São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2008

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Primeiro carro vira troféu para conquista de Massa

Oficina em São Paulo recupera carro utilizado pelo piloto no início de carreira

Ex-empresário promete entregar modelo para o ferrarista em caso de título da F-1 no próximo domingo, no circuito de Interlagos

Eder Medeiro/Folha Imagem
Nos fundos de uma oficina em Santo Amaro repousa um pedaço da história de Felipe Massa

FÁBIO SEIXAS
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

O carro está nu. Sem o motor, sem os adesivos que o identificavam, sem o número 91 no bico, sem o aerofólio traseiro original. O carro está nos fundos de uma oficina no bairro paulistano de Santo Amaro. O carro teve e terá papel importante na vida de Felipe Massa, que daqui a uma semana decidirá, a 11 km dali, o Mundial de F-1.
Teve, porque foi seu primeiro carro de corrida. Foi com ele que Massa, aos 17, recém-saído do kart, estreou na F-Chevrolet em 1998 e levou o título da temporada seguinte, conquista que o credenciou a tentar carreira nas pistas da Europa em 2000.
Terá porque será um incentivo a mais, e o mais pitoresco, na tentativa de buscar o título no próximo domingo. É promessa: se vencer o campeonato, o piloto ganhará o carro de brinde.
"Quando o Felipe começou a correr, eu prometi que daria um relógio pra ele a cada vitória. Mas quando ele ganhou a sexta, eu parei com a brincadeira", diz Ricardo Tedeschi, dono da equipe na F-Chevrolet e primeiro empresário do piloto. "Só agora eu voltei a prometer alguma coisa. Conversamos na quarta-feira, e falei que se ele for campeão, ganha o carro."
Massa, conta Tedeschi, disse que vai pendurar o F-Chevrolet numa parede do sítio da família, em Botucatu, interior de SP.
O papel de enfeite, embora distante de sua vocação, seria destino digno para um exemplar de uma linhagem que não teve a mesma sorte. Resultado da extinção das categorias de base no Brasil, os carros que disputaram retas e freadas com o número 91 hoje são sucata.
"Sei que tem um em Mogi Mirim e outros dois numa oficina em Interlagos. Mas estão abandonados, sem uso. Algumas carrocerias foram jogadas fora, outros foram transformados em protótipos... Foi difícil achar peças para restaurar este aqui", afirma Rogério Nunes, ex-mecânico da equipe de Massa na F-Chevrolet e hoje dono da oficina onde está o carro.
Por quase cinco anos, o 91 viveu situação parecida. Entre 2001, quando Tedeschi vendeu a equipe, e 2006, o carro ficou num cavalete, na garagem de outro ex-mecânico. "Vendi a equipe toda, mas não este carro. Achei que tinha um valor diferente, para mim e para o Felipe. Desmontamos tudo e daí fomos remontando aos poucos."
A suspensão foi refeita. A caixa de câmbio levou um jato de areia para se livrar do óleo incrustado. O aerofólio traseiro, modelo 98, está para chegar.
Só então o 91 ficará mais parecido com aquele carro que um dia, num treino em Interlagos, engoliu um pássaro. "Ele disse que estava perdendo rendimento. Fomos olhar e havia meio quero-quero no radiador. A outra metade do bicho ficou no caminho", diz Tedeschi.
Ele lembra de outra história ligada à sensibilidade do então piloto-aprendiz com o carro. "Num treino, ele não conseguia virar tempo e dizia que tinha algo de errado no carro. A gente olhava e não achava. Ele insistia. A gente olhava, e nada. Depois de muito procurar, encontramos uma pequena trinca numa barra. Impressionante."
Nos fundos da oficina, o 91 ouve tudo em silêncio. E talvez continue assim: como deve virar enfeite, ficará sem o motor. Aliás, enfeite não. Troféu. Lembre dele no próximo domingo.


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