São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 2006

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No apito, Itália obtém vingança

Com gol de pênalti inexistente, Azzurra tira da Copa técnico que a eliminou em 2002 com a Coréia

Guus Hiddink, que há quatro anos foi ajudado pela arbitragem, reclama do lance e critica estilo de jogo da seleção italiana


Oleg Popov/Reuter
Totti comemora o gol da classificação, após converter pênalti cavado por Grosso em cima de Neill em Kaiserslautern


RODRIGO BUENO
ENVIADO ESPECIAL A KAISERLAUTERN

Direto ao que interessa: não foi pênalti. Mas, mesmo para os italianos que pensam assim, pouco importa.
A Itália conseguiu ontem uma doce vingança de sua eliminação na Copa de 2002.
O 1 a 0 sobre a Austrália de Guus Hiddink aos 49min do segundo tempo colocou agora a Azzurra como beneficiada pela arbitragem, diferentemente do que ocorreu contra a Coréia do Sul, então dirigida pelo técnico holandês, há quatro anos.
""Quem vê o lance pela televisão não tem dúvida nenhuma: não foi pênalti", disse Hiddink após o jogo, mesmo sem reclamar muito da arbitragem do espanhol Luis Medina Cantalejo.
""Sim, foi pênalti. Houve duas faltas no Grosso no lance. Primeiro, o Bresciano fez uma falta nele, que não caiu. Depois, veio um outro [Neill] e fez a segunda falta", afirmou Marcello Lippi, técnico da Itália.
O lance que definiu o jogo aconteceu em um esporádico contra-ataque da Itália na segunda etapa, pois, após a expulsão do zagueiro Materazzi aos 5min do segundo tempo, a Azzurra tratou de se fechar.
""Enfrentamos um time melhor ranqueado e o que se esperava é que a Itália dominasse a Austrália. Mas nós controlamos o jogo. Tivemos algumas chances, mas falhamos no passe final", falou Hiddink, que viu frustrados seus planos de chegar à terceira semifinal seguida da Copa -levou a Holanda em 1998 e a Coréia em 2002.
O treinador holandês não pôde contar ainda ontem com um de seus principais jogadores. Kewell, contundido, chegou de muletas ao estádio.
Lippi, que não teve De Rossi, suspenso, e Nesta, contundido, reconheceu o sufoco tomado na segunda etapa, mas não viu uma Itália dominada em campo. ""No primeiro tempo, tivemos quatro chances claras de gol. Quando o jogo ficou 10 contra 11, sofremos um pouco, mas mostramos caráter, coração."
O técnico da Azzurra tem exaltado a força de seu grupo. ""Usei 20 jogadores já no Mundial, número que talvez nenhuma outra seleção tenha usado. E isso por necessidade. Estamos superando tudo", afirmou.
Sobre a vingança contra Hiddink, ele preferiu apenas elogiar o treinador rival. ""Ele é um cara muito simpático." Mas Hiddink não foi nada simpático quando foi indagado por um jornalista italiano o que tinha mudado na Azzurra em quatro anos: ""Não há muita diferença. O time italiano pratica um jogo defensivo, forma uma parede atrás, não procura em nenhum momento um futebol atrativo."
Mesmo não sendo lá muito atrativo, o atacante Toni, que começou jogando para a surpresa de muitos, teve oportunidade de cabeça após cruzamento de Del Piero e em giro de canhota para Schwarzer defender com o pé.
""A Austrália teve mais posse de bola, mas nós nunca deixamos de acreditar", afirmou o atacante que marcou 31 gols na temporada passada na Série A -a Austrália ficou com a bola por 29min53s, e a Itália, por apenas 21min36s.
A Austrália também teve suas chances, tanto que Buffon, o goleiro italiano, foi eleito o melhor do jogo -Chipperfield por duas vezes chutou forte praticamente na cara do arqueiro, que defendeu. ""Fiz até mais defesas contra a República Tcheca, mas talvez tenha sido mais importante nesse jogo", afirmou Buffon.
O goleiro disse ter passado em sua cabeça imagens da eliminação de 2002 e não quis nem ver o pênalti cobrado e convertido por Totti. ""É preciso ter coragem, pois vem na cabeça tragédia, Coréia... Não tive coragem para ver o pênalti, mas Totti estava tranqüilo, sabe o que fazer nessas horas decisivas e bateu bem", disse ele.
O volante Gattuso, por sua vez, disse não ter se abalado em momento nenhum. ""Eles [australianos] não davam um simples chute no gol. A impressão era a de que não fariam gol nunca. É muito bom estar entre os oito melhores do mundo. Espero enfrentar a Ucrânia, pois a Suíça é melhor", afirmou ele, que teve seu desejo atendido -a Ucrânia é o rival das quartas, nesta sexta-feira.
Já Guus Hiddink poderá tentar um desempate em seu duelo particular contra os italianos em Copas em 2010 na África do Sul. Mas antes terá de levar a Rússia, sua nova seleção, até lá.


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