São Paulo, sábado, 26 de junho de 2004

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MOTOR

Um esporte coletivo

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

O último domingo me lembrou um episódio que vivi na Copa de 98, relatado pelo Zé aqui do lado em uma coluna inesquecível. Contava como eu, ele e mais um colega mudamos a nossa percepção de uma partida, como deixamos de ser jornalistas e passamos a torcedor em questão de minutos, mais exatamente no espaço de um intervalo de jogo.
Cobrindo a seleção francesa, havíamos combinado com a Redação enviar nosso trabalho do dia até o início de Brasil x Holanda. Cumprimos a promessa, mas ficamos sem tempo para deixar a sala de imprensa em Paris. Foi um primeiro tempo de análises frias e impropérios, a seleção de Zagallo, em poucas palavras, era um time errático, medonho.
O intervalo nos deu a oportunidade de correr para o bar do hotel, equipado com uma grande tela de TV e, não menos importante, um estoque de cerveja. Só que não estávamos mais sozinhos.
Uma meia dúzia de franceses e holandeses já estavam lá e, em poucos minutos, a situação mudou completamente. Começou provavelmente com uma piadinha sem graça, não me lembro mais. Terminou como uma verdadeira arquibancada, nós três ajoelhados, gritando e xingando a escumalha que insistiu, até a incrível defesa de Taffarel, em não acreditar que, definitivamente, éramos o país do futebol.
Há alguns anos, éramos também o país da F-1. E, se já naquele tempo juntar gente para ver a corridas em manhãs de domingo era tarefa para xiitas, imagine hoje. Ao contrário do futebol, discutir F-1 no Brasil ao vivo só mesmo em dia de GP Brasil e olhe lá.
O vespertino GP de Indianápolis, no entanto, me concedeu essa oportunidade, ainda mais rara em um tempo em que a nacionalidade da categoria passou para a Alemanha. De certa forma, me surpreendi. Pensei que seria pior.
Minha primeira constatação: ainda existe gente que se interessa por F-1. Tudo bem, Barrichello estava na pole, mas, mesmo assim, o churrasco parcialmente parou para a largada, o que para mim já era um feito -alguém logo explicou, "é o que interessa, a história acaba após a primeira volta".
Percebi logo também que estamos vacinados. O que Barrichello fizer na pista é lucro, pois ninguém espera mais muito dele. Largou bem, não? "É, mas no primeiro pit stop, o alemão passa."
Outra constatação, o número de pessoas que acredita no talento de Schumacher é muito maior que o número dos que ainda acreditam em uma limitação imposta pela Ferrari. Esta pode até existir, e existe, mas o que mais explica o que acontece na pista é outra limitação, a de Barrichello. (Claro, minha pequena pesquisa não tem valor científico, mas bate com a distribuição de opiniões recebidas pela coluna nesta semana.)
Nesse ambiente cético, fui o único, por força do ofício, a cravar que Barrichello voltaria atrás do companheiro após aquele pit. Na seqüência, o senso crítico sumiu, e engrossei o coro que exigia a ultrapassagem sobre o alemão.
Ela não veio, o churrasco se impôs. Voltei a ser jornalista, mas confesso que senti certa saudade de ser um simples torcedor.

Segurança 1
Depois do acidentado GP dos EUA, Max Mosley ameaçou os times com mais um pacote unilateral, desta vez centrado em segurança. O presidente da FIA disse que os tempos por volta caíram em média três segundos neste ano e que, se os times nada fizerem, ele vai fazer.

Segurança 2
O foco de Max Mosley está na guerra de pneus, tanto que uma de suas sugestões é impor um único fornecedor a partir de 2005 -nada falou sobre reabastecimento, talvez o maior responsável pela chatice.

Segurança 3
Para Adrian Newey, crítica mesmo é a situação dos freios, que foram limitados pela FIA. Disse isso antes das desqualificações no Canadá.

E-mail mariante@uol.com.br


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