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O maratonista
Timão tá na PRO-PO
Na loteria esportiva helênica, é possível apostar nos clubes do Campeonato Brasileiro -para os gregos, Brasil não é só sinônimo de futebol e mulatas, mas de violência, que rende até comparações com a Albânia
PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS
A cena foi registrada no café da
manhã do hotel: o voluntário Fotios Mavraganis, 26, que trabalha
no balcão do self-service, informa
a um jornalista brasileiro que
Vasco e Guarani empataram no
último domingo.
Como assim? Será que ele
acompanha o campeonato nacional? "Sim, a gente assiste aos jogos
pela TV, sabe tudo o que acontece
nos times consultando três sites
especializados e torce por eles,
porque os da Série A entram numa loteria muito popular aqui na
Grécia", explica Mavraganis, que
se diz corintiano.
Por causa disso, o objetivo da
caminhada na avenida Maratona
passa a ser achar uma "pro-po",
como eles chamam as casas lotéricas, para obter mais explicações.
"Pro-po" é a abreviatura de
"prognostiká pothospherico
aghona", ou "previsão dos jogos
de futebol".
A primeira a aparecer no caminho está na altura do km 35, em
Holandri. O gerente, Haralambos
Kelbakouris, 47, que torce pelo
Santos, mostra como a loteria
funciona. Na verdade, existem
dois programas na chamada "pame stihima" (ou algo como "vamos apostar"). Durante a semana, só entram os times europeus;
nos finais de semana, juntam-se a
eles os do Brasil e da Argentina.
As equipes gregas não
participam -elas têm
sua própria loteria.
"O cliente pode escolher de três a dez jogos
dos 200 da cartela, e as
apostas começam em
0,30 e não têm limite",
conta Haralambos, que
se diz fanático por futebol.
No último domingo,
informa ele, o prêmio
foi de 7.000: ganhou
um ateniense que apostou 300 em quatro jogos.
Na hora da foto, o gerente da lotérica posa
com a cartela, depois de
sublinhar os dez jogos
do Brasil que participaram: com forte sotaque,
ele chama Figueirense
de Freguesia e Goiás de Gôas.
A nítida simpatia de gregos por
brasileiros aparece não só no futebol. Eles mudam a expressão
quando começam a falar de Carnaval e mulatas. Dois guardas no
caminho exclamam "Vrazilia!
Bravo! Samba!", alisando um violão imaginário.
O problema é que, como as imagens das mulatas sambando na
Sapucaí aparecem aqui tanto
quanto as de bandidos matando
nas ruas, os gregos têm muito receio de visitar o Brasil: fazem até
comparações com o povo albanês, vizinhos indesejáveis, considerados invasores e donos de um
"mau coração":
"Eles são como os brasileiros,
matam para roubar", diz em uma
farmácia na beira da avenida,
num tom mais de lamentação do
que de agressão, a empresária
Anastasia Fragos, 33.
Depois da caminhada, o almoço
é no Thanasis, em Monastiraki,
centro de Atenas. Inaugurado em
1966, o lugar tem fama de servir o
melhor kebab da cidade. Spiros
Kutsilianos, 38, da segunda geração de donos, explica que chega
ali às 4h para preparar os cerca de
5.000 kebabs de carne de carneiro
com vaca que saem por dia. O
sanduíche é composto de pão pita, carne moída, tomate e cebola:
custa 1,40. "O carneiro vem da
Nova Zelândia", explica Spiros,
no caixa.
Duas americanas que esperam
mesa e observam a entrevista dizem que já estiveram no Brasil. Medo.
Elas passam a lembrar
palavras como "Ipanema", "legal", "muito
obrigado", até que vem a
pergunta:
"Como é mesmo o nome daquele lugar onde
ficam os escravos?",
quer saber a enfermeira
Marva Martin, 58, sem a
menor maldade. Por um
instante, a reportagem
acha que entendeu mal,
mas é aquilo mesmo,
"slaves". Após alguns
minutos arriscando, elas
finalmente pronunciam,
sem dimensionar o tamanho da gafe: "Roxía".
Entende-se depois, é a
favela da Rocinha.
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