|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TOSTÃO
Estatutos do futebol
Técnicos do Brasil precisam, com urgência, parar de escalar volante brucutu e armador habilidoso no ataque
|
SÓ UM POLICARPO Quaresma e
um Pachecão ainda acham que
existem, aqui e no exterior, excelentes volantes brasileiros para o
nível da seleção. Há algumas boas
promessas, como Hernanes, Ramires e outros.
Depois de Falcão, não surgiu um
único craque no meio-campo. Isso
é grave. Kaká e Ronaldinho são
meia-atacantes. Mauro Silva, Dunga, César Sampaio, Gilberto Silva e
outros excelentes volantes não foram craques, além de jogarem do
meio para trás.
Não agüento mais escutar -ando
sem paciência- que no futebol corrido e pegado de hoje não há mais
espaço para grandes talentos no
meio-campo.
Uma das razões para essa carência
no Brasil foi a divisão que houve no
meio-campo entre os volantes, que
quase só marcam, e os meia-atacantes, que quase só atacam. Desapareceram os típicos e grandes armadores, que marcavam, trocavam passes, controlavam o jogo e sabiam o
momento certo de reter a bola e de
acelerar. O futebol ficou mais feio.
Para fazer a cobertura dos laterais,
os técnicos brasileiros criaram, tempos atrás, um monstro, o volante
quase zagueiro, brucutu, que não
sabe jogar futebol. Com o tempo,
tentam corrigir o erro, escalando
um terceiro zagueiro e os volantes
no meio-campo. Com isso, melhorou a qualidade dos volantes. Por
outro lado, como os alas só atuam
pelos lados, os times perderam um
armador para ter um terceiro zagueiro. Isso é ruim.
Na Europa, não existe o terceiro
zagueiro nem o volante-zagueiro. Os
laterais só marcam. Os volantes
atuam no meio-campo, desde as categorias de base. Por isso existem
vários excepcionais armadores, como Xavi, Fàbregas, Gerrard, Lampard, Deco, Pirlo e Ballack. Todos
marcam, organizam as jogadas e
chegam ao ataque.
Prefiro uma solução diferente da
européia e da maioria dos times brasileiros. Dos cinco candidatos ao título, só o Cruzeiro joga com dois zagueiros, alternando o avanço entre
os laterais e entre os volantes e os laterais. Com essa formação, o time
continua com um terceiro defensor,
com os laterais apoiando e com os
volantes no meio-campo, além de
não perder um armador.
Repito, pela milésima vez, que
muito mais importante que esquemas táticos é a qualidade dos jogadores. Porém eles brilham muito
mais quando jogam em equipes
organizadas.
A solução mais urgente para formar talentos no meio-campo é os
técnicos, desde as categorias de base, pararem de escalar volantes que
só marcam e de colocar armadores
habilidosos para jogar somente como meia-atacantes. É preciso descobrir solistas, pianistas. O meio-campo está saturado de carregadores
de piano.
Parafraseando uma das mais belas
poesias de Thiago de Mello ("Os Estatutos do Homem"), fica decretado
que os técnicos não podem escalar
brucutus no meio-campo e que os
atletas e treinadores assumem um
compromisso com a beleza e com a
qualidade do futebol, sem perder a
eficiência.
Thiago de Mello, amigo do mestre
Armando Nogueira, escreveu ainda
que a única coisa proibida é amar
sem amor. Parafraseando de novo o
grande poeta, é proibido jogar sem
paixão, sem ousadia e sem utopias.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Dualib e Nesi vêem de longe redenção do time Índice
|