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Copa 2006
Torcida xinga italianos e faz lembrar Espanha-82
Como Paolo Rossi e a Azzurra há 24 anos, escândalo abala equipe
Jogadores hostilizados em
treinos ou obrigados a se
retratar de entrevistas: a
preparação da Itália para a
Copa está um autêntico caos
DA REPORTAGEM LOCAL
A tensão tomou conta da
concentração da Itália em Coverciano e trouxe à tona uma
lembrança de 1982. Jogadores
acusados de participação no escândalo de apostas ilegais e arranjo de resultados que abalou
o país foram hostilizados por
compatriotas ontem.
Diante das bombásticas revelações de favorecimento à Juventus (campeã em quatro dos
últimos cinco torneios), já há
quem torça por um insucesso
da Azzurra na Copa do Mundo.
O clima é idêntico ao que antecedeu a campanha da seleção
no Mundial da Espanha, há 24
anos. A equipe sofria com a desconfiança da torcida e tinha
resgatado do limbo um jogador
punido exatamente por atuar
num esquema de apostas clandestinas, Paolo Rossi.
A história conta que a Itália
foi tricampeã do mundo e que
Rossi, com seis gols (três deles
contra o Brasil), acabou artilheiro da competição na última
grande conquista do país.
Desta vez, o principal vilão
não é atacante, mas goleiro:
Gianluigi Buffon, um dos maiores astros da Juventus, sentiu a
ira da torcida ao tentar realizar
treinamentos físicos ontem.
Aos gritos de "ladrone" (ladrão),
um grupo de furiosos torcedores não deixou o atleta em paz.
Apesar de não estar implicado diretamente no escândalo, o
zagueiro Fabio Canavarro
(também da Juventus) foi outro alvo do protesto. Um dia antes, ele havia defendido o ex-diretor de seu clube Luciano
Moggi, pivô da investigação judicial que revelou -por meio
de escutas telefônicas- a podridão por trás do esporte.
A entrevista de Canavarro
pegou tão mal que a Federação
Italiana de Futebol (FIGC)
obrigou o atleta a se retratar. A
exigência foi do interventor da
entidade, Guido Rossi (o titular, Franco Carraro, teve de se
demitir no início do mês, quando estourou o escândalo).
"Só agora li os jornais e me
dei conta de que não transmiti
meu pensamento real. Também quero um futebol limpo e
sério. Quem se equivocou deve
ser punido", afirmou o jogador,
visivelmente constrangido.
Antes da "chamada" que tomou de Rossi, Canavarro -com
olhar desafiador- afirmara
que Moggi estava servindo apenas de bode expiatório porque
"trabalhava num sistema corrupto e fazia seu trabalho da
melhor maneira possível".
As interceptações telefônicas
reveladas no mês passado mostram, porém, que o cartola era
muito próximo dos designadores de arbitragem -um deles
chegou a receber um luxuoso
carro Maserati de presente.
Pelo menos seis clubes da Série A, nove árbitros e 41 jogadores estão sendo investigados. A
chamada "Operação Pés Limpos" pretende, até o início de
julho, punir os responsáveis.
Na seleção, é notável o temor
-especialmente entre os atletas de Juventus e Milan, que
são dez na lista dos 23- de que
a divulgação de novas gravações implique mais gente.
O técnico Marcelo Lippi já
está envolvido até o pescoço:
um de seus filhos trabalha com
Alessandro Moggi, filho de Luciano, na empresa GEA, que detém passes de uma centena de
jogadores de times de ponta.
No meio de tanta lama, Totti
(Roma), Toni (Fiorentina), Materazzi (Inter) e Peruzzi (Lazio)
foram aplaudidos pela torcida
no treino de ontem. Todos haviam levantado a voz contra a
corrupção no calcio.
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