São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2008

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Dualib e Nesi vêem de longe redenção do time

Apontados como artífices da queda, ex-dirigentes não pisam no clube há 1 ano

Após ter deixado o poder, ex-presidente comanda construtora e seu vice diz passar os dias ouvindo discos de vinil de Ataulfo Alves

DA REPORTAGEM LOCAL

Crucificados no Corinthians pela queda do time à segunda divisão do Nacional no final de 2007, o ex-presidente Alberto e o ex-vice Nesi Curi estão há mais de um ano sem passar perto do Parque São Jorge.
Os homens que por mais de um década tomaram as decisões mais importantes do mais popular clube de São Paulo tocam suas vidas totalmente afastados do futebol.
E dizem acompanhar o time apenas pela TV. Aos 89 anos, Dualib conta que não parou de trabalhar ao renunciar à presidência. De um escritório na zona sul da capital, toca uma construtora. E diz estar animado com o aquecimento do mercado de construção civil.
"Sem dúvida, é difícil. Freqüentei o clube desde os meus oito anos de idade. Foi a maior injustiça que fizeram com quem mais ganhou títulos pelo clube", diz, referindo-se ao fato de ter entregue, neste ano, carta de afastamento do quadro de sócios para fugir da expulsão.
Diz não ter tido culpa no descenso. Culpa o atual presidente, Andres Sanchez, pela queda. "Comigo não cairia. O Andres não precisava ter gasto milhões para fazer o time cair."
Dualib disse que o episódio que culminou com sua saída do clube debilitou sua mulher, Elvira, que tem diabetes. "Eu tenho um coração muito forte para agüentar o linchamento moral que sofri, mas ela não."
Sobre a volta do Corinthians à Série A, disse: "É uma redenção. O time volta para o lugar de onde nunca deveria ter saído".
Os dias do quase inseparável companheiro de clube dele, Nesi, 84, são todos iguais, segundo o ex-vice corintiano.
Ainda conversa com Dualib, mas a antiga amizade está definitivamente abalada. Eles alternam períodos de trégua com discussões onde um acusa o outro pela desgraça que se abateu sobre ambos. Os diálogos são sempre por telefone. Praticamente desde a deposição dos dois, não se encontraram mais.
Sobre a volta corintiana à Série A, Nesi concorda com Dualib: "Nós nunca deveríamos ter deixado a primeira divisão. Lá é o lugar do Corinthians".
Nesi acorda cedo e vai até a padaria a duas quadras de seu apartamento num bairro de classe média na zona sul.
"Mas não coloca a rua, porque aqueles torcedores profissionais que me lincharam publicamente são bem capazes de virem me tocaiar", pede ele.
Diabético e também sofrendo de catarata, passa o tempo em casa ouvindo discos em vinil, principalmente de Ataulfo Alves, um de seus prediletos.
Diz hoje ser uma pálida figura do homem temido que sempre foi no clube. Não dispensava uma boa briga -mesmo já com 80 anos, chegou a agredir Rubens Aprobatto Machado, bem mais novo, em uma reunião do conselho em 2004.
"Aqueles falsos moralistas que beijavam minha mão e agora me atiram pedra podem ter me tirado a carteirinha de sócio, a de vice-presidente e a de conselheiro vitalício. Mas ser corintiano é muito mais que isso. Vamos ver quantos destes que pediram minha cabeça vão estar no clube daqui a cinco anos", afirma Nesi, que veria o Corinthians pela TV, mas com o volume desligado. "Prefiro o rádio, pena que [o narrador] Fiori Gigliotti morreu." (EDUARDO ARRUDA E RODRIGO MATTOS)


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