São Paulo, domingo, 27 de maio de 2007

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Insone, Muricy testa sua durabilidade

Há oito anos sem ser demitido por resultados, técnico enfrenta até noites sem dormir para sair de crise, dizem amigos

Turbulências não afetam rotina do treinador com jogadores e cúpula, que inclui até avaliar reforços em partidas da A-3 na TV


DA REPORTAGEM LOCAL

"A última vez [em que os resultados me derrubaram] foi em 1999, no Botafogo de Ribeirão Preto", recorda Muricy. Passei por situações piores no Náutico, no Inter e no São Caetano, mas sempre atravessei essas fases. Espero que também consiga agora."
Dita perto do fim da entrevista, a frase serviu para Muricy Ramalho admitir que vive seu momento de maior insegurança no São Paulo, às vésperas do clássico com o Palmeiras.
Há oito anos, o treinador não sabe o que é ser derrubado em razão dos resultados, tendo passado por nada menos que Náutico, Santa Cruz, Figueirense, Internacional, São Caetano e, agora, o São Paulo.
Mas a falta de costume foi suficiente para que os dias de crise -que incluíram uma reunião em que o presidente Juvenal Juvêncio cobrou do treinador a escalação dos recém-contratados na estréia do Brasileiro- tenham trazido até insônia a um treinador acostumado a cumprir contratos.
Nesses oito anos, sua única demissão, no São Caetano, em 2004, veio não pelos resultados -o técnico havia levado o clube ao um inédito Paulista. "Aquilo ali foi por motivos que não vem ao caso falar, já passou."
Seu contrato com o Morumbi é de dois anos e se encerrará em dezembro. No momento, a diretoria são-paulina garante que uma derrota para o Palmeiras não é suficiente para tirá-lo do comando da equipe. Ainda que seja uma decisão barata.
Segundo o termo, caso quisesse a rescisão, o São Paulo só precisaria pagar um mês a mais de direito de imagem -maior parte do salário de Muricy- e 50% do valor restante do contrato trabalhista até dezembro.
Com as eliminações no Paulista e na Libertadores e cobrado pelos dirigentes do São Paulo, Muricy teve problemas para dormir na véspera da partida. Segundo pessoas próximas, ficou dois dias sem dormir antes do jogo com o Náutico, pensando o que deveria mudar.
"As derrotas me deixam doente", disse Muricy anteontem, no CT do São Paulo. "Não aceito. Mas não baixo a guarda nunca. Sei que a vida é assim, as derrotas sempre acontecem, mas continuo não me conformando com elas. Só que prossigo com o meu trabalho, sem desanimar nunca."
No time mexeu, mas nada mudou sua rotina. Continua um técnico de tratamento extremamente profissional com seus superiores, inclusive avesso a jantares com conselheiros e dirigentes do clube.
Segundo um confidente do técnico, "Muricy diz que conhece quem manda no São Paulo e, quando precisa falar com ele, vai direto à sala".
Ainda segundo amigos, na época do Inter, mesmo gozando de certa amizade com o presidente de então, Fernando Carvalho, nunca se encontrou com ele para conversar assuntos relacionados a trabalho fora das dependências do clube.
No São Paulo, entre os jogadores, a rotina do técnico tampouco se altera com o ar de crise. "O jeito do Muricy trabalhar não mudou nada. Continua tudo do mesmo jeito nas reuniões, na preleção", afirmou o volante Hernanes.
Nas entrevistas, repete o conformismo com as críticas que recebe. Repassa que, no Brasil, não se discute o trabalho, apenas os resultados. Sabe que o título brasileiro e os seis meses sem derrota à frente do São Paulo são passado.
"Pelo menos, hoje as pessoas já viram que a continuidade do trabalho dá mais frutos. Vocês jornalistas já entenderam, isso já mudou", declara o técnico.
O próprio Muricy afirma que ainda assiste a DVDs de jogadores em busca de reforços baratos. Que ainda vê, com interesse, jogos da Série A-3 na TV.
"Esses dias eu vi Olímpia e Monte Azul. É mole? Tem que gostar muito disso aqui. E olha que não falta jogo chato hoje."
Sobre os DVDs, Muricy conta que não param de chegar, sempre com a promessa de um jogador muito promissor. A maioria, diz ele, vem pelas mãos de amigos do futebol que se aventuram como agentes.
"Vejo os DVDs porque são pessoas que a gente sempre tenta ajudar", afirma. "Mas aí, quando o cara me diz que o jogador é bom, eu sempre pergunto: "É bom mesmo? Serve para pegar o Boca diante de 70 mil pessoas no Morumbi?" Minha realidade é essa." (MÁRVIO DOS ANJOS E RODRIGO MATTOS)

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