São Paulo, sábado, 27 de março de 2010

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Brasil pede, e racismo no esporte vira tema da ONU

Com apoio de africanos, diplomacia nacional consegue aprovação de resolução

Texto cobra dos governos medidas práticas contra a xenofobia e a intolerância racial nos estádios e em suas arquibancadas

LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

A questão do racismo no esporte foi parar na ONU, em uma resolução para erradicá-lo apresentada pelo Brasil e por países africanos e aprovada ontem por uma rara unanimidade no Conselho de Direitos Humanos, em Genebra.
O texto cobra dos governos medidas práticas, como organizar e bancar campanhas pelo fim da xenofobia e da intolerância ligada a questões raciais nos campos e nas arquibancadas. A ONU convida também os países a incluírem o tema em seus relatórios sobre direitos humanos, apresentados a cada quatro anos ao conselho.
Dessa forma, será possível à entidade monitorar quais medidas cada governo está tomando para reduzir os incidentes.
"Casos recentes pedem uma ação urgente e firme da comunidade internacional para combatê-los", disse a embaixadora brasileira na ONU, Maria Nazareth Azevedo, na sessão. "Racismo e discriminação são incompatíveis com o esporte."
A resolução tem como gancho a Copa deste ano, na África do Sul, e a de 2014, no Brasil, além da Olimpíada do Rio-2016. "É uma iniciativa coerente com o que está acontecendo no Brasil e na África agora, com os grande eventos. São momentos muito emblemáticos para fazermos uma campanha", disse Azevedo à Folha.
O gesto é tremendamente simbólico. A África do Sul foi banida da maioria das federações esportivas depois de a ONU adotar, em 1985, uma Convenção para a Eliminação da Discriminação Racial no Esporte. Retornou apenas após o fim do regime segregacionista do apartheid, em 1994.
"Hoje, a África do Sul está pronta para receber a Copa. O governo sul-africano trabalhará para fortalecer o tema "Diga Não ao Racismo no Mundial", contribuindo para um clima de tolerância e diversidade", declarou na plenária o sul-africano Luvuyo Ndimeni.
"Episódios de racismo acontecem todo dia e em todo lugar, mas agora estão se tornando mais comuns", completou o embaixador nigeriano, Ostadinma Anaedu, ao apresentar o texto. "A resolução sublinha essa necessidade de investigar incidentes raciais, combater a impunidade e tomar medidas no campo do esporte."
Com a aprovação, a Alta Comissária da ONU para Direitos Humanos, Navi Pillay, insere a questão na agenda do organismo e convida os dirigentes de entidades esportivas, como a Fifa e o Comitê Olímpico Internacional, a debater medidas para combater o problema.
A resolução ganhou dezenas de copatrocinadores. Para o embaixador britânico, Peter Gooderham, a iniciativa é "excelente". "Grandes eventos internacionais são uma plataforma com muita influência para demonstrar a importância de se combater o racismo."


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