São Paulo, quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

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Hotéis lucram com escassez de piscinas

HAITI
Único equipamento de dimensões olímpicas no país espera por reforma e está sem uso há dez anos


MARCEL MERGUIZO
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE

A única piscina olímpica (50 m) de todo o Haiti está há dez anos vazia, aguardando dinheiro para manutenção.
Localizada no centro esportivo de Carrefour, a piscina faz parte do maior clube público do país caribenho.
"Precisamos de US$ 200 mil (R$ 340 mil) para reformar a piscina. Apresentamos o projeto há dois anos para o governo e, até agora, não tivemos resposta", disse o diretor do centro esportivo, Gerson Edee, que assumiu o Carrefour em março de 2008.
O governo não repassa dinheiro ao centro. Só banca os salários dos 50 funcionários.
Com o terremoto de janeiro do ano passado, que deixou 316 mil mortos, formou-se no centro esportivo um acampamento de desabrigados, com 600 famílias divididas em barracas que tomam o estacionamento e um dos campos de futebol.
O outro campo se tornou, no último ano, um hospital provisório. Mesmo depois da saída desse local de atendimento às vítimas do terremoto, permanece pendurada ao lado da piscina vazia de Carrefour uma grande bandeira da Cruz Vermelha.
Já as quatro quadras de basquete e o ginásio poliesportivo permanecem fechados com cadeado enquanto nenhuma atividade é realizada neles. O isolamento se dá para que os desabrigados não invadam mais instalações do centro esportivo.
Além da piscina vazia e deteriorada, também falta água no Carrefour. Mesmo assim, segundo Gerson Edee, 300 pessoas frequentam o clube haitiano diariamente.
Antes do terremoto, diz o dirigente, as instalações tinham o dobro de frequência.
Cada frequentador paga 50 gourde, a moeda local (pouco mais de R$ 2), para praticar esportes no Carrefour. Os moradores do acampamento podem participar das atividades três vezes por semana, sem pagar nada.
Em um país assombrado pela epidemia de cólera -foram quase 4.000 mortos nos últimos três meses- ver uma piscina cheia de água é raro.
E, com a única piscina olímpica do Haiti vazia, um nadador que deseja dar suas braçadas tem que procurar as poucas piscinas dos hotéis que restaram no país após o terremoto do ano passado.
Uma delas fica no rico distrito de Pétionville, na região metropolitana da capital do Haiti, Porto Príncipe.
Está a 18 km de distância do centro esportivo de Carrefour -o trajeto entre as duas piscinas, porém, demora cerca de duas horas de carro, devido ao trânsito caótico.
Em uma rua emoldurada por casarões, é possível nadar na piscina para hóspedes do hotel Montana. A diária custa desde US$ 150 (cerca de R$ 255). Já os visitantes podem nadar caso desembolsem US$ 6 (R$ 10) por dia.
No terremoto, morreram 200 hóspedes do hotel, soterrados pelos escombros. O número de quartos, um ano depois, passou de 145 para 44, e a reconstrução continua.

O jornalista MARCEL MERGUIZO viaja a convite da Jornada Haitiana pela Paz


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