São Paulo, sábado, 26 de junho de 2004

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FUTEBOL

Lá e cá

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

As grandes potências do futebol europeu -Itália, Alemanha, Inglaterra, França- foram caindo, uma a uma, na Eurocopa-2004.
Mas não dá para colocar esses fracassos todos no mesmo saco. Alguns me parecem mais conjunturais, outros estruturais. A Itália e a Alemanha -apesar de esta última ter chegado à final da última Copa do Mundo- já vêm dando mostras de decadência há um bom tempo, basicamente por falta de renovação.
Já a Inglaterra e a França deram, nesta Eurocopa, a impressão de ter jogado sem ímpeto e sem ousadia. Perderam, de certo modo, por falta de vigor e de tesão -características que não faltaram em seleções como Portugal, Grécia e República Tcheca.
Não quero aqui invadir a seara do colega Rodrigo Bueno, titular da coluna que aborda o "futebol no mundo", mas apenas chamar a atenção para um fenômeno que me parece interessante e que nos interessa de perto, ainda que por contraste.
Refiro-me ao caso dos países que têm hoje campeonatos nacionais fortes e seleções, digamos, limitadas: Espanha, Itália, Alemanha. São, basicamente, países importadores de atletas. Por seus gramados desfilam os melhores futebolistas do mundo, e isso, ao que tudo indica, inibe o surgimento de novos valores nascidos dentro de suas fronteiras.
O que esses países têm a ver conosco? Ora, são o nosso reflexo invertido. Somos exportadores de talentos, e isso costuma ser apontado como uma causa do empobrecimento de nossos torneios, bem como de nossas equipes.
É raro um bom time durar mais que uma temporada no Brasil, pois as pressões econômicas levam invariavelmente a um desmanche. Essa instabilidade, se é nociva para os clubes, tem também o efeito de abrir espaço para o aparecimento de novos atletas.
Mas a economia política do futebol globalizado parece ter chegado a um ponto perigoso de saturação, nas duas pontas. A corda esticou demais.
Na rica Europa, cresce a frustração dos torcedores, que se cansam de só aplaudir estrangeiros. Não é à toa que cada bom jogador que surge -como esse atacante inglês Rooney- é incensado como "um novo Pelé". Aliás, sugiro que, antes de usar essa expressão, alguns europeus afoitos vejam "Pelé Eterno". Acho que eles ficarão mais contidos.
Na outra ponta do sistema -ou seja, aqui no lado pobre da América-, a evasão de talentos é cada vez mais cruel, levando para fora garotos de 17 anos e empobrecendo num grau intolerável o futebol nosso de cada dia.
O pior é que não há receita milagrosa para deter esse desequilíbrio. Só o desenvolvimento econômico do país, com a imprescindível inclusão social, poderá tornar nosso futebol menos vulnerável, nossos clubes menos deficitários, nossos torneios mais rentáveis.
Por enquanto, o que é possível fazer é tapar buraco aqui e ali, improvisar gambiarras. Mas não haverá futebol rico e moderno num país tão deformado.

Vitória patrícia
Felipão segue tendo na intuição e na coragem suas maiores virtudes. Todas as suas apostas (Deco, Ricardo, Postiga), algumas delas arriscadas, deram certo contra os ingleses. Confesso que me emocionei ao ver a comemoração do técnico, com as bandeiras de Portugal e do Brasil. Foi bonita a festa, pá.

Azulão
O São Caetano chegou, finalmente, ao lugar que é seu de direito. É, a meu ver, um dos favoritos ao título deste ano.

Clássico paulista
No "Choque Rei" de amanhã, um Palmeiras reforçado pela volta de Pedrinho encara um São Paulo que ainda lambe as feridas do fracasso na Taça Libertadores. Tem tudo para ser um jogão.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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