São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 2008

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SONINHA

Pelo direito à alegria


Subir é obrigação, mas precisa ser conquistada. Obrigação cumprida, comemorai, corintianos!

HÁ QUEM defenda que título da Série B não merece comemoração. Como o ex-presidente Alberto Dualib: "Temos que ir para casa quietos". Imagine, que desperdício de alegria...
"Eu comemorava título mundial, brasileiro...", prosseguiu, na versão 2008 do "eu ganhei, vocês perderam". Como se não tivesse responsabilidade alguma pelo descenso. Aliás, Dualib garante: "Comigo não cairia". O que quis dizer com isso?
Que entraria em campo para bater pênaltis, subir na área nas cobranças de escanteio, anular o principal jogador adversário com marcação impecável? Ou, usando de suas, ahn, prerrogativas, tomaria algum outro tipo de providência para evitar resultados desfavoráveis?
Outros que pensam como ele se recusaram a ir ao estádio durante toda a temporada. Há casos de mágoa sincera, renitente, mas alguns fizeram muito esforço para não dar o braço a torcer no sábado. Sorriram no sofá, deram um silencioso soco no ar, saíram à janela apenas para apreciar o fim de tarde, não para curtir a brisa do acesso...
A subida antecipada pode tirar esse pessoal do armário do fingido nem-te-ligo. "Agora que voltou para a Série A, de onde nunca devia ter saído, tem a obrigação de ser campeão! Quero ver! Nada de salto alto, nada de se contentar com pouco!" E sairão de casa com uma camisa (antiga!) e se misturarão à massa dos vestidos de "Não pára, não pára, não pára", "Nunca vou te abandonar", "Eu voltei"... Com saudade de roer as unhas, de ter medo de verdade (já pensou terminar o ano sem o título?), secretamente orgulhosos de pertencer à turma que se distingue exatamente pela fidelidade nos momentos difíceis.
Também há quem diga que cair é bom. "Às vezes, a Série B traz humildade e busca de valores que estavam esquecidos", disse Mano Menezes.
Mas disse também que "os clubes grandes não precisam passar pela Série B do Nacional para se reestruturar". Ou não deveriam precisar...
Não deveriam se crer imunes, inatingíveis. Deveriam saber que no esporte é assim: dinheiro ajuda, mas sozinho não resolve; sorte interfere, mas não se deve contar com ela; um passado de glórias não conta pontos na tabela. Uns ganham e outros perdem e os que perderem mais do que os outros têm de pagar sua pena, conforme regras definidas.
O pior é que não há garantia de que os efeitos da passagem pela B sejam duradouros. Quantas vezes já acreditamos que um vexame brasileiro em Olimpíada ou Copa do Mundo seria o catalisador das mudanças necessárias na estrutura do futebol, e elas não vieram? Assim como no intervalo do jogo, não tem nada ganho. O segundo tempo está sempre em aberto na vida.
De todo jeito, aprendemos algumas coisas nestes últimos anos. Que o torcedor é perfeitamente capaz de se envolver apaixonadamente na disputa por pontos corridos. Que nem sempre a definição é precoce, especialmente no Brasil, e até uma conquista antecipada pode acontecer sem que o campeonato perca a graça. Que cair é um drama, mas não a morte. Que vale a pena seguir as regras e nossos dirigentes são capazes disso também. Que é possível e bonito subir no campo.

soninha.folha@uol.com.br


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