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PAULO VINICIUS COELHO
O Brasileirão do (des)equilíbrio
Dentro de campo, embolado, o torneio brilha; fora, o fator
econômico deixa São Paulo
bem à frente do resto do país
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A MAIOR estrela do Brasileirão é
o equilíbrio. A sete rodadas do
fim, as vitórias de São Paulo e
Flamengo embolaram ainda mais o
torneio. Pelos cálculos do matemático Tristão Garcia, há 25% de chance de três clubes disputarem o título
na última rodada e 66% de o campeão não ser um clube de São Paulo.
Parece informação sem importância, exceto quando se olha o retrospecto recente do Brasileirão. Sete
das últimas dez edições foram vencidas por paulistas. É uma questão de
mercado. "Costumo comparar o
Cruzeiro ao São Paulo, pela estabilidade e organização, mas do ponto de
vista econômico a comparação é desigual. Somando patrocínio, dinheiro de TV e fornecedor de material
esportivo, o São Paulo arrecada o dobro da nossa receita", diz o presidente do Cruzeiro, Alvimar Perrella.
A observação é feita também por
dirigentes de Grêmio, Inter e Atlético-PR. A conta do São Paulo soma
R$ 50 milhões, entre cota de TV do
Brasileiro (R$ 21 milhões), patrocínio da Reebok (R$ 7 milhões), da LG
(R$ 15 milhões) e cota do Paulistão
(R$ 7 milhões). O Cruzeiro leva R$
26,2 milhões (R$ 4 milhões pelo Estadual, R$ 14 milhões pelo Brasileiro, R$ 3 milhões da Puma e R$ 5 milhões da Tenda, sua patrocinadora
principal).
Uma parte desse desequilíbrio
existe porque as empresas com interesse em investir estão em SP. Para
fechar um bom contrato de material
esportivo, um dirigente mineiro ou
gaúcho tem de pegar um avião.
É diferente a discussão sobre o novo contrato de TV, que fará saltar o
valor anual pago aos clubes de R$
320 milhões para R$ 460 milhões. A
divisão atual do dinheiro dá R$ 21
milhões a cinco clubes de massa
(Corinthians, Flamengo, São Paulo,
Palmeiras e Vasco), R$ 18 milhões
para o Santos e R$ 14 milhões para
Fluminense, Botafogo, a dupla Gre-Nal e os dois gigantes mineiros. O
novo rateio cria critérios técnicos
para a divisão de parte do dinheiro,
mas mantém esses grupos para a divisão do valor principal.
Há tempos, o assunto divide os
clubes, com bons argumentos dos
dois lados. Corinthians e Flamengo
apontam para a força de suas torcidas e para o maior número de partidas transmitidas para que recebam
fatias ainda maiores. Faz sentido do
ponto de vista da marca, não faz se a
idéia é reforçar o campeonato.
Cálculos prévios sobre o novo rateio dizem que os cinco clubes mais
bem remunerados ficarão com R$
37 milhões por ano, R$ 11 milhões a
mais do que gaúchos e mineiros.
O incrível é que, em campo, Grêmio e Cruzeiro conseguem reduzir o
abismo econômico. O gol de Reinaldo, na quinta contra o Sport, mantém o Grêmio na liderança por pelo
menos mais uma rodada. O jogo de
ontem, na Arena, ainda deixa o Cruzeiro com chance de erguer a taça
que foi sua em 2003. Mas o acesso do
Corinthians serve de contraponto e
põe outro time paulista com chance
de manter a hegemonia em 2009.
Mano Menezes, que montou o
Grêmio sem dinheiro em 2006 e vai
montar o Corinthians pobre para
brigar em 2009, deu a declaração
emblemática sobre o desequilíbrio
que caracteriza o Brasileirão tão
equilibrado em campo: "Pouco dinheiro para montar um time em São
Paulo ainda é muito dinheiro comparado com todo o resto do país".
pvc@uol.com.br
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