São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2010

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TOSTÃO

Longe e perto


Há muitos preconceitos na sociedade e no futebol, tanto dentro como fora de campo

SOMOS TODOS preconceituosos. Uns mais, outros menos. Os preconceitos são incorporados, impregnados em nossa alma e, de repente, mesmo se tiverem nosso repúdio, surgem na consciência por meio de atos falhos.
Os preconceitos são frequentes no futebol, dentro e fora de campo. Se as pessoas, no cotidiano, com tempo para refletir e agir, costumam ser preconceituosas, imagine um atleta, na emoção de uma partida. Isso atenua, mas não justifica os preconceitos, alguns graves. Somos animais racionais, embora cada vez menos.
Contrariando o lugar-comum de que técnico é sempre ruim quando o time perde e sempre excepcional quando o time ganha, Andrade, campeão brasileiro pelo Flamengo em 2009, ficou longo tempo sem receber convite para dirigir um time da Série A. Na semana passada, acertou com o Brasiliense, da Série B.
Há contra Andrade vários preconceitos. Primeiro, de que ele é calmo, fala baixo e não tem pose de sábio. Outro é que não tem diploma universitário.
Há o mesmo preconceito contra ex-atletas que trabalham na mídia.
Existe também o contrário, preconceito de ex-atletas contra jornalistas, como se estes, por não terem sido atletas, não fossem bons analistas de jogo.
O terceiro é que Andrade é negro. O preconceito não é o de evitar sua companhia, o que seria absurdo e motivo de prisão por racismo. O preconceito é que Andrade, por ser negro, teria ainda menos preparo intelectual para comandar um grupo. O Brasil, que teve tantos craques negros, não tem um único técnico negro na Série A.
Na semana passada, recebi o Prêmio Comunique-se na categoria "jornalista de mídia impressa", com votação de jornalistas de todo o Brasil.
Não sou jornalista. O prêmio contraria a ideia de que existe preconceito contra ex-atletas que trabalham na mídia. Não foi meu caso. Fiquei duplamente contente.
Fiquei também surpreso porque, além de não ser jornalista, existem brilhantes colunistas esportivos, como Juca Kfouri, Fernando Calazans, Paulo Vinicius Coelho, José Geraldo Couto, Alberto Helena Júnior, Antero Greco, Xico Sá, Mauro Beting e outros.
Além do mais, não sou um bom comunicador. Sou apenas um colunista de jornais impressos, cada vez menos lidos, arredio a eventos e festas e que não tem blog, Twitter nem site.
Gosto do meu canto, desde que possa viajar e estar próximo de pessoas que amo e do que acontece no mundo. Quero estar longe e perto de tudo.


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