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Brasil pede, e racismo no esporte vira tema da ONU
Com apoio de africanos, diplomacia nacional consegue aprovação de resolução
Texto cobra dos governos medidas práticas contra a xenofobia e a intolerância racial nos estádios e
em suas arquibancadas
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
A questão do racismo no esporte foi parar na ONU, em
uma resolução para erradicá-lo
apresentada pelo Brasil e por
países africanos e aprovada ontem por uma rara unanimidade
no Conselho de Direitos Humanos, em Genebra.
O texto cobra dos governos
medidas práticas, como organizar e bancar campanhas pelo
fim da xenofobia e da intolerância ligada a questões raciais
nos campos e nas arquibancadas. A ONU convida também os
países a incluírem o tema em
seus relatórios sobre direitos
humanos, apresentados a cada
quatro anos ao conselho.
Dessa forma, será possível à
entidade monitorar quais medidas cada governo está tomando para reduzir os incidentes.
"Casos recentes pedem uma
ação urgente e firme da comunidade internacional para combatê-los", disse a embaixadora
brasileira na ONU, Maria Nazareth Azevedo, na sessão. "Racismo e discriminação são incompatíveis com o esporte."
A resolução tem como gancho a Copa deste ano, na África
do Sul, e a de 2014, no Brasil,
além da Olimpíada do Rio-2016. "É uma iniciativa coerente com o que está acontecendo no Brasil e na África agora, com os grande eventos. São
momentos muito emblemáticos para fazermos uma campanha", disse Azevedo à Folha.
O gesto é tremendamente
simbólico. A África do Sul foi
banida da maioria das federações esportivas depois de a
ONU adotar, em 1985, uma
Convenção para a Eliminação
da Discriminação Racial no Esporte. Retornou apenas após o
fim do regime segregacionista
do apartheid, em 1994.
"Hoje, a África do Sul está
pronta para receber a Copa. O
governo sul-africano trabalhará para fortalecer o tema "Diga
Não ao Racismo no Mundial",
contribuindo para um clima de
tolerância e diversidade", declarou na plenária o sul-africano Luvuyo Ndimeni.
"Episódios de racismo acontecem todo dia e em todo lugar,
mas agora estão se tornando
mais comuns", completou o
embaixador nigeriano, Ostadinma Anaedu, ao apresentar o
texto. "A resolução sublinha
essa necessidade de investigar
incidentes raciais, combater a
impunidade e tomar medidas
no campo do esporte."
Com a aprovação, a Alta Comissária da ONU para Direitos
Humanos, Navi Pillay, insere a
questão na agenda do organismo e convida os dirigentes de
entidades esportivas, como a
Fifa e o Comitê Olímpico Internacional, a debater medidas
para combater o problema.
A resolução ganhou dezenas
de copatrocinadores. Para o
embaixador britânico, Peter
Gooderham, a iniciativa é "excelente". "Grandes eventos internacionais são uma plataforma com muita influência para
demonstrar a importância de
se combater o racismo."
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