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MOTOR
Um esporte coletivo
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
O último domingo me lembrou um episódio que vivi
na Copa de 98, relatado pelo Zé
aqui do lado em uma coluna inesquecível. Contava como eu, ele e
mais um colega mudamos a nossa percepção de uma partida, como deixamos de ser jornalistas e
passamos a torcedor em questão
de minutos, mais exatamente no
espaço de um intervalo de jogo.
Cobrindo a seleção francesa,
havíamos combinado com a Redação enviar nosso trabalho do
dia até o início de Brasil x Holanda. Cumprimos a promessa, mas
ficamos sem tempo para deixar a
sala de imprensa em Paris. Foi
um primeiro tempo de análises
frias e impropérios, a seleção de
Zagallo, em poucas palavras, era
um time errático, medonho.
O intervalo nos deu a oportunidade de correr para o bar do hotel, equipado com uma grande tela de TV e, não menos importante, um estoque de cerveja. Só que
não estávamos mais sozinhos.
Uma meia dúzia de franceses e
holandeses já estavam lá e, em
poucos minutos, a situação mudou completamente. Começou
provavelmente com uma piadinha sem graça, não me lembro
mais. Terminou como uma verdadeira arquibancada, nós três
ajoelhados, gritando e xingando
a escumalha que insistiu, até a incrível defesa de Taffarel, em não
acreditar que, definitivamente,
éramos o país do futebol.
Há alguns anos, éramos também o país da F-1. E, se já naquele
tempo juntar gente para ver a
corridas em manhãs de domingo
era tarefa para xiitas, imagine
hoje. Ao contrário do futebol, discutir F-1 no Brasil ao vivo só mesmo em dia de GP Brasil e olhe lá.
O vespertino GP de Indianápolis, no entanto, me concedeu essa
oportunidade, ainda mais rara
em um tempo em que a nacionalidade da categoria passou para a
Alemanha. De certa forma, me
surpreendi. Pensei que seria pior.
Minha primeira constatação:
ainda existe gente que se interessa
por F-1. Tudo bem, Barrichello estava na pole, mas, mesmo assim,
o churrasco parcialmente parou
para a largada, o que para mim
já era um feito -alguém logo explicou, "é o que interessa, a história acaba após a primeira volta".
Percebi logo também que estamos vacinados. O que Barrichello
fizer na pista é lucro, pois ninguém espera mais muito dele.
Largou bem, não? "É, mas no primeiro pit stop, o alemão passa."
Outra constatação, o número
de pessoas que acredita no talento
de Schumacher é muito maior
que o número dos que ainda acreditam em uma limitação imposta
pela Ferrari. Esta pode até existir,
e existe, mas o que mais explica o
que acontece na pista é outra limitação, a de Barrichello. (Claro,
minha pequena pesquisa não tem
valor científico, mas bate com a
distribuição de opiniões recebidas
pela coluna nesta semana.)
Nesse ambiente cético, fui o único, por força do ofício, a cravar
que Barrichello voltaria atrás do
companheiro após aquele pit. Na
seqüência, o senso crítico sumiu, e
engrossei o coro que exigia a ultrapassagem sobre o alemão.
Ela não veio, o churrasco se impôs. Voltei a ser jornalista, mas
confesso que senti certa saudade
de ser um simples torcedor.
Segurança 1
Depois do acidentado GP dos EUA, Max Mosley ameaçou os times
com mais um pacote unilateral, desta vez centrado em segurança. O
presidente da FIA disse que os tempos por volta caíram em média
três segundos neste ano e que, se os times nada fizerem, ele vai fazer.
Segurança 2
O foco de Max Mosley está na guerra de pneus, tanto que uma de
suas sugestões é impor um único fornecedor a partir de 2005 -nada
falou sobre reabastecimento, talvez o maior responsável pela chatice.
Segurança 3
Para Adrian Newey, crítica mesmo é a situação dos freios, que foram
limitados pela FIA. Disse isso antes das desqualificações no Canadá.
E-mail mariante@uol.com.br
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