São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2004

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FUTEBOL

Futebol robotizado

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Enquanto todas as principais seleções e equipes do mundo, com exceção da Argentina, jogam com dois zagueiros e dois laterais, muitos técnicos brasileiros preferem três autênticos zagueiros. Esse esquema deveria ser uma opção para priorizar o ataque, e não a defesa, como acontece.
Com três zagueiros, o time poderia marcar por pressão, ter alas hábeis, velozes e ofensivos e apenas um volante. Troca-se um defensor por um meia ou atacante. Ficam quatro no seu campo e seis no do adversário. Quando se toma a bola mais à frente, os seis estão próximos do gol. Um dos três zagueiros pode também avançar com a bola e obrigar um dos armadores a desarmá-lo. Isso desestrutura a marcação.
Os técnicos em todo o mundo, com raríssimas exceções como o ex-técnico da Argentina Marcelo Bielsa, colocam três zagueiros e dois volantes marcando mais atrás e alas que são mais laterais marcadores do que apoiadores. O time troca um armador ofensivo ou atacante por um defensor. Ficam sete atrás e três na frente.
Nota-se, timidamente, uma preocupação de alguns treinadores em avançar um dos volantes e de pôr armadores rápidos e habilidosos na função de ala, como acontece no Atlético-PR, dirigido pelo Levir Culpi, com o ala-direito Fernandinho.
Porém, quando se joga com três zagueiros e dois alas marcando mais à frente, abrem-se espaços na defesa, principalmente nas laterais, já que a tendência dos três zagueiros é a de se juntarem no meio da área. Isso não acontece quando se atua com dois zagueiros e dois laterais. Nesse caso, um dos laterais pode avançar, e o outro ficaria posicionado como um terceiro zagueiro.
Uma equipe é mais ou menos ofensiva muito mais pelo tipo de marcação (na frente ou mais atrás) e pela capacidade dos atletas de defender e atacar do que pelo desenho tático e pelo número de zagueiros, volantes e atacantes.
O ideal é alternar numa mesma partida a marcação por pressão e a agressividade da seleção argentina com a prudência e o equilíbrio da brasileira. A busca do equilíbrio é importante, como falam o Parreira e os técnicos brasileiros, mas quanto mais equilibrado mais risco existe de se romper esse equilíbrio. Na vida é também assim.
Parreira e Bielsa adotam estratégias bem diferentes, mas os dois estão afinados quando se preocupam em definir uma única postura tática, repeti-la e impor os seus estilos, contra qualquer rival.
Discordo dessa excessiva repetição. Um grande time deveria ser capaz de variar a maneira de jogar, no momento certo. Em vez de se preocupar tanto com os resultados nas eliminatórias, já que não há perigo de desclassificação para a Copa, Parreira deveria procurar alternativas, sem confusões e pressa.
A seleção convocada nesta semana tem seis volantes para três posições (Renato atua bem nas três) e três centroavantes. Porém não há um único atacante veloz e habilidoso, que atue mais pelos lados. Se os laterais forem bem marcados, não existirão jogadas pelos lados. Zagallo e Felipão utilizaram várias vezes o Denílson pela ponta, com sucesso. Robinho é muito melhor do que o jogador do Betis.
Não são apenas os times brasileiros que estão robotizados, como disse o Leão. Taticamente, a seleção também está. Essa dificuldade fica evidente quando o Brasil enfrenta um adversário um pouco melhor, como a Alemanha. Pela tradição, pelo prestígio e por ter tantos craques, a seleção não pode apenas vencer. Precisa encantar.

Alma coletiva
Santos e Flamengo fizeram uma belíssima partida pela Copa Sul-Americana. O Santos, no ataque, e o Flamengo, no contra-ataque, criaram ótimas chances de gols. Ricardinho foi o destaque da partida.
Ricardo Gomes deve estar em dúvida se o Dimba volta ao time: um centroavante lento, sem habilidade, mas que sabe fazer gols. O substituto Jean é veloz, hábil, mas não sabe finalizar. Podem jogar os dois e mais o Felipe, saindo um do meio-campo. Aí piora a marcação. Não é fácil ser técnico.
Com qualquer formação, o Flamengo é outro time após o retorno do Zinho. Ao seu lado, nenhum jogador fica indiferente, apático e sem uma alma coletiva. Tudo sem discursos e confusões. É o convencimento ético e solidário. Essas coisas ainda existem.

E-mail
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