São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2008

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PAULO VINICIUS COELHO

O Brasileirão do (des)equilíbrio


Dentro de campo, embolado, o torneio brilha; fora, o fator econômico deixa São Paulo bem à frente do resto do país

A MAIOR estrela do Brasileirão é o equilíbrio. A sete rodadas do fim, as vitórias de São Paulo e Flamengo embolaram ainda mais o torneio. Pelos cálculos do matemático Tristão Garcia, há 25% de chance de três clubes disputarem o título na última rodada e 66% de o campeão não ser um clube de São Paulo. Parece informação sem importância, exceto quando se olha o retrospecto recente do Brasileirão. Sete das últimas dez edições foram vencidas por paulistas. É uma questão de mercado. "Costumo comparar o Cruzeiro ao São Paulo, pela estabilidade e organização, mas do ponto de vista econômico a comparação é desigual. Somando patrocínio, dinheiro de TV e fornecedor de material esportivo, o São Paulo arrecada o dobro da nossa receita", diz o presidente do Cruzeiro, Alvimar Perrella.
A observação é feita também por dirigentes de Grêmio, Inter e Atlético-PR. A conta do São Paulo soma R$ 50 milhões, entre cota de TV do Brasileiro (R$ 21 milhões), patrocínio da Reebok (R$ 7 milhões), da LG (R$ 15 milhões) e cota do Paulistão (R$ 7 milhões). O Cruzeiro leva R$ 26,2 milhões (R$ 4 milhões pelo Estadual, R$ 14 milhões pelo Brasileiro, R$ 3 milhões da Puma e R$ 5 milhões da Tenda, sua patrocinadora principal).
Uma parte desse desequilíbrio existe porque as empresas com interesse em investir estão em SP. Para fechar um bom contrato de material esportivo, um dirigente mineiro ou gaúcho tem de pegar um avião.
É diferente a discussão sobre o novo contrato de TV, que fará saltar o valor anual pago aos clubes de R$ 320 milhões para R$ 460 milhões. A divisão atual do dinheiro dá R$ 21 milhões a cinco clubes de massa (Corinthians, Flamengo, São Paulo, Palmeiras e Vasco), R$ 18 milhões para o Santos e R$ 14 milhões para Fluminense, Botafogo, a dupla Gre-Nal e os dois gigantes mineiros. O novo rateio cria critérios técnicos para a divisão de parte do dinheiro, mas mantém esses grupos para a divisão do valor principal.
Há tempos, o assunto divide os clubes, com bons argumentos dos dois lados. Corinthians e Flamengo apontam para a força de suas torcidas e para o maior número de partidas transmitidas para que recebam fatias ainda maiores. Faz sentido do ponto de vista da marca, não faz se a idéia é reforçar o campeonato.
Cálculos prévios sobre o novo rateio dizem que os cinco clubes mais bem remunerados ficarão com R$ 37 milhões por ano, R$ 11 milhões a mais do que gaúchos e mineiros.
O incrível é que, em campo, Grêmio e Cruzeiro conseguem reduzir o abismo econômico. O gol de Reinaldo, na quinta contra o Sport, mantém o Grêmio na liderança por pelo menos mais uma rodada. O jogo de ontem, na Arena, ainda deixa o Cruzeiro com chance de erguer a taça que foi sua em 2003. Mas o acesso do Corinthians serve de contraponto e põe outro time paulista com chance de manter a hegemonia em 2009.
Mano Menezes, que montou o Grêmio sem dinheiro em 2006 e vai montar o Corinthians pobre para brigar em 2009, deu a declaração emblemática sobre o desequilíbrio que caracteriza o Brasileirão tão equilibrado em campo: "Pouco dinheiro para montar um time em São Paulo ainda é muito dinheiro comparado com todo o resto do país".

pvc@uol.com.br


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