São Paulo, sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

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XICO SÁ

Toda soberba será castigada


Por que torcer por um só clube, se podemos fazer troça com quase todos, até com os bambambãs?

AMIGO TORCEDOR , amigo secador, fecham-se as cortinas, como diria o Fiori na latinha, e o corvo Edgar, que viveu mais um ano de belos agouros, incluindo o maracanazo de Cabañas, vem por meio desta fazer breve e informal prestação de contas, além de arriscar pérolas reflexivas sobre a humaníssima tarefa de desejar infortúnios ludopédicos aos semelhantes.
Por que torcer por um só clube, mesmo o do coração, se podemos fazer troça com quase todos, principalmente com os bambambãs?
Sim, todo secador, por mais que o ofício tenha a sua mística, reza pela cartilha do barbudo Marx e está do lado dos fracos e oprimidos. Essa é a epístola, a graça, a boa onda.
Nos clássicos, leitor Ronaldo Costa, nosso código de etiqueta manda que se agoure o time que não pode perder, sob pena de queda de técnico e instalação imediata de crise.
Assim como o Costa, da Vila Tolstoi, São Paulo, a legião que acompanha o corvo Edgar sempre tem uma dúvida sobre as "boas maneiras" dos secadores. Aos poucos, e democraticamente, vamos construindo a nossa tábua sagrada. Ora, por que ser devoto de um só time se mal decoramos o nome dos titulares? Não há tempo sequer para completar um álbum de figurinhas, lá se mandam os menos ruins para as Quixeramobins geladas do fim do mundo.
Por que ficar blasfemando com o Dunga se podemos secá-lo mesmo?
E nesse capítulo, o corvo grasnou horrores. Mesmo que a seleção conquiste vaga na Copa, não tem preço um 0x0 em casa com a Bolívia.
Ah, o meu velho Edgar, que este ano virou até charge animada do "Cartão Verde", na pena de Caco Galhardo, chega ao fim de mais uma jornada feliz pelo índice de aproveitamento de alheias desgraças.
Tem algo mais emocionante do que um golzinho aos 46 do segundo tempo, como aquele do varapau Washington, que tirou o todo soberbo São Paulo da Libertadores, essa religião para o tricolor paulista?
E depois, amigo, tem algo mais saboroso do que testemunhar outro castigo contra a soberba, desta vez contra o Renato Gaúcho, então treinador do mesmo Fluminense que derrubara o esquadrão do Rogério Ceni? Inesquecível LDU, do Equador, pátria de renomados feiticeiros.
Se ouve os chilreios da empáfia, o corvo se vinga. Nem havia pousado na sorte do Luxemburgo este ano, mas quando o professor disse que era o tal, o poderoso Edgar fez questão de carimbar-lhe o terno Armani -o Palmeiras saiu da condição de favorito para um sofrido quarto posto.
Sem esquecer, para não acusarem o corvo de proteção aos cavaleiros de São Jorge, do milagre de Carlinhos Bala, o homem que falou com Deus em um semáforo, no triunfo do Sport sobre o Corinthians no estádio que ficou conhecido, na Copa do Brasil, como a Ilha de Lost.
Embora alguns apaixonados não entendam, tudo isso não passa de gozação esportiva, como prosa de botequim entre amigos. Que em 2009 não me escrevam mais com ameaças. Tem um maluco, inclusive, que toda semana jura de morte o meu corvo. Outro, do mesmo naipe, disse que havia me denunciado ao Ibama por ter ave ilegal em casa.
A todos leitores, pois seco só times e torço por uma bela vida, um ano novo com muita graça, paz e saúde.

xico.folha@uol.com.br


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