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FUTEBOL
Tudo azul
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O São Caetano está com uma
mão na Taça Libertadores
da América, e o Cruzeiro é finalista da Copa dos Campeões. Azulou geral.
A vitória do São Caetano sobre
o Olimpia, no Defensores del Chaco, foi tão categórica e tranquila
que nem chegou a ter contornos
épicos. Como definiu bem o jornal
argentino "Clarín", "o Olimpia
não teve argumentos".
Desde o início da partida, só
deu o Azulão. Com dez minutos,
o time do ABC já tinha feito dois
gols, ainda que ambos em situação de impedimento.
A superioridade do São Caetano comprova que o time amadureceu e se aperfeiçoou técnica e
taticamente nos últimos anos.
O Azulão de hoje é ainda melhor que o que perdeu a controvertida final da Copa João Havelange para o Vasco, há dois anos e
meio, no Rio.
Seu ponto forte, a meu ver, continua sendo a consistência do
meio-de-campo. De 2000 para cá,
saíram Claudecir, Simão e Esquerdinha. Em compensação,
vieram Robert e Marcos Senna. E
Adãozinho continuou. Aos 34
anos, parece mais inteligente e
bem disposto do que nunca.
Nunca é demais lembrar que
nesse meio-de-campo há somente
um volante claramente defensivo,
Marcos Senna, que, por sua vez,
está longe de ser um mero trombador.
Na defesa, nas laterais e no ataque, preservou-se o mesmo nível
de qualidade.
O baixinho Anaílson e o gigante
Somália são opostos que se completam muito bem. O primeiro,
com sua rapidez e habilidade para o drible, abre os espaços para
que o outro imponha seu vigor e
sua estatura. E os dois são assessorados pelo experiente Aílton,
quase um terceiro atacante.
A constante troca de posições
entre os jogadores do meio-de-campo e do ataque é uma das armas mais fortes do São Caetano,
ao lado da saída rápida da defesa
para o ataque.
Melhor dizendo: essa saída só é
rápida justamente porque existe
a contínua movimentação dos jogadores no meio e na frente. Os
defensores e os meio-campistas
têm sempre alguém desmarcado
para passar a bola.
Esse é um ponto importante e
raramente abordado como merece. A tão falada "qualidade do
passe" depende não apenas de
quem passa a bola, mas também
de quem se coloca para receber.
Eu diria até que, a partir de um
certo patamar técnico médio dos
jogadores, ela depende até mais
de quem recebe do que de quem
passa. Se o sujeito levanta a cabeça e só vê adversários (porque
seus companheiros estão todos
"escondidos" ou mal colocados), é
obrigado a tentar driblar ou a dar
um chutão para a frente.
O jogo do São Caetano flui e envolve o adversário, portanto, graças aos vários fatores mencionados acima: qualidade dos jogadores de meio-campo, movimentação constante de quem está sem a
bola, sentido coletivo do jogo.
Mesmo que perca o título da
Taça Libertadores para o Olimpia, o São Caetano deve ser visto
como um ótimo exemplo.
Merecem aplausos sua direção
(pela política inteligente de contratações e por pagar em dia os
salários dos atletas, algo que deveria ser a regra, mas não é), seu
treinador Jair Picerni (que manteve o padrão de jogo da equipe
do ABC paulista apesar das mudanças no elenco) e seus jogadores (que não são estrelas, mas jogam um futebol eficiente e bonito
de ver).
Fim da novela
A decisão do STJ de permitir
à CBF que organize o Brasileirão com os clubes classificados para o torneio me pareceu fundamentalmente
correta. No aspecto imediato,
foi beneficiado o Figueirense,
que, apesar da irregularidade
da invasão de torcida em seu
último jogo na Série B, tem
mais legitimidade para subir
à Série A que o Caxias, protagonista de um vergonhoso
"cai-cai" em jogo com o Avaí.
Mas o mais importante é o
sentido duradouro da sentença, que deve arrefecer a
tendência de clubes e políticos de abusar das liminares e
de outros recursos jurídicos.
Mesmo que as reivindicações
fossem legítimas, esse tipo de
guerra judicial estava truncando e, no limite, inviabilizando o processo de organização e estabilização dos torneios. Agora cabe à CBF fazer
a sua parte, estabelecendo regras claras para as competições e cumprindo-as.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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