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FUTEBOL
Brasil x EUA é ditado por contrastes culturais
Enquanto resistência da família marca anfitriãs, adversárias têm incentivos
Para construir carreira e ter a chance de lutar pelo ouro, Andréia fugiu de casa, Marta brigou com meninos, e Kátia Cilene até se vestiu de garoto
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
A goleira Andréia fugiu de casa aos 16 anos para jogar futebol. A meia-atacante Marta brigou várias vezes com meninos
na infância por causa do esporte. Já Kátia Cilene se vestiu de
garoto aos 13 anos para jogar ao
lado dos "moleques" o seu primeiro campeonato.
Aos contrário das norte-americanas, que começam a
chutar uma bola desde pequenas nas escolas, todas as 18 jogadores da seleção foram obrigadas a vencer preconceitos para disputar hoje a medalha de
ouro do Pan. Às 12h, elas enfrentam a equipe sub-20 dos
EUA, no Maracanã. Com 28
gols, o Brasil é favorito.
"Todas venceram vários barreiras para chegar aqui. Comecei jogando na garagem de casa
com meus irmãos. A partir daí,
adorei o futebol. Meu pai brigou comigo dezenas de vezes,
mas valeu a pena", afirmou a
capitã Aline Pellegrino.
Um dos destaques do torneio, a goleira Andréia conta
que foi "mais difícil" se tornar
atleta do que conseguir uma vaga numa equipe. "Vivia jogando
com os meninos e apanhei muito por isto. A resistência da família era tão grande que fugi de
casa para virar atleta e nunca
mais voltei a morar com eles."
Já a meia Marta enfrentou
outro tipo de preconceito. "Minha família nunca me atrapalhou. O problema eram os meninos. Eles me batiam feio dentro de campo por causa dos
meus dribles. Alguma vezes, tinha que brigar para me impor",
disse a alagoana, eleita a melhor do mundo pela Fifa.
A situação é completamente
diferente nos EUA. "Já joguei
quatro anos lá. Futebol é um esporte de menina na América.
Qual pai compra feliz uma chuteira para a filha no Brasil? Lá,
todas as garotinhas têm uma.
Meu sonho é ver um dia um pai
no alambrado dando força para
a filha", disse a atleta do Lyon.
"A chapa lá em casa esquentava, mas eu não ligava. Uma
vez, raspei o cabelo, coloquei
uma cinta nos seios, meti um
short e joguei disfarçada de garoto. Não abro mão dos meus
sonhos", disse Kátia Cilene,
que é contratada de uma multinacional de material esportivo.
Há mais de cinco anos, a empresa comercializa chuteiras,
nos EUA, com seu o nome.
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