São Paulo, sábado, 27 de julho de 2002

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FUTEBOL

Tudo azul

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O São Caetano está com uma mão na Taça Libertadores da América, e o Cruzeiro é finalista da Copa dos Campeões. Azulou geral.
A vitória do São Caetano sobre o Olimpia, no Defensores del Chaco, foi tão categórica e tranquila que nem chegou a ter contornos épicos. Como definiu bem o jornal argentino "Clarín", "o Olimpia não teve argumentos".
Desde o início da partida, só deu o Azulão. Com dez minutos, o time do ABC já tinha feito dois gols, ainda que ambos em situação de impedimento.
A superioridade do São Caetano comprova que o time amadureceu e se aperfeiçoou técnica e taticamente nos últimos anos.
O Azulão de hoje é ainda melhor que o que perdeu a controvertida final da Copa João Havelange para o Vasco, há dois anos e meio, no Rio.
Seu ponto forte, a meu ver, continua sendo a consistência do meio-de-campo. De 2000 para cá, saíram Claudecir, Simão e Esquerdinha. Em compensação, vieram Robert e Marcos Senna. E Adãozinho continuou. Aos 34 anos, parece mais inteligente e bem disposto do que nunca.
Nunca é demais lembrar que nesse meio-de-campo há somente um volante claramente defensivo, Marcos Senna, que, por sua vez, está longe de ser um mero trombador.
Na defesa, nas laterais e no ataque, preservou-se o mesmo nível de qualidade.
O baixinho Anaílson e o gigante Somália são opostos que se completam muito bem. O primeiro, com sua rapidez e habilidade para o drible, abre os espaços para que o outro imponha seu vigor e sua estatura. E os dois são assessorados pelo experiente Aílton, quase um terceiro atacante.
A constante troca de posições entre os jogadores do meio-de-campo e do ataque é uma das armas mais fortes do São Caetano, ao lado da saída rápida da defesa para o ataque.
Melhor dizendo: essa saída só é rápida justamente porque existe a contínua movimentação dos jogadores no meio e na frente. Os defensores e os meio-campistas têm sempre alguém desmarcado para passar a bola.
Esse é um ponto importante e raramente abordado como merece. A tão falada "qualidade do passe" depende não apenas de quem passa a bola, mas também de quem se coloca para receber.
Eu diria até que, a partir de um certo patamar técnico médio dos jogadores, ela depende até mais de quem recebe do que de quem passa. Se o sujeito levanta a cabeça e só vê adversários (porque seus companheiros estão todos "escondidos" ou mal colocados), é obrigado a tentar driblar ou a dar um chutão para a frente.
O jogo do São Caetano flui e envolve o adversário, portanto, graças aos vários fatores mencionados acima: qualidade dos jogadores de meio-campo, movimentação constante de quem está sem a bola, sentido coletivo do jogo.
Mesmo que perca o título da Taça Libertadores para o Olimpia, o São Caetano deve ser visto como um ótimo exemplo.
Merecem aplausos sua direção (pela política inteligente de contratações e por pagar em dia os salários dos atletas, algo que deveria ser a regra, mas não é), seu treinador Jair Picerni (que manteve o padrão de jogo da equipe do ABC paulista apesar das mudanças no elenco) e seus jogadores (que não são estrelas, mas jogam um futebol eficiente e bonito de ver).

Fim da novela
A decisão do STJ de permitir à CBF que organize o Brasileirão com os clubes classificados para o torneio me pareceu fundamentalmente correta. No aspecto imediato, foi beneficiado o Figueirense, que, apesar da irregularidade da invasão de torcida em seu último jogo na Série B, tem mais legitimidade para subir à Série A que o Caxias, protagonista de um vergonhoso "cai-cai" em jogo com o Avaí. Mas o mais importante é o sentido duradouro da sentença, que deve arrefecer a tendência de clubes e políticos de abusar das liminares e de outros recursos jurídicos. Mesmo que as reivindicações fossem legítimas, esse tipo de guerra judicial estava truncando e, no limite, inviabilizando o processo de organização e estabilização dos torneios. Agora cabe à CBF fazer a sua parte, estabelecendo regras claras para as competições e cumprindo-as.

E-mail jgcouto@uol.com.br



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