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Insone, Muricy testa sua durabilidade
Há oito anos sem ser demitido por resultados, técnico enfrenta até noites sem dormir para sair de crise, dizem amigos
Turbulências não afetam rotina do treinador com jogadores e cúpula, que inclui até avaliar reforços
em partidas da A-3 na TV
DA REPORTAGEM LOCAL
"A última vez [em que os resultados me derrubaram] foi
em 1999, no Botafogo de Ribeirão Preto", recorda Muricy.
Passei por situações piores no
Náutico, no Inter e no São Caetano, mas sempre atravessei essas fases. Espero que também
consiga agora."
Dita perto do fim da entrevista, a frase serviu para Muricy
Ramalho admitir que vive seu
momento de maior insegurança no São Paulo, às vésperas do
clássico com o Palmeiras.
Há oito anos, o treinador não
sabe o que é ser derrubado em
razão dos resultados, tendo
passado por nada menos que
Náutico, Santa Cruz, Figueirense, Internacional, São Caetano e, agora, o São Paulo.
Mas a falta de costume foi suficiente para que os dias de crise -que incluíram uma reunião em que o presidente Juvenal Juvêncio cobrou do treinador a escalação dos recém-contratados na estréia do Brasileiro- tenham trazido até insônia
a um treinador acostumado a
cumprir contratos.
Nesses oito anos, sua única
demissão, no São Caetano, em
2004, veio não pelos resultados
-o técnico havia levado o clube
ao um inédito Paulista. "Aquilo
ali foi por motivos que não vem
ao caso falar, já passou."
Seu contrato com o Morumbi
é de dois anos e se encerrará em
dezembro. No momento, a diretoria são-paulina garante que
uma derrota para o Palmeiras
não é suficiente para tirá-lo do
comando da equipe. Ainda que
seja uma decisão barata.
Segundo o termo, caso quisesse a rescisão, o São Paulo só
precisaria pagar um mês a mais
de direito de imagem -maior
parte do salário de Muricy- e
50% do valor restante do contrato trabalhista até dezembro.
Com as eliminações no Paulista e na Libertadores e cobrado pelos dirigentes do São Paulo, Muricy teve problemas para
dormir na véspera da partida.
Segundo pessoas próximas, ficou dois dias sem dormir antes
do jogo com o Náutico, pensando o que deveria mudar.
"As derrotas me deixam
doente", disse Muricy anteontem, no CT do São Paulo. "Não
aceito. Mas não baixo a guarda
nunca. Sei que a vida é assim, as
derrotas sempre acontecem,
mas continuo não me conformando com elas. Só que prossigo com o meu trabalho, sem desanimar nunca."
No time mexeu, mas nada
mudou sua rotina. Continua
um técnico de tratamento extremamente profissional com
seus superiores, inclusive avesso a jantares com conselheiros
e dirigentes do clube.
Segundo um confidente do
técnico, "Muricy diz que conhece quem manda no São
Paulo e, quando precisa falar
com ele, vai direto à sala".
Ainda segundo amigos, na
época do Inter, mesmo gozando de certa amizade com o presidente de então, Fernando
Carvalho, nunca se encontrou
com ele para conversar assuntos relacionados a trabalho fora
das dependências do clube.
No São Paulo, entre os jogadores, a rotina do técnico tampouco se altera com o ar de crise. "O jeito do Muricy trabalhar
não mudou nada. Continua tudo do mesmo jeito nas reuniões, na preleção", afirmou o
volante Hernanes.
Nas entrevistas, repete o
conformismo com as críticas
que recebe. Repassa que, no
Brasil, não se discute o trabalho, apenas os resultados. Sabe
que o título brasileiro e os seis
meses sem derrota à frente do
São Paulo são passado.
"Pelo menos, hoje as pessoas
já viram que a continuidade do
trabalho dá mais frutos. Vocês
jornalistas já entenderam, isso
já mudou", declara o técnico.
O próprio Muricy afirma que
ainda assiste a DVDs de jogadores em busca de reforços baratos. Que ainda vê, com interesse, jogos da Série A-3 na TV.
"Esses dias eu vi Olímpia e
Monte Azul. É mole? Tem que
gostar muito disso aqui. E olha
que não falta jogo chato hoje."
Sobre os DVDs, Muricy conta
que não param de chegar, sempre com a promessa de um jogador muito promissor. A
maioria, diz ele, vem pelas
mãos de amigos do futebol que
se aventuram como agentes.
"Vejo os DVDs porque são
pessoas que a gente sempre
tenta ajudar", afirma. "Mas aí,
quando o cara me diz que o jogador é bom, eu sempre pergunto: "É bom mesmo? Serve
para pegar o Boca diante de 70
mil pessoas no Morumbi?" Minha realidade é essa."
(MÁRVIO DOS ANJOS E RODRIGO MATTOS)
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