São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002

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JOSÉ ROBERTO TORERO

Leocádio, a Turquia e o corte de cabelo

Desta vez a minha mãe nem precisou me chamar, porque o pessoal da rua estourou tantos fogos e tocou tanto aquele cornetão que faz uóóó que eu acordei cedo e botei meu uniforme. Aí eu fui para a sala, e todo mundo já estava lá. O meu tio Torero comia um pão com manteiga, o meu pai comia pipoca e o meu avô comia uma papa de bebê.
Eu não tive aula de novo. Eu adoro a Copa!
Logo que o jogo começou, o meu pai disse que estava com saudade do Ronaldinho. Aí eu aproveitei e disse que queria deixar o meu cabelo que nem o dele, bem comprido e com tiara. Então o meu pai me olhou daquele jeito que quer dizer "Pára de pensar nisso, Lelê!". Aí eu mudei de idéia e disse que ia cortar careca que nem o Roberto Carlos, mas o meu avô, que não tem mais cabelo, disse que no frio era muito ruim.
O pessoal estava bem nervoso. O meu tio roía tanto a unha que eu achei que ele ia acabar comendo o dedo. A minha mãe toda hora falava: "Eu não fico mais nessa sala", e saía xingando, mas depois voltava de mansinho e se sentava de novo no mesmo lugar.
Ficou assim até quando o Ronaldo fez o gol. Aí meu pai falou que ele era um craque, meu tio disse que ele era sensacional, meu avô falou que ele era um fenômeno e minha mãe disse que ele era lindo. Então eu disse que ia cortar o meu cabelo que nem o Ronaldo. Mas aí todo mundo gritou: "Nããão!". Às vezes é difícil entender os adultos.

torero@uol.com.br



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