São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002

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SONINHA

Crença na penitência é a única explicação


Luiz Felipe acredita em penitência; só podemos alcançar a felicidade se houver sofrimento. É a única explicação


Ufa! "Deu a lógica" (por mais irônico que seja falar em lógica, especialmente nesta Copa): o Brasil disputando o título, e a Turquia disputando com a Coréia o terceiro lugar. É o suficiente em termos de surpresa.
Não vou mentir. Embora soubesse que o Brasil poderia estar na final, nunca acreditei seriamente nisso. Primeiro, porque sou naturalmente pessimista -com a seleção brasileira, com meu time e com todas as coisas. Prefiro esperar o pior, para não me decepcionar (atenção, é bem diferente de torcer para o pior). Eu nunca me esqueço de que "shit happens", como dizem os gringos. Mesmo com tudo certo, tudo sendo bem-feito, as coisas podem sair erradas.
E a verdade é que não estávamos fazendo tudo certo. Mas a lei das probabilidades também funciona ao contrário: com todos os problemas, aos trancos e barrancos, dá para chegar lá. É a nossa história nesta Copa (e também a da Alemanha).
Merecemos a vitória contra a Turquia, sem dúvida. Atacamos muito mais do que eles -no primeiro tempo, com os laterais e com Rivaldo. No segundo, com ótimo aproveitamento de Ronaldo, que quase não tinha sido acionado no começo do jogo. Mesmo fora da condição ideal, ele desequilibra.
Depois do intervalo, marcando a saída de bola e adiantando o meio-campo, mostramos "quem é que manda". Logo em seguida, renunciamos ao domínio, deixando a Turquia jogar no nosso campo e passando por uma aflição totalmente desnecessária.
Mas a defesa trabalhou bem, com os laterais marcando lá atrás, como na tradicional linha de quatro.
Ressurge aqui a pergunta inevitável: por que não saiu um dos zagueiros, para a entrada de mais um jogador no meio-campo?
Luiz Felipe parece acreditar em penitência; só podemos alcançar a felicidade se houver sofrimento. É a única explicação.
Com a ausência de Ronaldinho, esperava-se a entrada de um meia desde o começo - Ricardinho, Juninho e Kaká, cada um com sua característica, seriam bem-vindos. Em vez de escolher logo um deles e treinar o máximo possível para ganhar entrosamento, o técnico testou várias formações e escolheu Edílson, que ajuda menos na criação e na marcação do que os outros e não é exatamente decisivo no ataque.
Enfim, podemos ser campeões. E Felipão vai dizer que tinha razão o tempo todo, fazer o quê?...

soninha.folha@uol.com.br



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