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Boicote a Pequim ganha força e divide UE
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
O deputado europeu Daniel
Cohn-Bendit, um dos líderes
dos protestos estudantis de
Maio de 68 na França, quer atos
de "desordem" e atletas usando
faixas laranjas na Olimpíada de
Pequim, em protesto contra a
repressão chinesa no Tibete.
"Precisamos fazer com que
os comunistas chineses realmente se arrependam de terem
querido os Jogos", disse Cohn-Bendit, do Partido Verde alemão, à emissora francesa TV 2.
"No espírito de Maio de 68, temos que causar desordem."
Pouco antes, em sessão extraordinária do Parlamento
Europeu que discutiu a situação no Tibete, ele comparou os
Jogos de Pequim aos de Berlim,
em 1936, organizados pelos nazistas, e defendeu o boicote da
União Européia à cerimônia de
abertura, no dia 8 de agosto.
"Os Jogos Olímpicos numa
ditadura são um ato político",
justificou Cohn-Bendit. "Digo
sim ao esporte. Que os atletas
possam saltar, correr, nadar.
Mas sem medo de que o sangue
manche suas roupas."
Não foi tomada uma decisão
sobre boicote, mas o presidente
do Parlamento, Hans-Gert Pottering, disse que o dalai-lama,
líder espiritual dos tibetanos,
"é bem-vindo em qualquer momento". Deputados seguravam
bandeiras do Tibete e vestiam
camisas com o símbolo olímpico formado por algemas.
Descartada de início, a idéia
de boicotar o evento ganha cada vez mais força e causa divisão entre os países da Europa.
Após ser considerada uma
possibilidade pelo presidente
da França na terça-feira, ontem
foi a vez de o governo belga afirmar que poderá boicotar a
abertura dos Jogos se a repressão no Tibete continuar.
O representante na Europa
do dalai-lama falou à Folha que
nenhuma medida de pressão
deve ser descartada. "Não posso imaginar que o Ocidente
consiga conviver com uma
Olimpíada em um país em
guerra com uma de suas regiões", disse Kelsang Gyaltzen.
Segundo o vice-premiê belga,
Didier Reynders, um boicote
não é a melhor solução, mas
poderá ser adotado. "Não podemos excluir o pior."
Ainda na Bélgica, o ministro
do Esporte da região de Flandres, Bert Anciaux, já avisou
que não irá à abertura. "Se queremos fazer um alerta sobre
violações de direitos humanos
e culturais, a cerimônia de
abertura é uma oportunidade."
Anciaux pediu a outro belga,
o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Jaques
Rogge, que tome uma atitude.
"Está na hora de o COI provar
que a concessão dos Jogos não
é um cheque em branco", disse
ele. "Ficar em silêncio agora
significa ser cúmplice com o
terror contra os tibetanos."
Entre os atos de "desordem"
defendidos por Cohn-Bendit
na Olimpíada estão o uso de
faixas e chapéus de cor laranja
pelos atletas e até a "ocupação"
do centro de Pequim.
"Ouvi dizer que o acesso à
Praça da Paz Celestial será bloqueado durante os Jogos", disse, lembrando a repressão do
Exército contra um protesto
no local, em 1989, que terminou com centenas de mortos.
"Vamos ocupar a praça e ver se
os tanques chineses intervêm."
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