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JOSÉ ROBERTO TORERO
Leocádio, a Turquia e o corte de cabelo
Desta vez a minha mãe
nem precisou me chamar, porque o pessoal
da rua estourou tantos fogos e
tocou tanto aquele cornetão
que faz uóóó que eu acordei cedo e botei meu uniforme. Aí eu
fui para a sala, e todo mundo já
estava lá. O meu tio Torero comia um pão com manteiga, o
meu pai comia pipoca e o meu
avô comia uma papa de bebê.
Eu não tive aula de novo. Eu
adoro a Copa!
Logo que o jogo começou, o
meu pai disse que estava com
saudade do Ronaldinho. Aí eu
aproveitei e disse que queria
deixar o meu cabelo que nem o
dele, bem comprido e com tiara.
Então o meu pai me olhou daquele jeito que quer dizer "Pára
de pensar nisso, Lelê!". Aí eu
mudei de idéia e disse que ia
cortar careca que nem o Roberto Carlos, mas o meu avô, que
não tem mais cabelo, disse que
no frio era muito ruim.
O pessoal estava bem nervoso.
O meu tio roía tanto a unha que
eu achei que ele ia acabar comendo o dedo. A minha mãe
toda hora falava: "Eu não fico
mais nessa sala", e saía xingando, mas depois voltava de mansinho e se sentava de novo no
mesmo lugar.
Ficou assim até quando o Ronaldo fez o gol. Aí meu pai falou
que ele era um craque, meu tio
disse que ele era sensacional,
meu avô falou que ele era um
fenômeno e minha mãe disse
que ele era lindo. Então eu disse
que ia cortar o meu cabelo que
nem o Ronaldo. Mas aí todo
mundo gritou: "Nããão!". Às vezes é difícil entender os adultos.
torero@uol.com.br
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