|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BASQUETE
R.E.M.
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Há no ar uma onda de nostalgia em torno do "Dream
Team" original. Até mesmo quem
não viu o histórico torneio da
Olimpíada de Barcelona comenta
com satisfação os lances geniais
de Jordan, Magic, Barkley...
Compreensível. O vexame no
Mundial de Indianápolis, um
sexto lugar pedestre, custou aos
EUA mais do que o renome no
basquete do novo milênio. Apagou do imaginário popular tudo o
que sucedeu o show das estrelas
de 1992. "Time dos Sonhos? Ah,
não, para mim só vale o original!"
De nada adiantou a USA Basketball tomar vergonha na cara e,
em parceria com a NBA, anunciar a revitalização da seleção.
"Time dos Sonhos? Ah, não, para
mim só vale o original!"
Sei que um dos pecados do jornalismo é apressar as coisas, ver o
fogo em toda fumaça. Sei que o
esporte evoluiu demais nos últimos anos, inclusive na América
Latina. E sei que não se pode descartar uma surpresa nem mesmo
neste Pré-Olímpico de San Juan.
Mas pecarei: aos poucos, a equipe que os EUA enviaram a Porto
Rico mostra potencial para resgatar a reputação dos "originais".
Um pouco pelas fabulosas enterradas de Vince Carter. Um
pouco pelos atordoantes contra-ataques puxados por Jason Kidd.
Um pouco pelas infiltrações ilógicas de Allen Iverson. Um pouco
pelas acrobacias elegantes de
Tracy McGrady. Um pouco pela
ausência (por que não?) de Kobe
Bryant e Kevin Garnett.
Mas sobretudo pelo jogo de conjunto, arquitetado pelo técnico
Larry Brown, sem precedentes em
seleções de astros da NBA.
Nunca um "Dream Team" executou um basquete tão eficiente
como este que humildemente busca o passaporte para Atenas-04.
Perde para o "original" em pontos anotados por jogo (108 x 121).
Empata na precisão dos arremessos de dois pontos (62% x 63%).
Prevalece no aproveitamento dos
tiros de três (51% a 44%).
Mas sobressai na dinâmica de
quadra. Das 162 cestas norte-americanas em San Juan, 134
nasceram de assistências. Ou seja,
em 83% o pontuador não agiu só.
O número é altíssimo. No Pré-Olímpico de 1992, a relação passes
perfeitos/cestas do "Dream
Team" era fabulosa, mas não
passava de 74%. O San Antonio
Spurs, renomadamente um time
solidário, só alcançou 61% no bicampeonato da NBA neste ano. O
renovado Brasil, celebrado pelo
espírito coletivo, fica em 66%.
O símbolo da latente revolução
é o multitalentoso pivô Tim Duncan. "Jamais houve quem personificasse o espírito do basquete
como ele", derreteu-se Brown.
Mas o verdadeiro protagonista
da virada é o mercurial armador
Allen Iverson. "O ego deste time é
um só, o do time", atestou o gatilho na NBA, munição em Porto
Rico. "Ninguém fez mais de 20
pontos em um jogo até agora."
Brown, que treinou Iverson no
Philadelphia, explica o caráter
deste "Dream Team" em uma indireta declaração de amor ao esporte: "Os EUA valorizam em demasia o efeito das jogadas. Sempre sonhei em aliar o talento do
atleta da NBA à inteligência e à
atmosfera do basquete do mundo". Sonho dele, sonho meu.
Sonho 1
Dos 12 "originais", três seguem na ativa. Karl Malone trocou Utah
pelo LA Lakers. Scottie Pippen retornou para Chicago. E Christian
Laettner, coadjuvante em 1992, é coadjuvante no Washington.
Sonho 2
Tim Duncan cumpriu a palavra e se negou a enfrentar as Ilhas Virgens, onde nasceu. O pivô só joga hoje pelos EUA por causa do furacão Hugo, que em 1989 devastou o complexo olímpico e suspendeu
(até 1994) o trabalho de todas as seleções de basquete do arquipélago.
Sonho 3
Rixa de empresários relegou o Pré-Olímpico ao pay-per-view, a primeira vez que um "Dream Team" fica fora de rede na TV dos EUA.
E-mail melk@uol.com.br
Texto Anterior: Guga tenta evitar série sem finais Próximo Texto: Futebol - Marcos Augusto Gonçalves: República de Bananas F.C. Índice
|