são revelados e saem muito cedo, com 18, 19 anos vão para a Europa. Isso é bom, porque lhes dá experiência, nova visão de jogo, mas por outro lado é ruim. A pressão sobre eles é muito grande e, de repente, um jogador não tão bem preparado pode sucumbir, desaparecer muito cedo.
Também tem outro ponto: o êxodo das revelações esfria os campeonatos nacionais na América do Sul. No Brasil nem tanto, porque são muitos os times, o país é muito grande, mas no Uruguai, não. A situação é mais séria.

Folha - Em crise ou não, Scolari prometeu aos brasileiros que o Brasil vai para a Copa. O senhor faz o mesmo com o Uruguai?
Púa -
Não se trata de prometer, pois as atuais eliminatórias estão mais difíceis do que as de 1998. Os primeiros colocados dispararam, o fosso em relação aos últimos é grande e é necessário conseguir mais pontos do que da última vez.

Folha - Em outras palavras...
Púa -
Creio que vamos nos classificar, sim. Dá para chegar entre os quatro ou, na pior das hipóteses, ficar em quinto e garantir a vaga na repescagem.



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