São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Boicote a Pequim ganha força e divide UE

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

O deputado europeu Daniel Cohn-Bendit, um dos líderes dos protestos estudantis de Maio de 68 na França, quer atos de "desordem" e atletas usando faixas laranjas na Olimpíada de Pequim, em protesto contra a repressão chinesa no Tibete.
"Precisamos fazer com que os comunistas chineses realmente se arrependam de terem querido os Jogos", disse Cohn-Bendit, do Partido Verde alemão, à emissora francesa TV 2. "No espírito de Maio de 68, temos que causar desordem."
Pouco antes, em sessão extraordinária do Parlamento Europeu que discutiu a situação no Tibete, ele comparou os Jogos de Pequim aos de Berlim, em 1936, organizados pelos nazistas, e defendeu o boicote da União Européia à cerimônia de abertura, no dia 8 de agosto.
"Os Jogos Olímpicos numa ditadura são um ato político", justificou Cohn-Bendit. "Digo sim ao esporte. Que os atletas possam saltar, correr, nadar. Mas sem medo de que o sangue manche suas roupas."
Não foi tomada uma decisão sobre boicote, mas o presidente do Parlamento, Hans-Gert Pottering, disse que o dalai-lama, líder espiritual dos tibetanos, "é bem-vindo em qualquer momento". Deputados seguravam bandeiras do Tibete e vestiam camisas com o símbolo olímpico formado por algemas.
Descartada de início, a idéia de boicotar o evento ganha cada vez mais força e causa divisão entre os países da Europa.
Após ser considerada uma possibilidade pelo presidente da França na terça-feira, ontem foi a vez de o governo belga afirmar que poderá boicotar a abertura dos Jogos se a repressão no Tibete continuar.
O representante na Europa do dalai-lama falou à Folha que nenhuma medida de pressão deve ser descartada. "Não posso imaginar que o Ocidente consiga conviver com uma Olimpíada em um país em guerra com uma de suas regiões", disse Kelsang Gyaltzen.
Segundo o vice-premiê belga, Didier Reynders, um boicote não é a melhor solução, mas poderá ser adotado. "Não podemos excluir o pior."
Ainda na Bélgica, o ministro do Esporte da região de Flandres, Bert Anciaux, já avisou que não irá à abertura. "Se queremos fazer um alerta sobre violações de direitos humanos e culturais, a cerimônia de abertura é uma oportunidade."
Anciaux pediu a outro belga, o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Jaques Rogge, que tome uma atitude. "Está na hora de o COI provar que a concessão dos Jogos não é um cheque em branco", disse ele. "Ficar em silêncio agora significa ser cúmplice com o terror contra os tibetanos."
Entre os atos de "desordem" defendidos por Cohn-Bendit na Olimpíada estão o uso de faixas e chapéus de cor laranja pelos atletas e até a "ocupação" do centro de Pequim.
"Ouvi dizer que o acesso à Praça da Paz Celestial será bloqueado durante os Jogos", disse, lembrando a repressão do Exército contra um protesto no local, em 1989, que terminou com centenas de mortos. "Vamos ocupar a praça e ver se os tanques chineses intervêm."


Texto Anterior: Onipresença de meia já preocupa
Próximo Texto: Por igualdade, Canadá engaveta traje high-tech
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.