São Paulo, quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CARLOS SARLI

Criando demanda

Investimentos em skatistas de ponta, como Bob Burnquist, ajudaram a revolucionar o esporte no Brasil nos anos 80

O ANO era 1995, e o skate vivia mais um daqueles ciclos de baixa que caracterizaram sua recente história no Brasil e no mundo. Por aqui, as poucas empresas que restaram lentamente se recuperavam após o coma profundo causado pelo Plano Collor. Lá fora, o cenário era um pouco mais próspero. A fase de retrocesso do skate norte-americano, que culminou com o fechamento da maioria das pistas de cimento, parecia ter chegado ao fim.
A falta de pistas, de reconhecimento e de grana, no entanto, não foi suficiente para que skatistas e empresários desistissem. Amantes do esporte e fiéis aos ideais, eles optaram por encarar as dificuldades. Foi nessa batida que Bob Burnquist, com pouco orçamento e muita confiança, se mandou para o Canadá para competir no Slam City Jam, que reúne a nata do skate mundial.
Um bom resultado era chave para o sucesso, e Bob não desperdiçou a chance: venceu a prova, introduziu a técnica do switchstance e ganhou projeção mundial. Com a premiação cumpriu o combinado, devolvendo parte do investimento do amigo-parceiro-patrocinador Jorge Kuge, que a duras penas bancou a viagem.
A história do Bob, de lá em diante, é domínio público. O que poucos sabem é que Jorge investia em Bob e em mais de uma legião de skatistas de ponta que ajudaram a revolucionar o esporte no Brasil, principalmente na década de 80, quando os campeonatos brasileiros em Guaratinguetá entraram para a história.
Nessa época a Urgh!, marca criada por Jorge, já dominava o cenário nacional com uma forte equipe e bons produtos. Das bermudas de nylon, que contaram com a ajuda de sua mãe na confecção, à produção de equipamentos foi um passo rápido.
Apresentações pelo interior também fizeram parte da "estratégia". A equipe lotava uma Kombi e saía descobrindo lugares, que rapidamente atraíam curiosos e novos praticantes, revelando-se uma grande forma de criar demanda. Eventos, lojas e pistas pipocavam pelo país, e tudo corria muito bem até o mercado sofrer com a crise financeira no fim da década de 80. Grande parte da indústria, mídia e varejo baixou as portas. Jorge não desistiu, deu um tempo na atividade industrial e pôs foco no varejo com pequenas lojas no Vale do Paraíba, uma das regiões mais tradicionais no cenário nacional. Foi nesse momento que Bob pediu uma força para ir ao Canadá.
Jorge arrumou algum dinheiro e recheou a mala do pupilo com produtos para serem vendidos, dando uma força no parco orçamento. Bob voltou consagrado e se transformou no embaixador do skate brasileiro.
O skate se firmou e se tornou um dos principais ícones da cultura jovem no mundo. A indústria brasileira evolui quase no mesmo ritmo dos seus atletas, e a Urgh! talvez seja a única marca que atravessou com êxito os ciclos de baixa para chegar nos anos 2000 completando 25 anos de bons serviços prestados.

MUNDIAL DE SURFE - WQS
Após dez anos, Ubatuba (SP) volta a receber uma prova do Mundial. A Onbongo Pro Surfing é a última etapa antes do desembarque no Havaí e é decisiva para os brasileiros. Cinco deles estão na faixa de 8.000 pontos, e o corte deve ficar em torno do 9.000. Até domingo, 192 competidores de 14 países disputam 2.500 em Itamambuca.

MUNDIAL DE SURFE - WCT
E na segunda, em Imbituba (SC), começa o Nova Schin Festival, penúltima etapa da primeira divisão. Kelly Slater é presença confirmada. Adriano de Souza, em 18º, é o melhor brasileiro na temporada.

BIKE NO TETO DO MUNDO
Depois de pedalar 834 km em 60 horas, o brasileiro Santo Feltrin passou mal e teve que desistir do objetivo, o campo-base do monte Everest, a apenas 35 km.

sarli@trip.com.br


Texto Anterior: Ciclismo: Volta da França terá largada em Londres
Próximo Texto: Lars põe cartola e se credencia para alcançar o COB
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.