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Dualib e Nesi vêem de longe redenção do time
Apontados como artífices da queda, ex-dirigentes não pisam no clube há 1 ano
Após ter deixado o poder,
ex-presidente comanda construtora e seu vice diz passar os dias ouvindo discos de vinil de Ataulfo Alves
DA REPORTAGEM LOCAL
Crucificados no Corinthians
pela queda do time à segunda
divisão do Nacional no final de
2007, o ex-presidente Alberto e
o ex-vice Nesi Curi estão há
mais de um ano sem passar
perto do Parque São Jorge.
Os homens que por mais de
um década tomaram as decisões mais importantes do mais
popular clube de São Paulo tocam suas vidas totalmente
afastados do futebol.
E dizem acompanhar o time
apenas pela TV. Aos 89 anos,
Dualib conta que não parou de
trabalhar ao renunciar à presidência. De um escritório na zona sul da capital, toca uma
construtora. E diz estar animado com o aquecimento do mercado de construção civil.
"Sem dúvida, é difícil. Freqüentei o clube desde os meus
oito anos de idade. Foi a maior
injustiça que fizeram com
quem mais ganhou títulos pelo
clube", diz, referindo-se ao fato
de ter entregue, neste ano, carta de afastamento do quadro de
sócios para fugir da expulsão.
Diz não ter tido culpa no descenso. Culpa o atual presidente, Andres Sanchez, pela queda.
"Comigo não cairia. O Andres
não precisava ter gasto milhões
para fazer o time cair."
Dualib disse que o episódio
que culminou com sua saída do
clube debilitou sua mulher, Elvira, que tem diabetes. "Eu tenho um coração muito forte para agüentar o linchamento moral que sofri, mas ela não."
Sobre a volta do Corinthians
à Série A, disse: "É uma redenção. O time volta para o lugar de
onde nunca deveria ter saído".
Os dias do quase inseparável
companheiro de clube dele, Nesi, 84, são todos iguais, segundo
o ex-vice corintiano.
Ainda conversa com Dualib,
mas a antiga amizade está definitivamente abalada. Eles alternam períodos de trégua com
discussões onde um acusa o outro pela desgraça que se abateu
sobre ambos. Os diálogos são
sempre por telefone. Praticamente desde a deposição dos
dois, não se encontraram mais.
Sobre a volta corintiana à Série A, Nesi concorda com Dualib: "Nós nunca deveríamos ter
deixado a primeira divisão. Lá é
o lugar do Corinthians".
Nesi acorda cedo e vai até a
padaria a duas quadras de seu
apartamento num bairro de
classe média na zona sul.
"Mas não coloca a rua, porque aqueles torcedores profissionais que me lincharam publicamente são bem capazes de
virem me tocaiar", pede ele.
Diabético e também sofrendo de catarata, passa o tempo
em casa ouvindo discos em vinil, principalmente de Ataulfo
Alves, um de seus prediletos.
Diz hoje ser uma pálida figura do homem temido que sempre foi no clube. Não dispensava uma boa briga -mesmo já
com 80 anos, chegou a agredir
Rubens Aprobatto Machado,
bem mais novo, em uma reunião do conselho em 2004.
"Aqueles falsos moralistas
que beijavam minha mão e agora me atiram pedra podem ter
me tirado a carteirinha de sócio, a de vice-presidente e a de
conselheiro vitalício. Mas ser
corintiano é muito mais que isso. Vamos ver quantos destes
que pediram minha cabeça vão
estar no clube daqui a cinco
anos", afirma Nesi, que veria o
Corinthians pela TV, mas com
o volume desligado. "Prefiro o
rádio, pena que [o narrador]
Fiori Gigliotti morreu."
(EDUARDO ARRUDA E RODRIGO MATTOS)
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