São Paulo, sexta-feira, 27 de agosto de 2004

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VELA

Velas têm mesmo desenho das de Atlanta-96, e quilha foi projetada por computador

Barco high-tech criado pela dupla, "Vida Bandida" vira trunfo na água

DOS ENVIADOS A ATENAS

Mais moderno que os demais, o barco de Torben Grael e Marcelo Ferreira conserva uma tradição. "Vida Bandida", escrita na parte de trás da embarcação, é a epígrafe que a dupla sempre utiliza.
"Batizar o barco de "Vida Bandida" foi uma idéia que tive com meu parceiro anterior ao Marcelo, o Nelson Falcão. Não gosto de falar sobre isso, mas posso dizer que me identifico muito com as palavras", afirmou Torben, fazendo mistério.
Se o nome é antigo, a roupagem é ultramoderna. A vitória de Torben e Ferreira nas raias de Agios Kosmas, em Atenas, começou a ser desenhada longe de Niterói.
No começo do ano, no estaleiro Lillia (Itália), a dupla projetou para a embarcação uma nova quilha (peça estrutural básica do casco), com acabamento computadorizado, sem contato humano.
"Ela é mais precisa do que as demais", destaca o treinador da dupla, Walter Böddener.
O barco também conta com velas diferenciadas. Para chegar ao que queriam, Grael e Ferreira testaram 12 conjuntos, até encontrarem o que os agradou e foi utilizado nos Jogos, de acordo com as condições do vento grego.
A embarcação tem duas velas: a maior e a de buja. Ambas foram projetadas para a disputa olímpica tomando por base o desenho utilizado em Atlanta-96, quando os brasileiros conquistaram a sua primeira medalha de ouro.
"Não dá nem para perceber as alterações. São detalhes. Mas, quando todos são somados, fazem a diferença", diz Torben.
A primeira vela foi confeccionada na Itália. A menor foi encomendada nos EUA. O objetivo de tanta precisão é captar mais vento, impulsionando o barco à frente e dando vantagem nas regatas.
"Esse trabalho envolveu várias pessoas. Treinamos muito e testamos todos os equipamentos possíveis para conseguirmos chegar a esse patamar", destaca Ferreira, sem esquecer de brincar com as dificuldades enfrentadas pelos brasileiros na Grécia.
"As pessoas pensam que a Vila Olímpica é uma orgia. Nós saímos às 8h para velejar e só voltávamos às 20h. Não vemos ninguém", disse ele, que virou campeão olímpico quase por acaso.
A guinada em sua vida começou em 1988, quando conheceu o italiano Domennico Lillia. Açougueiro e dono de um pequeno estaleiro em Como, ele o levou para a Itália para ajudar a comercializar embarcações.
Velejador de fim de semana, o futuro proeiro começou a testar os produtos do patrão. "Ganhava US$ 500. Não dava para quase nada", lembra Ferreira, sobre o início dos anos 90, quando trabalhava no estaleiro. A experiência ao menos serviu para aprimorar seus conhecimentos técnicos.
Torben, por sua vez, havia vivido dificuldades grandes em sua primeira Olimpíada, em Los Angeles-84. "Corria na soling, com o Ronaldo Senft e o Daniel Adler. Nosso veleiro, o "Sausalito", não passou na medição. Emprestamos o barco reserva da equipe inglesa. Conquistamos a prata e eles ficaram em quarto", diz ele, que pouco depois conheceria Ferreira.
Em 1989, começaram a velejar juntos. E o pequeno estaleiro, que havia prosperado, tornou-se um trunfo para a futura dupla bicampeã olímpica. (ADALBERTO LEISTER FILHO E GUILHERME ROSEGUINI)


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