TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Há no Brasil milhares de crianças e também adultos (principalmente mulheres), iniciantes amantes do futebol, que gostariam de entender melhor o esporte mas não conseguem.
Os conceitos e a terminologia são muito confusos.
A sorte das crianças é que ainda existem pais pacientes e apaixonados pelo futebol.
Vamos imaginar um diálogo entre um menino curioso e seu pai:
- Pai, me explica uma coisa: se o Campeonato Brasileiro tem 26 times, por que não são 13 jogos por rodada, num total de 25 e não de 29 rodadas, como atualmente? Todos os times teriam sempre o mesmo número de partidas.
- É um mistério. Deve haver uma explicação lógica, matemática. Ninguém é tão masoquista e/ou confuso para fazer uma tabela só para contrariar os torcedores, a imprensa e os meninos curiosos.
- O meu professor de matemática também não conseguiu entender. Ele disse que é coisa da TV Globo.
- Pode ser. Nem aqueles loucos por futebol do programa da ESPN Brasil sabem porque são 26 equipes e 29 rodadas.
- Será que eles não usaram conhecimentos revolucionários da matemática; consultaram o Bill Gates ou se basearam na tal da teoria da relatividade?
- É isso. O número de equipes é relativo. Tudo é relativo, filosofou o pai.
- Vamos mudar de assunto. Existe diferença entre lateral e ala?
- Muitos narradores falam como se fosse a mesma coisa, mas não é. O ala é o armador pelo lado, que ataca e defende. Ele só existe nos times que jogam com três zagueiros. O lateral faz parte da linha de quatro defensores. As vezes, os dois de confundem. Há muito lateral que atua como um ala, e ala que joga de lateral.
- Por que o zagueiro direito é chamado de central e o esquerdo de quarto-zagueiro?
- Antigamente jogava-se com dois zagueiros pelos lados e um no centro. Aí, recuaram um jogador do meio-campo para a zaga. Ele passou a ser o quarto-zagueiro, e o outro zagueiro continuou a ser chamado de central.
- Não entendo as diferenças entre volante, armador defensivo, ofensivo meia de ligação, meia-atacante, ponta-de-lança, atacante e centroavante. É muito confuso.
- Volante é o armador defensivo que auxilia os zagueiros e laterais. Não pergunte a razão do nome volante. Meia de ligação é o armador mais ofensivo que organiza ou desorganiza o meio-campo. Meia-atacante é o que joga entre o meio-campo e o ataque. Atacante é o que atua na frente e desloca-se para os lados e as vezes recua para receber a bola (antigo ponta-de-lança). Centroavante é o atacante pelo meio que fica próximo e ou dentro da área. As vezes não sai do lugar nem molha a camisa. De vez em quando empurra a bola para dentro do gol.
- Onde está a segunda bola que os narradores falam tanto? Só enxergo uma.
- Quando alguém chuta ou cruza pelo alto, há uma disputa e a bola cai. Essa é a segunda bola, a do rebote. É uma forma de expressão. Qualquer dia vão inventar a terceira bola. Dizem que o Tostão jogava sem bola. Como pode?
- Por que os times brasileiros fazem tantas faltas e os jogadores e técnicos falam tanto em pegada?
- Muitos treinadores acham que o time só vence se parar a jogada, pegar o adversário. Pegam a canela, tornozelo e outras partes sensíveis do corpo. Como um técnico copia o outro, a partida fica chata, feia e truncada.
- Qual a diferença entre habilidade, técnica, talento e criatividade? Alguns jornalistas esportivos misturam tudo.
- A técnica é o conjunto de fundamentos básicos (passe, drible, finalização, domínio da bola, desarme etc). A habilidade é o uso da técnica diante de um obstáculo. A criatividade é a capacidade de improvisar, inventar e surpreender. O talento é a reunião de tudo isso. Cada atleta se destaca mais por uma dessas características. O grande craque é o que possui todas essas qualidades em um alto nível.
- Então, um jogador pode ser muito habilidoso e ter pouca criatividade. Parece craque mas não é.
- É isso, vou dormir. Amanhã vou votar. Está em jogo o futuro do Brasil.
- Vote certo, pai. Você sabe de quem estou falando.

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