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O reverso da medalha
Ouro de Ricardo e Emanuel e falha de Bimba expõe extremos do desafio brasileiro nos jogos
LUÍS CURRO
ROBERTO DIAS
ENVIADOS ESPECIAIS A ATENAS
Ricardo sobe e, com uma deixada, põe a bola no chão, no lado esquerdo da quadra de seus adversários espanhóis.
Ele e Emanuel fecham o jogo e
dão ao Brasil seu primeiro ouro
no vôlei de praia masculino.
"Simply the Best", hit da cantora Tina Turner, ecoa pela arena, e
o presidente do Comitê Olímpico
Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, posa para fotografia fazendo sinal de número um.
Pano rápido para a lente de aumento. A dupla brasileira, desde o
início da competição favorita ao
título, abre espaço para que o país
alcance hoje seu recorde histórico
de medalhas de ouro -na vela,
Torben Grael e Marcelo Ferreira
têm grande chance de conquistar
o título da classe star por antecipação, e, no futebol feminino, a
seleção liderada por Renê Simões
disputa a decisão com os EUA.
O que parece bem mais distante
é superar o número de medalhas
de Sydney-2000 (12). Mais longe
ainda está o de Atlanta-1996 (15),
recorde até aqui.
Em Atenas, foram computadas
cinco por enquanto, e os últimos
quatro dias colocarão à prova boa
parte do que o país mandou de
melhor à Grécia: a experiência de
Torben, a estrela de Bernardinho
e José Roberto Guimarães, o ranking de Rodrigo Pessoa, as cestas
de Janeth, a escalada do futebol feminino e o histórico do revezamento 4 x 100 m do atletismo.
Eis o prisma estacionado diante
do panorama olímpico brasileiro
na reta final dos Jogos de Atenas.
Por um lado, o país tem motivos
de sobra para torcer nos últimos
dias. E vislumbra a chance de bater recordes de ouro e de registrar
avanço no quadro geral dos Jogos
Olímpicos. Por outro, faz as contas e sabe que dificilmente dará
um salto de medalhas -o que seria, usando a retórica do COB, um
claro escorregão qualitativo, pela
segunda Olimpíada seguida.
Vê como improvável, também,
o crescimento do número de esportes premiados: se todos os favoritos confirmarem seus pódios
e não surgir nenhuma surpresa,
serão oito modalidades, igual a
Sydney-2000, uma a menos do
que Atlanta-1996.
E o COB não poderá agora culpar a CBF, como fez na Austrália.
Com a surpreendente ausência
da ginástica artística do pódio,
não sobra muito de novidade.
Os ouros até aqui vieram de
grandes favoritos que haviam sido derrotados em Sydney (Robert
Scheidt e Emanuel e Ricardo).
Novos títulos tendem a ter o mesmo perfil, como o que Torben
tentará carimbar hoje.
Ricardo e Emanuel, por exemplo, são os atuais campeões mundiais e vencedores do Circuito
Mundial do ano passado e deste
(por antecipação).
"Acredito que todo esporte tem
os dois lados da moeda", analisou
Emanuel, que acumulava até ontem um histórico de frustração
em Jogos Olímpicos.
Aliás, assim como o parceiro Ricardo, também surpreendido negativamente em Sydney -só que,
no seu caso, na final.
Até agora, o que o país conseguiu mostrar de novo não se
transformou em medalha.
Foi assim com a ginasta Daiane
dos Santos na segunda; foi assim
com Ricardo Winicki ontem.
Bimba, como é conhecido, chegou ao último dia da classe mistral da vela como líder do campeonato, mas saiu da água com a
quarta colocação.
Em Sydney, quando a festa chegou ao fim, o Brasil desfilava com
um copo meio vazio à mão.
Em Atenas, o país carrega um
copo meio cheio ao ingressar nos
últimos quatro dias de disputa.
A reta final promete torcida,
medalhas e também um boa dose
de mesa redonda.
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