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São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 2003

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BASQUETE

R.E.M.

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Há no ar uma onda de nostalgia em torno do "Dream Team" original. Até mesmo quem não viu o histórico torneio da Olimpíada de Barcelona comenta com satisfação os lances geniais de Jordan, Magic, Barkley...
Compreensível. O vexame no Mundial de Indianápolis, um sexto lugar pedestre, custou aos EUA mais do que o renome no basquete do novo milênio. Apagou do imaginário popular tudo o que sucedeu o show das estrelas de 1992. "Time dos Sonhos? Ah, não, para mim só vale o original!"
De nada adiantou a USA Basketball tomar vergonha na cara e, em parceria com a NBA, anunciar a revitalização da seleção. "Time dos Sonhos? Ah, não, para mim só vale o original!"
Sei que um dos pecados do jornalismo é apressar as coisas, ver o fogo em toda fumaça. Sei que o esporte evoluiu demais nos últimos anos, inclusive na América Latina. E sei que não se pode descartar uma surpresa nem mesmo neste Pré-Olímpico de San Juan.
Mas pecarei: aos poucos, a equipe que os EUA enviaram a Porto Rico mostra potencial para resgatar a reputação dos "originais".
Um pouco pelas fabulosas enterradas de Vince Carter. Um pouco pelos atordoantes contra-ataques puxados por Jason Kidd. Um pouco pelas infiltrações ilógicas de Allen Iverson. Um pouco pelas acrobacias elegantes de Tracy McGrady. Um pouco pela ausência (por que não?) de Kobe Bryant e Kevin Garnett.
Mas sobretudo pelo jogo de conjunto, arquitetado pelo técnico Larry Brown, sem precedentes em seleções de astros da NBA.
Nunca um "Dream Team" executou um basquete tão eficiente como este que humildemente busca o passaporte para Atenas-04.
Perde para o "original" em pontos anotados por jogo (108 x 121). Empata na precisão dos arremessos de dois pontos (62% x 63%). Prevalece no aproveitamento dos tiros de três (51% a 44%).
Mas sobressai na dinâmica de quadra. Das 162 cestas norte-americanas em San Juan, 134 nasceram de assistências. Ou seja, em 83% o pontuador não agiu só.
O número é altíssimo. No Pré-Olímpico de 1992, a relação passes perfeitos/cestas do "Dream Team" era fabulosa, mas não passava de 74%. O San Antonio Spurs, renomadamente um time solidário, só alcançou 61% no bicampeonato da NBA neste ano. O renovado Brasil, celebrado pelo espírito coletivo, fica em 66%.
O símbolo da latente revolução é o multitalentoso pivô Tim Duncan. "Jamais houve quem personificasse o espírito do basquete como ele", derreteu-se Brown.
Mas o verdadeiro protagonista da virada é o mercurial armador Allen Iverson. "O ego deste time é um só, o do time", atestou o gatilho na NBA, munição em Porto Rico. "Ninguém fez mais de 20 pontos em um jogo até agora."
Brown, que treinou Iverson no Philadelphia, explica o caráter deste "Dream Team" em uma indireta declaração de amor ao esporte: "Os EUA valorizam em demasia o efeito das jogadas. Sempre sonhei em aliar o talento do atleta da NBA à inteligência e à atmosfera do basquete do mundo". Sonho dele, sonho meu.

Sonho 1
Dos 12 "originais", três seguem na ativa. Karl Malone trocou Utah pelo LA Lakers. Scottie Pippen retornou para Chicago. E Christian Laettner, coadjuvante em 1992, é coadjuvante no Washington.

Sonho 2
Tim Duncan cumpriu a palavra e se negou a enfrentar as Ilhas Virgens, onde nasceu. O pivô só joga hoje pelos EUA por causa do furacão Hugo, que em 1989 devastou o complexo olímpico e suspendeu (até 1994) o trabalho de todas as seleções de basquete do arquipélago.

Sonho 3
Rixa de empresários relegou o Pré-Olímpico ao pay-per-view, a primeira vez que um "Dream Team" fica fora de rede na TV dos EUA.

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