São Paulo, terça-feira, 26 de junho de 2007

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nova cara

América dá vez para a "Copa Chávez"

Venezuela recebe pela primeira vez Copa América e promove a edição mais política graças ao presidente Hugo Chávez

Governo diz ter terceira melhor estrutura esportiva do mundo, mas realidade é de estádios com obras não concluídas e trocas de sedes


RODRIGO BUENO
ENVIADO ESPECIAL A PUERTO LA CRUZ

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A SAN CRISTÓBAL

Um rodízio que teve início em 1987 na América do Sul chega hoje ao último rincão do continente. A Venezuela recebe pela primeira vez na história o mais antigo torneio de seleções em atividade no planeta.
País filiado à Conmebol com futebol menos desenvolvido, a Venezuela organiza aquela que é desde já a edição mais política da disputa. A forte presença do presidente Hugo Chávez dá o tom do evento, recheado de problemas na organização.
Todos os outros nove países que são membros da Conmebol já receberam ao menos uma edição da Copa América. Os venezuelanos, que já farão história esportivamente apenas se avançarem ao mata-mata, receberão os vizinhos do Sul, além de México e EUA, alvo principal do polêmico Chávez.
O presidente da Venezuela e o aliado boliviano, Evo Morales, devem estar presentes hoje na abertura da competição, quando a anfitriã enfrenta a Bolívia em San Cristóbal (816 km a oeste de Caracas) pelo Grupo A. Pouco antes, Uruguai e Peru jogam em Mérida.
A Copa América tornou-se mais uma ferramenta para o presidente venezuelano construir sua liderança esquerdista.
Nas últimas semanas, Chávez tem repetido que será "a melhor Copa América da história". Seu governo pretende usá-la de cartaz para impulsionar candidaturas a sediar os Mundiais sub-17 ou sub-20, organizados pela Fifa, além do Pan de 2015. Até agora, de grandes eventos esportivos, a Venezuela só promoveu o Pan-Americano de Caracas, em 1983.
"A Venezuela tem a terceira melhor infra-estrutura esportiva do mundo, superada apenas pela China e pela Alemanha", declarou o ministro de Esportes, Eduardo Álvarez.
No caso do futebol, não é o caso. Os problemas de estrutura do torneio são tão evidentes que um dos jogos das quartas-de-final mudou de lugar dias antes do início da disputa -Barinas, em obras, deu a vez para Puerto La Cruz. Em Barquisimeto, o estádio só ficará inteiramente pronto em três meses.
Anteontem, outra mudança. Uma das semifinais não será mais em Caracas. Maracaibo, palco da decisão no dia 15 de julho, receberá a partida porque seu estádio tem uma maior capacidade e oferece mais segurança que o da capital do país.
O estádio em Puerto La Cruz, base da seleção brasileira na primeira fase, ainda não está totalmente pronto. Ao lado do estádio, a equipe de Dunga tem treinado em um complexo esportivo que oferece apenas condições básicas de treino.
Nove cidades receberão jogos, número recorde na história da Copa América. Há o temor de que alguns estádios tornem-se elefantes brancos. Maturín, palco do segundo jogo da seleção (à tarde, porque não há iluminação), sem tradição no futebol, ganhou estádio para 52 mil pessoas -a população da cidade é de 400 mil.
Além dos problemas de infra-estrutura, Chávez deve enfrentar protestos contrários à decisão do governo de não renovar a concessão do canal RCTV. Grande marcha organizada por jornalistas está prevista para amanhã, em Caracas.
O futebol venezuelano ainda sofre para crescer por causa do beisebol, esporte preferido do país. No domingo, mesmo com uma edição especial sobre a Copa América, o diário esportivo venezuelano "Líder" separava para a competição o mesmo número de páginas (dez) com notícias sobre o beisebol.
Mas isso não é entrave para o sonho de políticos como o vice-presidente do país, Jorge Rodríguez: "Quem sabe a Venezuela e a Colômbia, ou a Venezuela e o Brasil, se unam para pedir a Copa do Mundo no futuro", declarou ele, em visita ao estádio de San Cristóbal.


NA TV - Uruguai x Peru
Sportv, ao vivo, às 19h05

NA TV - Venezuela x Bolívia
Sportv, ao vivo, às 21h50



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