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Futebol perde a cadência e ganha nova cara
Datafolha ajuda a explicar porque jogos hoje têm muito
mais gols do que há duas décadas, quando iniciou trabalho
pioneiro
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 1985, quando o Datafolha
tabulou o seu primeiro jogo, saltava aos olhos que o futebol praticado na época era muito diferente
do disputado na década de 60.
Mas não existiam dados que
comprovassem o que já era percebido. Apenas argumentos.
Hoje, no ano do 20º aniversário
dos levantamentos esportivos do
instituto, os números falam por si.
É muito mais fácil explicar o que
todos observam, o quanto o esporte mais popular do planeta pode mudar em duas décadas.
O futebol atual é mais corrido e
menos individualista. Aliadas a
outros fatores, como a adoção, em
meados da década passada, dos
três pontos por vitória, essas mudanças fizeram com que a média
de gols marcados disparasse.
No Brasileiro recém-encerrado,
essa constatação atingiu o auge
com a quebra do recorde histórico de tentos anotados no torneio.
A rede balançou, em média, 3,13
vezes por partida. Em 1986, no
primeiro Nacional que contou
com o acompanhamento do Datafolha, a média era de 2,09.
A artilharia cresceu no mesmo
ritmo alucinante que o futebol do
passado sofreu duros golpes.
Na primeira metade da década
de 90, quem acompanhava um jogo assistia a cem trocas de passes a
mais do que hoje.
Na principal competição do planeta, a Copa do Mundo, a adoção
do estilo pingue-pongue aparece
com muito mais força.
A edição de 2002, na Coréia do
Sul e no Japão, ceifou 130 passes
em relação aos trocados nos EUA,
apenas oito anos antes.
Mas não foi só a correria em
campo que tornou mais fácil a
chegada ao gol. A explosão na artilharia também foi ajudada por
uma marcação bem mais frouxa.
Nos anos 90, eram comuns os
campeonatos que ostentavam
média de 150 desarmes por equipe. O último Brasileiro terminou
com quase 20 ações a menos.
A baixa não atingiu só a marcação leal. O número de faltas caiu.
A temporada 2005 terminou
com uma média de 48 infrações
por partida. A marca chegou a superar 55 na era Datafolha.
Nesse cenário, casos como o de
Gamarra, em 1998, saltam aos
olhos. O paraguaio atravessou
quatro jogos da Copa da França
sem anotar nem uma falta sequer.
Já seria um feito e tanto.
O zagueiro, porém, conseguiu
arrastar a marca por 765 minutos
em partidas oficiais. A performance fez seu técnico à época,
Vanderlei Luxemburgo, festejar a
primeira infração. Ele temia que o
pupilo "aliviasse" em alguns lances só para continuar invicto.
"Estava na melhor fase da carreira, tinha velocidade para chegar nas bolas mais facilmente.
Nunca me preocupei em fazer falta ou não, mas sempre tento antecipar a jogada", afirma Gamarra.
Menos lançamentos e dribles
A nova dinâmica de velocidade
e abertura em campo também
mexeu em outros pontos.
Fundamentos que fizeram o nome de grandes jogadores do passado estão em baixa.
Os lançamentos longos, que
consagraram Didi e Gérson, são
saudosamente lembrados hoje. O
fundamento já teve marcas de 13
tentativas por equipe. Em 2005,
caiu quase pela metade, com 7,4.
Assistir aos craques também
tem enchido cada vez menos os
olhos da torcida. Até jogadas que
começaram a ser tabuladas tardiamente já sentem uma queda,
como os dribles, acompanhados
pelo Datafolha desde 1997.
Pedaladas como as do atacante
Robinho são cada vez mais lampejos. Em 1997, a média de dribles
por equipe foi de 25,6. Em 2005,
essa marca ficou em 16,6.
Há casos, porém, que escapam
da explicação dos números e atravessam décadas desafiando regras e mudanças do esporte.
Romário, aos 39 anos, foi o artilheiro do Brasileiro deste ano.
O ímpeto para chegar aos 22
gols, apesar da idade, foi o mesmo
que ele mostrava em 1994, quando levou o Brasil ao tetra.
Não à toa é um dos jogadores
que, nas contas do Datafolha,
mais chutou a gol nas últimas
duas décadas. Apesar de o futebol
de hoje ser diferente do de 1985.
A enxurrada de números é
bem-vinda pela maioria dos treinadores. "O técnico pode conversar sobre o que se passou no jogo
e corrigir para a próxima partida", diz Zagallo, campeão do
mundo como jogador (1958 e
1962), como treinador (1970) e
hoje coordenador da seleção.
Mas existem também críticos.
"Quanto mais informação, melhor. Mas na hora de executar, sou
prático e antigo", afirma Emerson
Leão, técnico palmeirense.
(MARIANA LAJOLO E PAULO COBOS)
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