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São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 2003

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FUTEBOL

República de Bananas F.C.

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

É impressionante a debandada de jogadores brasileiros para o exterior. A inaptidão gerencial que domina boa parte dos clubes e das federações deixou o futebol do país de joelhos, em posição subalterna na divisão internacional do esporte, vulnerável a toda investida estrangeira.
O longo histórico de campeonatos inflados e calendários mal organizados, de regras instáveis e sempre desrespeitadas, de irresponsabilidade financeira, corrupção e incapacidade de pensar a atividade de forma planejada consolidou uma clássica situação de subdesenvolvimento: incapaz de melhor utilizá-las em benefício próprio, o país apenas vende suas riquezas naturais.
Esse "modelo", burro e perverso, tende ao longo do tempo a destruir a si próprio: na República de Bananas do futebol, as frutas estão sendo exportadas a cada ano mais verdes. Isso reduz as chances de o torcedor brasileiro conviver com grandes jogadores. Ou temos algumas jovens promessas atuando por aqui ou craques veteranos. No meio, um punhado de jogadores medianos, alguns melhores, outros piores -mesmo esses permanentemente à venda.
O resultado é um círculo vicioso. Com menos qualidade em campo, o interese cai. Com o interesse caindo, os clubes perdem receita. Perdendo receita, a necessidade de vender talentos é maior.
Outra consequência nefasta desse sistema bola murcha é o afrouxamento da relação torcedor-ídolo-clube. Quando a identificação começa a se consolidar o jogador é vendido e logo esquecido. Na melhor hipótese, passa a ser acompanhado à distância ou apenas visto na seleção, muitas vezes cercado desconfianças. O torcedor, sem conseguir elaborar com mais sofisticação o problema, canaliza sua frustração para o craque que atua no exterior.
O mecanismo mental parece ser o seguinte: se ele nos abandonou, ficou rico e foi morar na Europa, sua obrigação é dar show na seleção. Só assim poderá se redimir.
O pior argumento, o mais miserável, o mais derrotado, para justificar esse estado de coisas é aquele que considera que não há nada a fazer, uma vez que o êxodo de jogadores seria fruto única e exclusivamente da superioridade econômica européia.
É claro que a Europa é mais rica e sempre terá a oportunidade de levar grandes craques do Brasil e de outros países. A questão, no entanto, não é essa.
O que esse fatalismo subdesenvolvido esconde é que o Brasil tem enormes vantagens comparativas nesse mercado e poderia estar muito mais bem posicionado do que está.
Além disso, o argumento é falacioso, uma vez que os clubes não vendem apenas craques e não o fazem só para países mais ricos. Muitos jogadores vão para clubes remotos ou para lugares como Turquia e Rússia, que não são mais ricos e têm uma tradição futebolística infinitamente inferior.
O mais aflitivo é constatar a espantosa resistência à mudança desse sistema e o conformismo de muitos que poderiam contribuir para mudá-lo.

Até que enfim
Depois de sucessivos vacilos, o Santos finalmente soube aproveitar-se da derrota do Cruzeiro para assumir a liderança do Brasileiro. Detonou o Flamengo no primeiro tempo e soube manter a vantagem até o fim. A disputa pelas primeiras posições do Nacional continua acirrada. Cinco clubes estão na ponta dentro de um intervalo de apenas sete pontos. Na luta contra o rebaixamento, a situação é semelhante. O nível técnico do campeonato foi abalado pelo êxodo de jogadores, mas ainda assim houve bom futebol na rodada, caso, por exemplo, da partida entre São Paulo e Vasco, no Rio. Mas o fenômeno do segundo turno continua sendo o Goiás, que está numa escalada impressionante, com o atacante Dimba firme na artilharia.

E-mail mag@folhasp.com.br


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