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FUTEBOL
Lá e cá
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
As grandes potências do futebol europeu -Itália, Alemanha, Inglaterra, França- foram caindo, uma a uma, na Eurocopa-2004.
Mas não dá para colocar esses
fracassos todos no mesmo saco.
Alguns me parecem mais conjunturais, outros estruturais. A Itália
e a Alemanha -apesar de esta
última ter chegado à final da última Copa do Mundo- já vêm
dando mostras de decadência há
um bom tempo, basicamente por
falta de renovação.
Já a Inglaterra e a França deram, nesta Eurocopa, a impressão
de ter jogado sem ímpeto e sem
ousadia. Perderam, de certo modo, por falta de vigor e de tesão
-características que não faltaram em seleções como Portugal,
Grécia e República Tcheca.
Não quero aqui invadir a seara
do colega Rodrigo Bueno, titular
da coluna que aborda o "futebol
no mundo", mas apenas chamar
a atenção para um fenômeno que
me parece interessante e que nos
interessa de perto, ainda que por
contraste.
Refiro-me ao caso dos países
que têm hoje campeonatos nacionais fortes e seleções, digamos, limitadas: Espanha, Itália, Alemanha. São, basicamente, países importadores de atletas. Por seus
gramados desfilam os melhores
futebolistas do mundo, e isso, ao
que tudo indica, inibe o surgimento de novos valores nascidos
dentro de suas fronteiras.
O que esses países têm a ver conosco? Ora, são o nosso reflexo invertido. Somos exportadores de
talentos, e isso costuma ser apontado como uma causa do empobrecimento de nossos torneios,
bem como de nossas equipes.
É raro um bom time durar mais
que uma temporada no Brasil,
pois as pressões econômicas levam invariavelmente a um desmanche. Essa instabilidade, se é
nociva para os clubes, tem também o efeito de abrir espaço para
o aparecimento de novos atletas.
Mas a economia política do futebol globalizado parece ter chegado a um ponto perigoso de saturação, nas duas pontas. A corda
esticou demais.
Na rica Europa, cresce a frustração dos torcedores, que se cansam
de só aplaudir estrangeiros. Não é
à toa que cada bom jogador que
surge -como esse atacante inglês
Rooney- é incensado como "um
novo Pelé". Aliás, sugiro que, antes de usar essa expressão, alguns
europeus afoitos vejam "Pelé
Eterno". Acho que eles ficarão
mais contidos.
Na outra ponta do sistema
-ou seja, aqui no lado pobre da
América-, a evasão de talentos é
cada vez mais cruel, levando para
fora garotos de 17 anos e empobrecendo num grau intolerável o
futebol nosso de cada dia.
O pior é que não há receita milagrosa para deter esse desequilíbrio. Só o desenvolvimento econômico do país, com a imprescindível inclusão social, poderá tornar
nosso futebol menos vulnerável,
nossos clubes menos deficitários,
nossos torneios mais rentáveis.
Por enquanto, o que é possível
fazer é tapar buraco aqui e ali,
improvisar gambiarras. Mas não
haverá futebol rico e moderno
num país tão deformado.
Vitória patrícia
Felipão segue tendo na intuição
e na coragem suas maiores virtudes. Todas as suas apostas
(Deco, Ricardo, Postiga), algumas delas arriscadas, deram
certo contra os ingleses. Confesso que me emocionei ao ver
a comemoração do técnico,
com as bandeiras de Portugal e
do Brasil. Foi bonita a festa, pá.
Azulão
O São Caetano chegou, finalmente, ao lugar que é seu de direito. É, a meu ver, um dos favoritos ao título deste ano.
Clássico paulista
No "Choque Rei" de amanhã,
um Palmeiras reforçado pela
volta de Pedrinho encara um
São Paulo que ainda lambe as
feridas do fracasso na Taça Libertadores. Tem tudo para ser
um jogão.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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