São Paulo, domingo, 26 de dezembro de 2010

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Terapia

Jovens presos na Fundação Casa de Sorocaba aprendem a jogar golfe , e funcionários já veem melhora de comportamento

THIAGO BRAGA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM SOROCABA


Quando criança, B., 16, via os adultos jogando golfe e sonhava com o dia em que teria idade para dar suas tacadas. Precisou ser detido por tráfico de drogas e cumprir pena na Fundação Casa para realizar o desejo de infância.
Faz três meses que o golfe passou a ser parte da rotina dos internos da unidade de Sorocaba. A empatia com o esporte foi imediata. Para quem passa a maior parte do tempo em ambientes fechados, uma hora diária ao ar livre é um privilégio.
"Quando a bolinha sobe e começa a viajar, penso nos passarinhos, nos aviões e nos helicópteros que passam aqui em cima. Penso na minha liberdade fora daqui", afirma W., 15, também detido por tráfico de drogas.
Em um campo improvisado, em meio a pequenos pés de palmeiras, uma bananeira, diversas tampas de cimento e um reservatório de água, os internos aprendem a ter autocontrole, o que tem contribuído para que fiquem mais calmos e tenham um convívio melhor entre eles.
"Eu bagunçava bastante, xingava os funcionários, brigava com outros internos. O golfe me deixou mais calmo. Para me concentrar, tenho que relaxar, distrair a cabeça", declara A., 15, detido há um ano e dois meses.
"Em alguns adolescentes, a melhora no comportamento chega a 80%. Diminuiu muito o problema de atenção e aumentou a concentração, o que acarretou melhora na sala de aula", diz a psicóloga Francine Gonçalves, encarregada técnica e uma das responsáveis pela implantação do golfe na unidade.
A iniciativa surgiu após Francine descobrir que o Saps (Serviço de Atendimento e Acompanhamento Psicossocial) de Sorocaba usava o golfe na recuperação de pacientes com problemas neurológicos e psiquiátricos, e também de alguns idosos.
Os benefícios são atribuídos a fatores como a liberação da energia dos pacientes ao praticar o esporte e a consequente diminuição dos níveis de ansiedade.
"Isso acontece porque o golfe trabalha o foco e a concentração. Você nunca vai conseguir ter isso se não estiver tranquilo. Assim, aumenta a motivação deles e diminui a ansiedade", afirma Antônio de Oliveira Neto, responsável pelas aulas.
Nos três "buracos" improvisados do improvável circuito da fundação, de dimensões diminutas -56 m de comprimento por 11 m de largura-, os internos também aprendem ensinamentos que pretendem usar quando estiverem em liberdade.
K., 16, detido por roubo a mão armada, diz que o esporte o ajudou a "pensar melhor". Agora, projeta uma vida longe do crime.
"Quero fazer faculdade de mecânica e ajudar minha avó de 67 anos, que precisa de ajuda, mas não pode contar porque estou preso, pagando pelo que fiz", diz K., resignado com o presente, mas esperançoso com o futuro.


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