São Paulo, sexta-feira, 27 de março de 2009

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XICO SÁ

Coisas da vida...

Como a mídia é capaz de ignorar o tropeço do Sport e negar os títulos da Taça Brasil e do Roberto Gomes Pedrosa?

AMIGO TORCEDOR , amigo secador, "coisas da vida, choque de opiniões", como diz a mais linda e dialética canção de Roberto & Erasmo, mas, por favor, quando teremos crônica esportiva nacional que trate do que interessa ao Brasil todo, e não só ao eixo Rio-São Paulo?
Jamais, já era, claro, então cada um que cuide de defender o seu nicho, o seu mundo... Graças a Deus os jornais e as revistas têm cada vez menos importância e um moleque de 15 ou um marmanjo de 50, com os seus blogs e maluquices, nas margens do Guaíba ou nas Alterosas, em Cruzeiro do Sul ou em uma lan house em Solidão, Pernambuco, podem fazer o mesmo barulho que um metido colunista deste ou de qualquer outro matutino do planeta.
Podem falar do primeiro tropeço importante do Sport no ano. Embora não tenha perdido a invencibilidade, empatou, no sufoco dos sufocos, anteontem, com o vice-lanterna estadual, o Ypiranga, mais conhecido como a máquina de costura, por causa da indústria agrestina da sulanca. Se isso diz algo no duelo com o Palmeiras, na Semana Santa, só o vento da Ilha de Lost sabe a resposta, mas não pode ser ignorado. A imprensa sudestina, não só em futebol mas também em política e crônica de costumes, hoje em dia vive de sustos, pois, a não ser em grandes tragédias ou exotismos, não atravessa sequer a ponte do Morumba, dividindo SP como se fosse uma Berlim pré-queda do muro.
As mesas-redondas passam a semana discutindo primeiro e segundo volante, até na cobertura de treinos da Canarinha, como se isso tivesse relevância. Gracias, Tostão, de novo, pela aula a cada escrita. Mas, como cantava o Luiz Américo, desculpe seu Zagallo, a crítica que faço é pura brincadeira, afinal sou ombudsman de boteco, cordialíssimo, nooossa, apesar do salário mais baixo que mecânico de skate.
E justiça seja feita. O "Brasil da Copa do Brasil", da ESPN, é o que mais chega perto do que se imagina de uma cobertura nacional do mais legítimo torneio de todos os brasileiros. Do alvinegro ASA de Arapiraca ao preto-e-branco do Corinthians. Nunca houve tanta isonomia ludopédica nessa zorra.

A bronca continua...
Mas realmente, mas rrrrealmente, como dizia Chacrinha, com todos os erres possíveis, não dá para entender a crônica que vê legitimidade naquele torneiozinho que vale um jipe ao fim do jogo -a tal Copa Toyota de uma pelada só- como um título de campeão do mundo... e... e ignora a Taça Brasil e a Roberto Gomes Pedrosa como títulos nacionais de responsa. Bons e empedernidos menudos ludopédicos, vos asseguro: queiram vocês ou não, oficialize a CBF ou não, houve futebol no país de Tostão, Ademir da Guia, Pelé e Garrincha antes de 1971, ano da graça de Dadá Peito de Aço e grande elenco do Clube Atlético Mineiro. Pior é que os cavalheiros da mesa-redonda falam como se tratassem do a.C. e do d.C. Não há como negar os títulos reivindicados por Santos, Botafogo, Palmeiras, Fluminense, Bahia e Cruzeiro. Tudo é história, o resto é lenda e Desafio ao Galo, com todo o respeito à várzea paulistana. O resto é torcida, coisa pouca para secador que se preza.

xico.folha@uol.com.br


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