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Santo Grael
Herbert Knosowski/Associated Press
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Torben Grael em ação |
Torben conquista o segundo ouro do Brasil, torna-se o maior medalhista do país e escreve seu nome na história da vela e da Olimpíada
ADALBERTO LEISTER FILHO
GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADOS ESPECIAIS A ATENAS
Um forte abraço no parceiro
após a regata decisiva e alguns
sorrisos esporádicos. Nada que
desvie do padrão com que o sempre circunspecto Torben Grael
comemora suas
vitórias na vela.
Mas o triunfo
de ontem, logrado na baía de
Agios Kosmas,
em Atenas, colocou o velejador paulista, radicado em Niterói, em um pedestal nunca antes ocupado por um atleta do país.
Ao lado de Marcelo Ferreira, ele
conquistou o ouro na classe star
com uma regata de antecipação.
É a quinta medalha olímpica
que pendura no peito, a segunda
de ouro. Nenhum outro praticante da modalidade construiu uma
carreira tão premiada.
O recorde no número de pódios
pertencia ao dinamarquês Paul
Elvström, que subiu quatro vezes
ao lugar mais alto, entre 1948 e
1960 -as provas de vela começaram nos Jogos de Paris-1900.
Aos 44 anos, Torben se torna o
primeiro atleta brasileiro a ganhar
status de herói olímpico.
Outros bicampeões nacionais
que deixou para trás, como o colega Robert Scheidt e o triplista
Adhemar Ferreira da Silva, não
chegaram ao mesmo patamar no
cenário internacional.
"A Olimpíada tem um gosto especial para mim. Ganhar uma disputa dessas é muito difícil. Nós
contamos com a sorte", conta.
Na verdade, não só com isso.
Torben e Marcelo, juntos em
competições desde 1989, investiram na criação de um barco diferenciado e conseguiram uma
consistência invejável no torneio.
Nas dez regatas que disputaram
no mar grego, ficaram fora do
grupo das nove melhores embarcações apenas uma vez -justamente na primeira etapa de ontem, quando terminaram em 11º.
Na seqüência, uma quarta colocação assegurou o título.
"Sabíamos que a regularidade
definiria o campeão em um torneio desses", diz Torben.
Desde 1976, ele coleciona títulos
nacionais e continentais em quase
todas as classes da vela.
Nos Jogos, concentrou-se em
dois barcos. Com o soling, foi prata em Los Angeles-1984. No star
levou o bronze em Seul-1988
(com Nelson Falcão como parceiro) e Sydney-2000. O outro ouro
apareceu em Atlanta-1996.
Esse é outro fato que abrilhanta
ainda mais o seu recorde. A star é
a embarcação mais técnica da
Olimpíada, a que reúne a nata dos
atletas da modalidade.
"É para onde os campeões de
outras categorias costumam rumar quando se julgam experientes. Não é exagero dizer que se trata de um ninho de cobras", explica Lars Grael, coordenador técnico da seleção em Atenas.
O currículo recheado deu credencial para Torben se aventurar
nos torneios de vela oceânica.
Ele já participou da America's
Cup como tático do veleiro italiano Prada. A prova é disputada em
embarcações com mais de 15 m
de comprimento e considerada a
mais complexa do gênero.
Próximo desafio: encarar uma
volta ao mundo na Volvo's Ocean
Race, com uma equipe brasileira.
"Mas antes temos um Brasileiro
da star pela frente, agora em setembro. Nem vai dar tempo de
comemorar muito esse ouro
olímpico", conta Torben.
O ouro de ontem também despachou o nadador Gustavo Borges e o isolou no posto de maior
medalhista olímpico do Brasil.
Serviu também para ratificar a
vela como esporte mais premiado
do Brasil em Olimpíadas -a modalidade já rendeu 14 pódios.
Curiosidade: Torben tem como
ídolo o próprio Elvström, "por ser
um homem que sempre andou à
frente do seu tempo".
A Folha contatou o ex-velejador
dinarmaquês anteontem. Educadamente, informou que não gostaria de aparecer. "Eu tenho evitado me expor nos últimos anos.
Por isso peço que entenda o fato
de eu não conceder a entrevista".
Aos 76 anos, ele sai de cena e
abre espaços para novos ídolos.
Torben Schmidt Grael, brasileiro,
mostrou em Atenas que o trono
vai ficar em boas mãos.
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