São Paulo, sábado, 27 de março de 2010

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JOSÉ GERALDO COUTO

A lógica da destruição


Quem é que ganha com a desfiguração de um time, como aconteceu com o Corinthians de um ano pra cá?


AGORA QUE a pesada barcaça corintiana começa a fazer água, fica evidente que o tal projeto para o centenário do clube se preocupou mais com o marketing do que com a montagem de um time que vença e, se possível, encante.
Contratações erráticas, em geral de jogadores em idade avançada e fora de forma, excesso de atletas em determinadas posições, escassez em outras, tudo isso deixa claro que as decisões não passaram pelo treinador e que os critérios do investimento não foram técnicos. Há quem diga que, se o Corinthians tivesse mantido o elenco do primeiro semestre do ano passado, quando conquistou o Paulistão e a Copa do Brasil, seria hoje o melhor time do país. É possível. E por que não o manteve?
Na época, o pequeno, mas crucial, desmanche parecia inevitável, segundo a lógica a que nos acostumamos. "Ah, os atletas se destacam, são assediados, o clube precisa fazer caixa etc." Nessa brincadeira, saíram três jogadores-chave: Douglas, Cristian e André Santos. A pergunta que não quer calar é: quanto o Corinthians ganhou com a saída deles? E quanto gastou depois para montar o atual arremedo de time?
Ou seja: o Corinthians gastou mais do que ganhou, e para ficar com uma equipe pior, tanto em termos de competitividade como de espetáculo. Se alguém levou vantagem com isso, não foi a nação corintiana.
O exemplo alvinegro pode ajudar a lançar luz a essa lógica burra que tem imperado entre nós. Será que algum clube terá a coragem e a clarividência de rompê-la, fazendo um esforço para manter seus jogadores ao menos ao longo de uma temporada inteira? O torcedor, com certeza, pagaria para ver os resultados.

Calvário e aleluia
Ouvi outro dia de um jovem torcedor corintiano, inteligente e bem informado: "O Santos joga bonito, dá gosto de ver, mas não é competitivo". Retruquei: "Como assim, não é competitivo? É o líder do campeonato, com média de quatro gols por partida".
Claro que, na fase dos mata-matas, o Santos poderá cair. Vitórias e derrotas fazem parte do esporte e dependem de uma infinidade de fatores, alguns deles muito circunstanciais. O ponto é que os que jogam feio também perdem, e com muito mais frequência.
Pensando sobre isso, cheguei à conclusão (provisória, como todas) de que existe um mecanismo psicológico perverso em boa parte dos torcedores, uma espécie de medo de ser feliz, como se dissessem: "Só venceremos se sofrermos. Só depois do calvário pode vir a aleluia".
O Santos de Pelé, o Flamengo de Zico e outros times memoráveis não respeitaram essa lógica. Os atuais meninos da Vila, ao que tudo indica, a ignoram.

Seleção, enfim
Escalo aqui, com atraso, a "minha" seleção brasileira para a Copa do Mundo. Tive o cuidado de escolher apenas jogadores que já foram convocados por Dunga.
Lá vai: Júlio César, Daniel Alves, Lúcio, Juan e Marcelo; Gilberto Silva (já que Anderson se contundiu e Lucas não está tão bem), Hernanes, Kaká e Ronaldinho; Robinho e Luis Fabiano.

jgcouto@uol.com.br


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