São Paulo, domingo, 26 de julho de 2009

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TOSTÃO

Os novos Pelés do futebol


Nem o enterro de Michael Jackson foi mais comentado que as contratações de Luxemburgo e Muricy


NAS ÚLTIMAS semanas, impressionou-me o espetacular noticiário sobre as contratações de Luxemburgo e Muricy.
Sei que os técnicos são supervalorizados, mas não imaginava tanto. Nem o enterro de Michael Jackson foi tão falado. As pessoas ficaram mais bem informadas sobre as contratações do que sobre a nova gripe e os escândalos do Senado.
Parecia que os dois técnicos eram os Pelés do futebol e não somente os Pelés dos treinadores, o que também não são.
Parecia um fato extraordinário, como se nunca um treinador de ponta tivesse sido contratado por um grande clube nem mudado para um grande rival.
A contratação de Muricy, por demorar mais tempo, passando antes por um flerte com o Santos, foi um grande espetáculo. Tudo narrado e comentado em todos os detalhes, com capítulos surpreendentes e emocionantes. Como toda novela, teve heróis e vilões.
Um dos vilões foi o procurador de Muricy, que teria atrapalhado as negociações, como se o técnico não fosse maior de idade, não soubesse das conversas nem desse a palavra final. Os heróis foram o presidente do Palmeiras e Muricy. Contam que o encontro dos dois foi emocionante. Muricy teria ficado empolgado com os projetos do clube.
A moda agora é todo técnico, ao ser contratado, dizer que ficou impressionado com o projeto. Tudo conversa fiada. Nenhum projeto, mesmo quando existe, sustenta-se no futebol. Tudo vai depender dos resultados e das críticas da imprensa e da torcida.
Na apresentação de Muricy, o técnico falou de sua história afetiva e familiar com o Palmeiras. Nem precisava. Muricy é respeitado por seu profissionalismo. Enquanto Luxemburgo tem sido bastante criticado pelo que faz e até pelo que não faz, Muricy é tratado como um purista, o que ninguém é.
Pelo que entendi de uma entrevista de Belluzzo a uma emissora de TV, Muricy vai ganhar, mais ou menos, o que recebia Luxemburgo no Palmeiras. A diferença seria o preço da comissão técnica de Luxemburgo, que é muito maior.
Se for assim, esqueça minha coluna anterior, quando escrevi que, enfim, apareceu um presidente lúcido, para não pagar absurdo salário a um treinador de ponta, incompatível com a receita de um clube brasileiro.
Por causa da supervalorização dos técnicos, os clubes justificam qualquer gasto para contratá-los. Pelo mesmo motivo, acham-se no direito de dispensar os treinadores e de culpá-los pelas derrotas.
Comentaristas contribuem para essa supervalorização ao colocar a atuação do técnico como referência para explicar tudo o que acontece em um jogo, como se o futebol fosse quase somente uma disputa programada de estratégias, de causas e efeitos, o que está longe de ser. O futebol, como a vida, tem muitas perguntas e poucas respostas.
Excelentes treinadores, como Muricy, merecem ganhar muito bem, pela responsabilidade, pela insegurança e pela importância do cargo. Mas há limites, que não podem ser impostos por decretos.
O técnico tem também o direito de pedir o que quiser. O erro é dos clubes em pagar. Há sempre uma Timemania para empurrar as dívidas para debaixo do tapete.


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