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Terapia
Jovens presos na Fundação Casa de Sorocaba aprendem a jogar golfe , e funcionários já veem melhora de comportamento
THIAGO BRAGA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM SOROCABA
Quando criança, B., 16, via
os adultos jogando golfe e sonhava com o dia em que teria
idade para dar suas tacadas.
Precisou ser detido por tráfico de drogas e cumprir pena
na Fundação Casa para realizar o desejo de infância.
Faz três meses que o golfe
passou a ser parte da rotina
dos internos da unidade de
Sorocaba. A empatia com o
esporte foi imediata. Para
quem passa a maior parte do
tempo em ambientes fechados, uma hora diária ao ar livre é um privilégio.
"Quando a bolinha sobe e
começa a viajar, penso nos
passarinhos, nos aviões e
nos helicópteros que passam
aqui em cima. Penso na minha liberdade fora daqui",
afirma W., 15, também detido
por tráfico de drogas.
Em um campo improvisado, em meio a pequenos pés
de palmeiras, uma bananeira, diversas tampas de cimento e um reservatório de
água, os internos aprendem
a ter autocontrole, o que tem
contribuído para que fiquem
mais calmos e tenham um
convívio melhor entre eles.
"Eu bagunçava bastante,
xingava os funcionários, brigava com outros internos. O
golfe me deixou mais calmo.
Para me concentrar, tenho
que relaxar, distrair a cabeça", declara A., 15, detido há
um ano e dois meses.
"Em alguns adolescentes,
a melhora no comportamento chega a 80%. Diminuiu
muito o problema de atenção
e aumentou a concentração,
o que acarretou melhora na
sala de aula", diz a psicóloga
Francine Gonçalves, encarregada técnica e uma das responsáveis pela implantação
do golfe na unidade.
A iniciativa surgiu após
Francine descobrir que o
Saps (Serviço de Atendimento e Acompanhamento Psicossocial) de Sorocaba usava
o golfe na recuperação de pacientes com problemas neurológicos e psiquiátricos, e
também de alguns idosos.
Os benefícios são atribuídos a fatores como a liberação da energia dos pacientes
ao praticar o esporte e a consequente diminuição dos níveis de ansiedade.
"Isso acontece porque o
golfe trabalha o foco e a concentração. Você nunca vai
conseguir ter isso se não estiver tranquilo. Assim, aumenta a motivação deles e diminui a ansiedade", afirma Antônio de Oliveira Neto, responsável pelas aulas.
Nos três "buracos" improvisados do improvável circuito da fundação, de dimensões diminutas -56 m de
comprimento por 11 m de largura-, os internos também
aprendem ensinamentos que
pretendem usar quando estiverem em liberdade.
K., 16, detido por roubo a
mão armada, diz que o esporte o ajudou a "pensar melhor". Agora, projeta uma vida longe do crime.
"Quero fazer faculdade de
mecânica e ajudar minha avó
de 67 anos, que precisa de
ajuda, mas não pode contar
porque estou preso, pagando
pelo que fiz", diz K., resignado com o presente, mas esperançoso com o futuro.
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