|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SONINHA
Pelo direito à alegria
Subir é obrigação, mas precisa ser conquistada. Obrigação cumprida, comemorai, corintianos!
|
HÁ QUEM defenda que título
da Série B não merece comemoração. Como o ex-presidente Alberto Dualib: "Temos
que ir para casa quietos".
Imagine, que desperdício de
alegria...
"Eu comemorava título mundial,
brasileiro...", prosseguiu, na versão
2008 do "eu ganhei, vocês perderam". Como se não tivesse responsabilidade alguma pelo descenso.
Aliás, Dualib garante: "Comigo não
cairia". O que quis dizer com isso?
Que entraria em campo para bater
pênaltis, subir na área nas cobranças
de escanteio, anular o principal jogador adversário com marcação impecável? Ou, usando de suas, ahn,
prerrogativas, tomaria algum outro
tipo de providência para evitar resultados desfavoráveis?
Outros que pensam como ele se
recusaram a ir ao estádio durante
toda a temporada. Há casos de mágoa sincera, renitente, mas alguns fizeram muito esforço para não dar o
braço a torcer no sábado. Sorriram
no sofá, deram um silencioso soco
no ar, saíram à janela apenas para
apreciar o fim de tarde, não para
curtir a brisa do acesso...
A subida antecipada pode tirar esse pessoal do armário do fingido
nem-te-ligo. "Agora que voltou para
a Série A, de onde nunca devia ter
saído, tem a obrigação de ser campeão! Quero ver! Nada de salto alto,
nada de se contentar com pouco!" E
sairão de casa com uma camisa (antiga!) e se misturarão à massa dos
vestidos de "Não pára, não pára, não
pára", "Nunca vou te abandonar",
"Eu voltei"... Com saudade de roer as
unhas, de ter medo de verdade (já
pensou terminar o ano sem o título?), secretamente orgulhosos de
pertencer à turma que se distingue
exatamente pela fidelidade nos momentos difíceis.
Também há quem diga que cair é
bom. "Às vezes, a Série B traz humildade e busca de valores que estavam
esquecidos", disse Mano Menezes.
Mas disse também que "os clubes
grandes não precisam passar pela
Série B do Nacional para se reestruturar". Ou não deveriam precisar...
Não deveriam se crer imunes, inatingíveis. Deveriam saber que no esporte é assim: dinheiro ajuda, mas
sozinho não resolve; sorte interfere,
mas não se deve contar com ela; um
passado de glórias não conta pontos
na tabela. Uns ganham e outros perdem e os que perderem mais do que
os outros têm de pagar sua pena,
conforme regras definidas.
O pior é que não há garantia de
que os efeitos da passagem pela B sejam duradouros. Quantas vezes já
acreditamos que um vexame brasileiro em Olimpíada ou Copa do
Mundo seria o catalisador das mudanças necessárias na estrutura do
futebol, e elas não vieram? Assim como no intervalo do jogo, não tem nada ganho. O segundo tempo está
sempre em aberto na vida.
De todo jeito, aprendemos algumas coisas nestes últimos anos. Que
o torcedor é perfeitamente capaz de
se envolver apaixonadamente na
disputa por pontos corridos. Que
nem sempre a definição é precoce,
especialmente no Brasil, e até uma
conquista antecipada pode acontecer sem que o campeonato perca a
graça. Que cair é um drama, mas não
a morte. Que vale a pena seguir as regras e nossos dirigentes são capazes
disso também. Que é possível e bonito subir no campo.
soninha.folha@uol.com.br
Texto Anterior: São Paulo: Sob novo status, clube busca recorde Próximo Texto: Superliga coloca regras à prova Índice
|