São Paulo, domingo, 27 de junho de 2010

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Solto

Arranques fulminantes e festival de finalizações fazem de Messi, agora "livre" também na Argentina, o jogador mais perigoso da Copa-2010

DO ENVIADO A PRETÓRIA

Nenhum jogador foi tão perigoso individualmente na primeira fase da Copa-2010 quanto Messi. É o que indicam as estatísticas da Fifa e é o que mostra o temor dos adversários ao marcá-lo.
Seu desempenho foi tão superior a outros que levou seu técnico, Maradona, a pedir a coroa para o pupilo. Análise precoce, diga-se, pois agora começam os mata-matas do Mundial.
Mas Messi se revela como um fator de desequilíbrio ao ser responsável por 18 corridas solitárias em direção ao gol, segundo a Fifa.
Dessas, só duas foram desarmadas com sucesso pelos rivais. Ninguém se aproximou desse desempenho.
Não foram arrancadas em vão. É também do camisa 10 o maior número de chutes a gol do Mundial: foram 20.
Pode-se alegar que a falta de gols compromete sua objetividade. Mas essa afirmação se esvai quando se constata que 11 de seus chutes foram na meta. Dois na trave.
Os números não traduzem a plasticidade dos lances que Messi protagonizou. Como quando, em três corridas sem ser contido, finalizou com chutes em curva para defesas do nigeriano Enyeama, na estreia argentina na Copa.
Nada surpreendente quando se lembra que foi o melhor do mundo com a camisa do Barcelona. Mas representa uma virada quando se rememora seu desempenho na seleção, de parcos resultados nas eliminatórias.
"Estou solto na seleção. É a primeira vez que acontece", contou Messi, em entrevista ao "Olé". Admitiu que, se a seleção fosse um clube, teria pedido transferência para outro time. "Mal pisava no país e me criticavam."
Ao sair da Argentina, aos 12 anos, para o time espanhol, perdeu os vínculos. Era visto como estrangeiro em casa. Quem convivia com ele na seleção o via retraído.
A chegada de Maradona ajudou, mas foi o hábito de estar com o grupo atual na preparação antes da Copa que o deixou à vontade.
Messi reduziu suas partidas de PlayStation e as trocou pelo baralho: truco com técnico e companheiros. Foi colocado no quarto com Verón, o mais experiente do grupo, que virou seu tutor.
Arranjou em Pretória, cidade em que o time se concentra na África do Sul, uma casa, onde estão seus irmãos e a namorada. Lá passa as folgas e comemorou seu aniversário de 23 anos.
Maradona ainda lhe cedeu a tarja de capitão quando Mascherano foi poupado.
Integrado, Messi não só protagonizou corridas solitárias como se tornou um dos mais participativos do time. Foram 217 passes na primeira fase da Copa, mais de 70 por jogo. É o argentino que mais tocou na bola e o quarto em um Mundial em que os volantes costumam prevalecer com seus toques laterais.
Resultado de um Messi que, agora, olha no olho do interlocutor, como observou Maradona. Fala verdades doídas, chama adversários de sujos, impõe-se. Bem longe da imagem do jovem passivo impotente no banco argentino na eliminação diante da Alemanha em 2006.
"Está amadurecendo. Já não é aquele garoto de 18 anos. É natural", crava Maradona.
(RODRIGO MATTOS)


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