São Paulo, domingo, 26 de julho de 1998

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NEGÓCIOS
Especialista diz que torcedor virou consumidor
TV e fãs explodem salários no esporte

FÁBIO SEIXAS
da Reportagem Local

Em 1983, quando Michael Jordan pisou pela primeira vez uma quadra de basquete como jogador profissional, o salário médio na NBA era de US$ 200 mil por ano.
Na temporada passada, que pode ter sido a última na carreira do superastro do Chicago Bulls, um jogador mediano da liga norte-americana de basquete profissional embolsou em média cerca de US$ 2,6 milhões.
Um aumento salarial de 1.200% em 14 anos. Difícil de digerir quando se vive no Brasil. Nesse mesmo período, o salário mínimo no país, computadas as correções da inflação, recuou 37,5%.
A explosão salarial no esporte é generalizada. Entre os dez esportistas mais bem pagos do mundo, segundo a revista "Forbes", três são jogadores de basquete, outros três, lutadores de boxe, dois pilotam carros de corrida, um joga hóquei no gelo e outro, golfe.
O último lance nessa escalada foi dado há duas semanas, na renovação do contrato do alemão Michael Schumacher com a Ferrari.
Até 2002, o bicampeão da F-1 receberá, por ano, US$ 31,8 milhões em salários e US$ 3,8 milhões para representar a marca italiana. Ainda ganhará mais US$ 10 milhões em contratos de patrocínio.
Qual a explicação para um aumento tão brutal do contracheque? "Em primeiro lugar, a TV", diz, convicto, Jim Andrews, 33, vice-presidente da IEG (International Events Group), organização norte-americana de consultoria em marketing esportivo, que se dedica exclusivamente à pesquisa de valores na área.
Em entrevista à Folha, de seu escritório em Chicago (EUA), Andrews apontou a intensificação no televisionamento de eventos esportivos como responsável pela escalada no salário dos esportistas.

Televisão
"O aumento do número de canais de TV gerou uma concorrência muito grande pelos direitos de transmissão de qualquer competição esportiva", declarou.
Isso, para ele, detonou um efeito dominó. Entidades esportivas começaram a pedir mais pelos jogos. Em consequência, os times passaram a querer uma fatia maior do bolo a que tinham direito.
E os atletas, enfim, entraram na festa, exigindo salários cada vez mais altos para entrar em jogo.
"Acabou virando um negócio bastante rentável para todos", explica Andrews. "As TVs só entraram nesse esquema porque sabem que podem pedir alto pelos anúncios. Fecha o ciclo."
A segunda explicação, de acordo com o especialista norte-americano, é a mudança no tratamento conferido a fãs e torcedores.
"Esses fãs hoje são vistos como consumidores. Colocam muito dinheiro no esporte, comprando o perfume do Michael Jordan, o livro do Tiger Woods ou a camisa do Ronaldinho, e isso acaba chegando aos atletas."
A pesquisa da "Forbes", publicada em 97, coloca Jordan como o esportista mais bem pago do mundo (veja quadro).
Em seguida, vêm Evander Holyfield e Oscar de la Hoya (lutadores de boxe), Schumacher, Mike Tyson (lutador de boxe), Tiger Woods (golfista), Shaquille O'Neal (jogador de basquete), Dale Earnhardt (piloto da Nascar), Joe Sakic (jogador de hóquei) e Grant Hill (jogador de basquete).
Alguns, como Woods, não têm salário fixo. Fazem fortuna com prêmios por desempenho em torneios e a venda de imagens para campanhas publicitárias.
Perto deles, o brasileiro Ronaldinho é apenas um membro a mais do clube. E que deve começar a frequentar a relação dos esportistas milionários na pesquisa deste ano da revista.



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