Peças violam mesmo artigo do código técnico da F-1 que puniu a Renault

Líder do Mundial, espanhol ironiza categoria ao citar juiz de futebol, afirma que regulamento é um caos e, por isso, público não cresce

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A ISTAMBUL

Dois dias após a FIA punir a Renault, no fim de um controverso processo que classificou um amortecedor como peça aerodinâmica, uma novidade apresentada pela Ferrari na Turquia aumentou a polêmica em torno das interpretações do regulamento da F-1 e fez Fernando Alonso explodir de raiva.
A equipe italiana surgiu ontem em Istambul, para os primeiros treinos livres da 14ª das 18 etapas do Mundial, com uma espécie de calota, uma tampa carenada, nas rodas traseiras.
A peça vai frontalmente contra o artigo 3.15 do regulamento técnico da categoria, o que puniu a Renault. O texto determina que "qualquer componente que tenha influência aerodinâmica deve permanecer imóvel em relação ao bloco do carro".
A calota, obviamente, gira com a roda. E se havia alguma pretensão da Ferrari em desmentir sua função aerodinâmica, ela foi por água abaixo com as declarações de Felipe Massa. "Essa calota pode ser um pouco estranha, mas é para melhorar a eficiência e a carga aerodinâmica", declarou o brasileiro.
Pouco antes, Ross Brawn, diretor técnico ferrarista, dissera o oposto. "Não é um apêndice aerodinâmico. Consultamos a FIA, que decidiu quer era legal, antes de colocá-las nos carros. Nosso dever é ter certeza de que o carro obedece às regras."
A entidade máxima do automobilismo não se pronunciou, tampouco a Renault, advertida nos bastidores após ter denunciado um complô pró-Ferrari nas vésperas do GP da Hungria.
Porém Alonso, líder do Mundial, mas que vê sua vantagem sobre Michael Schumacher cair prova a prova, não se segurou. "É ilegal. Não sei o quanto isso influencia no rendimento, mas é ilegal", disse o espanhol, para atacar então o establishment: "A F-1 não tem regulamento. É um caos. Sempre há interpretações diferentes das regras, e a Ferrari sempre está no limite. É como acontece com os juízes no futebol: cada um interpreta como quer. É por isso que o público da F-1 nunca aumenta. É um caos".
Além da revolta com o que considera proteção à Ferrari, a explosão é reflexo de uma situação que começa a ficar incômoda para Alonso. Cinco GPs atrás, sua vantagem para Schumacher era de 25 pontos. Hoje, é de dez. Mais: desde que a FIA vetou os amortecedores, na Alemanha, ele marcou só quatro pontos, contra 11 do alemão.
Coincidência ou efeito da interpretação do regulamento, a Ferrari voltou a andar à frente da Renault ontem. Na segunda sessão, Massa foi segundo, e Schumacher, sexto. Alonso foi 12º. Seu companheiro, Giancarlo Fisichella, só o 18º.
O treino oficial de hoje será às 8h. O GP, amanhã, às 9h.
Sem querer entrar em polêmica, Schumacher disse apenas estar satisfeito. "O fato de que fiz minha melhor volta do dia no fim do treino, com pneus usados, é um ótimo sinal. O calor aqui na Turquia nos ajuda."
A meteorologia indica cerca de 35C na corrida. Mas a batalha nos bastidores promete ser muito, muito mais quente.