São Paulo, segunda-feira, 26 de agosto de 2002

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FUTEBOL

O Maracanã viu o futuro

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Por que certos clichês se eternizam? Resposta: porque a realidade insiste em renovar seu prazo de validade.
Existe chavão mais surrado que "Quem não faz toma"?
O São Paulo e o Santos, no entanto, mostraram nesta rodada que não há no futebol verdade mais verdadeira.
No sábado, o São Paulo vencia o Inter por 2 a 1 e dominava amplamente a partida no Beira-Rio. Perdeu, nos pés de Reinaldo e Oliveira, dois gols feitos e cedeu o empate no último minuto. Cruel.
Ontem, os "meninos da Vila" foram ao Maracanã (muitos deles pela primeira vez na vida) e tomaram conta do jogo. Venciam por 1 a 0 e tiveram várias chances para ampliar, incluindo duas bolas na trave e inúmeras boas defesas de Murilo. Não deu outra: no último segundo dos acréscimos, no abafa, o Fluminense empatou. Mais cruel ainda.
Não sou santista nem tenho nada contra o Fluminense, mas lamentei muito o gol sofrido pelo Santos. Sabe por quê? Porque o time da Vila Belmiro fez, a meu ver, uma partida brilhante.
Marcando por pressão em todo o campo desde o início da partida, os santistas deixaram poucas chances para o Fluminense jogar.
Tanto que, no primeiro tempo, praticamente as únicas oportunidades tricolores foram em chutes de fora da área.
Quando recuperava a posse de bola, o Santos logo chegava perto da área do Flu, graças à habilidade e à velocidade de seus principais jogadores, Diego e Robinho.
Leão parece estar tirando o máximo proveito da juventude de seu elenco. É um time que, sem a bola, aplica-se na marcação e, bem postado em campo, fica com quase todos os rebotes e bolas espirradas. Com a bola nos pés, os garotos são rápidos e atrevidos.
O resultado disso é pressão, bombardeio e adversário desnorteado. Um futebol bonito e bastante empolgante.
O que mais impressionou, no jogo de ontem, foi a tranquilidade com que os meninos da Vila enfrentaram Romário e companhia lá na casa deles.
Um exemplo foi o gol santista. Robinho teve calma para driblar duas vezes o zagueiro tricolor antes de tocar de leve para trás para a conclusão precisa de Diego.
Este último é um caso à parte. Tem a disposição e a insolência de um juvenil aliadas à técnica e à visão de jogo de um veterano. Mas claro que ainda não está totalmente maduro.
Um exemplo de individualismo e precipitação de Diego foi uma arrancada que deu no primeiro tempo, pela meia esquerda. Ao entrar na área, tinha Robinho à sua esquerda e Alberto à direita, livres para marcar. Preferiu dar mais um drible, foi desarmado por um adversário que veio por trás e o lance foi desperdiçado.
Além disso, os jogadores santistas mostraram falhas de pontaria e potência nas finalizações. Mas a quantidade e a variedade de boas jogadas que produziram foram de encher os olhos. Quem foi ao Maracanã para ver Romário acabou vendo Diego e Robinho, os craques do futuro. Ao que tudo indica, ainda vamos ouvir falar muito desses garotos.

O técnico Flávio Teixeira, o Murtosa, do Palmeiras, teve ontem seu verdadeiro batismo de fogo, ao ver seu time ser goleado em pleno Parque Antarctica pelo arrasador Atlético-MG. Pode ser só um acidente de percurso ou o início da queda de "Felipinho".

Gol da rodada
Para aumentar o desespero alviverde, o arqui-rival Corinthians venceu de virada o Coritiba fora de casa. Não vi o jogo, mas o gol de Genílson, do Coritiba, depois de uma vertiginosa troca de passes, foi, na minha opinião, o mais bonito da rodada.

Revisão de Eurico
O Vasco, com seis reservas em campo, bateu o Goiás em Goiânia. Vai ver que eles é que deveriam ser titulares. Na quinta-feira, ao ser derrotado pelo Gama em São Januário, o time ouviu coros contra Eurico Miranda, chamado de "ladrão" e "um sete um" pela torcida. Já é um avanço. Um ano atrás, quando alguém criticava o controvertido dirigente, os torcedores vascaínos saíam em sua defesa, dizendo que atacar Eurico era atacar o Vasco. Vivendo e aprendendo. Ou seria mais correto dizer "apanhando e aprendendo"?

E-mail jgcouto@uol.com.br



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