São Paulo, quinta-feira, 26 de julho de 2007

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FUTEBOL

Brasil x EUA é ditado por contrastes culturais

Enquanto resistência da família marca anfitriãs, adversárias têm incentivos

Para construir carreira e ter a chance de lutar pelo ouro, Andréia fugiu de casa, Marta brigou com meninos, e Kátia Cilene até se vestiu de garoto

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

A goleira Andréia fugiu de casa aos 16 anos para jogar futebol. A meia-atacante Marta brigou várias vezes com meninos na infância por causa do esporte. Já Kátia Cilene se vestiu de garoto aos 13 anos para jogar ao lado dos "moleques" o seu primeiro campeonato.
Aos contrário das norte-americanas, que começam a chutar uma bola desde pequenas nas escolas, todas as 18 jogadores da seleção foram obrigadas a vencer preconceitos para disputar hoje a medalha de ouro do Pan. Às 12h, elas enfrentam a equipe sub-20 dos EUA, no Maracanã. Com 28 gols, o Brasil é favorito.
"Todas venceram vários barreiras para chegar aqui. Comecei jogando na garagem de casa com meus irmãos. A partir daí, adorei o futebol. Meu pai brigou comigo dezenas de vezes, mas valeu a pena", afirmou a capitã Aline Pellegrino.
Um dos destaques do torneio, a goleira Andréia conta que foi "mais difícil" se tornar atleta do que conseguir uma vaga numa equipe. "Vivia jogando com os meninos e apanhei muito por isto. A resistência da família era tão grande que fugi de casa para virar atleta e nunca mais voltei a morar com eles."
Já a meia Marta enfrentou outro tipo de preconceito. "Minha família nunca me atrapalhou. O problema eram os meninos. Eles me batiam feio dentro de campo por causa dos meus dribles. Alguma vezes, tinha que brigar para me impor", disse a alagoana, eleita a melhor do mundo pela Fifa.
A situação é completamente diferente nos EUA. "Já joguei quatro anos lá. Futebol é um esporte de menina na América. Qual pai compra feliz uma chuteira para a filha no Brasil? Lá, todas as garotinhas têm uma. Meu sonho é ver um dia um pai no alambrado dando força para a filha", disse a atleta do Lyon.
"A chapa lá em casa esquentava, mas eu não ligava. Uma vez, raspei o cabelo, coloquei uma cinta nos seios, meti um short e joguei disfarçada de garoto. Não abro mão dos meus sonhos", disse Kátia Cilene, que é contratada de uma multinacional de material esportivo. Há mais de cinco anos, a empresa comercializa chuteiras, nos EUA, com seu o nome.


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