São Paulo, sexta-feira, 27 de abril de 2001

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AUTOMOBILISMO

Banido há 8 anos, dispositivo ameaça ascensão da Williams

Controle de tração retorna hoje à F-1 e divide opiniões

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A BARCELONA

Oito anos depois de ser banido da F-1, o controle da tração retorna hoje à categoria, divide opiniões, ameaça a festejada ascensão da Williams e deixa no ar a sensação de que, mesmo clandestino, nunca deixou de ser usado.
A reestréia do dispositivo tem horário marcado: 6h (de Brasília), início dos treinos livres para o GP da Espanha, quinta corrida do campeonato, em Barcelona.
Junto com o controle de tração, outros componentes eletrônicos estarão liberados (veja quadro), levando a F-1 a um estágio semelhante ao de 1993, quando esses dispositivos eram permitidos e os carros chegaram a ser chamados de "videogames sobre rodas".
Ao final daquele ano, uma decisão da FIA (entidade máxima do automobilismo) restringiu ao máximo a eletrônica na categoria.
Desde então, sempre pairaram suspeitas de que uma equipe ou outra estava fazendo uso do controle de tração. A Benetton, em 94 e 95, a Williams, em 96 e 97, e a Ferrari, neste ano, chegaram a ser alvo de acusações de times rivais, nunca comprovadas pela FIA.
A própria entidade, no entanto, reconheceu que não tinha como fiscalizar o uso do dispositivo, que impede as rodas de patinarem, dando vantagem aos pilotos em situações como largadas e saídas de curva. Foi o primeiro passo para que ele fosse legalizado.
A decisão pela volta do controle de tração aconteceu em fevereiro, após uma forte pressão das montadoras. Em contrapartida, a FIA exigiu que as fábricas passassem a trabalhar na adoção de novos equipamentos de segurança, a serem adotados a partir de 2002.
Apesar da vontade de seus chefes, poucos pilotos aprovam a decisão. Entre eles, o maior defensor da eletrônica é o atual campeão do mundo, Michael Schumacher.
"A eletrônica vai nos deixar muito mais livres para guiar no limite, e isso fará de nós pilotos melhores", declarou o alemão. "A habilidade de manter o carro constantemente no limite é que faz de alguém um bom piloto."
Rubens Barrichello, seu companheiro de Ferrari, não concorda. "Os pilotos que têm mais capacidade de controlar o carro no acelerador, como eu, serão nivelados àqueles que têm dificuldade."
Jarno Trulli, da Jordan, é o mais crítico. "É o doping da F-1", disse.
Ontem, em Barcelona, porém, os mais desanimados pela iminência dessa nova fase da categoria eram os homens da Williams.
A equipe, que até duas semanas atrás era vista como a maior ameaça à hegemonia Ferrari-McLaren, admite que não está preparada para usar o controle.
"Ainda estamos em processo de desenvolvimento", disse Mario Thiessen, diretor da BMW.
A montadora, parceira da Williams, estava fora da F-1 no início dos anos 90, quando o dispositivo viveu seu auge. Agora, corre para criar um sistema próprio.
"Simplesmente não estamos preparados", disse Ralf Schumacher, vencedor em Imola.


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